Sesc SP

Iniciando o ano com reflexão, o Sesc Carmo realiza projeto "Somos Rosa!", que homenageia o centenário de morte de Rosa Luxemburgo, com o objetivo de dar luz às questões relacionadas à participação política das mulheres, seus lugares de fala e direito a voz. De 14 a 18 de janeiro, professoras, estudiosas, artistas e ativistas conduzem uma série de palestras, além de um show de encerramento com a rapper Preta-Rara, que contará com a participação de Bia Ferreira.

“Rosa ainda tem algo a nos dizer”, disse a doutora em Filosofia (USP) Isabel Loureiro, que inaugurou o projeto apresentando uma breve contextualização sobre a vida e obra da filósofa e economista polaco-alemã, acompanhada de Christiane Gomes, mestre em Comunicação e Cultura (USP), que traçou um paralelo entre a atuação de Luxemburgo e a participação política da mulher na contemporaneidade. Ambas são colaboradoras da Fundação Rosa Luxemburgo. O encontro teve mediação de Ioná Damiana, assistente técnica na Gerência de Estudos e Desenvolvimento do Sesc São Paulo.

Foto: Patrícia Ribeiro

Luxemburgo (1871-1919) foi fundadora do Partido Social-Democrata polonês e líder da ala esquerda da Social Democracia alemã. Iniciou sua militância desde cedo e dedicou sua vida a política. Para ela, nenhuma sociedade é livre, sem que todos os indivíduos sejam livres, intelectualmente autônomos e emancipados.

Um dos pontos centrais de sua atuação, incita que a massa se torne líder de si mesma, visto que apenas ela pode se emancipar. Para Isabel Loureiro esse pensamento também foi frutífero para o feminismo, já que, da mesma forma, apenas as mulheres podem emancipar a si mesmas.

Isabel Loureiro. (Foto: Patrícia Ribeiro)

Com duas unidades na América Latina, uma em São Paulo e outra em Buenos Aires, a Fundação Rosa Luxemburgo, atua com foco na defesa de direitos, transparência e democracia. Christiane Gomes, que além de coordenar a área de comunicação da fundação, também é coordenadora de dança do bloco afro Ilú Obá de Min, citou a formação de comunidades a partir do encontro, do afeto e da empatia. Formado por mais de 400 mulheres (e muitas crianças), o grupo cria um espaço de valorização da cultura negra por meio de oficinas de percussão, dança, perna-de-pau e canto, resultando em dois grandes cortejos na cidade de São Paulo.

Além das mulheres atuantes no projeto, Christiane também aponta para as centenas de mulheres que acompanham o grupo à distância, e diz que esse espaço de sociabilidade propõe o fortalecimento de afetos e de cuidado. No encontro proporcionado por ele, é possível discutir a questão racial a partir do protagonismo da mulher negra, além de proporcionar às mulheres brancas um espaço para refletir sobre seus privilégios.

“Somos um grupo formado por mulheres. Não nos declaramos um grupo feminista”. Christiane identifica que tratar da luta da mulher com um todo, sem a especificidade dos feminismos é algo que se assemelha ao pensamento de Luxemburgo, ainda que ela enfatize a diferença das demandas da mulher trabalhadora em relação à mulher burguesa.

Trazendo reflexões sobre outras lutas femininas, os dias que seguem contarão com a programação a seguir:

Olhares Femininos e Participação Política da Mulher – 16/1, às 17h.

Joyce Miranda Leão Martins aborda as mulheres nos espaços de poder e reflete a ausência da diversidade de olhares, demandas e perspectivas, na elaboração de leis, políticas públicas e programas sociais. Kelli Mafort discute o feminismo camponês e popular, e a trajetória da organização das mulheres nos acampamentos e assentamentos do MST. A atriz Renata Carvalho também estará presente nos trazendo leituras dramáticas de cartas e trechos da obra de Rosa Luxemburgo. Todo o bate-papo será mediado pela poeta e técnica da programação socioeducativa do Sesc 24 de Maio, Bárbara Esmênia.

Mulher Negra: Descolonização e Resistência – 16/1, às 17h.

Erica Malunguinho aborda as relações em torno da questão racial e de gênero, através de sua vivência aliada ao conhecimento adquirido por meio da militância e da cientificidade acadêmica. Zézé Motta fala sobre a representação da mulher negra nas mídias e a artista Michelle Mattiuzzi apresenta a performance audiovisual "A Dívida Impagável", que saúda as poéticas da escrita negra. A mediação fica por conta da doutoranda em Ciências Humanas e Sociais (UFABC) e técnica de programação na mesma área no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, Dulci Lima.

Mulheres, Territórios e Subjetividades – 17/1, às 17h.

A líder do povo Guarani Mbya, da aldeia indígena Tenonde Porã, localizada na zona sul da capital paulista, Jera Guarani apresenta seu olhar sobre a formação de lideranças indígenas femininas e jovens nas aldeias, enquanto Raquel Rolnik, urbanista, arquiteta e professora da FAU-USP, fala sobre a territorialidade e as relações entre a mulher e a cidade. Marina Herrero, assistente técnica da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc São Paulo, indigenista e gestora cultural, será responsável pela mediação do encontro.

*Palestras com vagas esgotadas. Caso haja inscritos ausentes, as vagas remanescentes serão disponibilizadas aos interessados por ordem de chegada.
 

>> Encerrando o projeto, a rapper, historiadora, turbanista, modelo plus size e influenciadora digital, Preta-Rara apresenta um de seu último álbum, "Audácia”, contando com a participação de Bia Ferreira.