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Você conhece, sim!
Música de câmara está mais perto dos seus ouvidos do que você imagina.
Para não tomar muito do seu tempo, listamos algumas obras de compositores presentes no repertório dos grupos que se apresentam no Festival Sesc de Música de Câmara. Com certeza, você já ouviu uma delas - só estava esperando alguém te contar que, sim, és um ouvinte de música de câmara!
1. Cânone de Pachelbel
Nesta obra do alemão Johann Pachelbel (1653-1706) para três violinos e um baixo contínuo, os violinos vão entrando executando a mesma sequência, com uma distância de dois compassos - não é difícil, é só dar o play que você vai entender.
Familiar, não?
Pois é, esta obra tocou à exaustão depois de um revisionismo do período barroco que aconteceu na década de 70. Mas, se liga, dos '70 pra frente, Pachelbel influenciou um pessoal que é barroco no sentido "diferentão" da palavra.
Se o Pet Shop Boys cantando sobre a finada URSS em cima de uma música do Village People, cuja melodia é o próprio cânone de Pachelbel, não é "diferentão", a gente já não sabe mais o que é.
Pachelbel também não imaginava que permaneceria "jovem pra sempre" na música do Alphaville - dá-lhe anos 80 diferentão e barroco!
2. Sinfonia no. 9 - Allegro con fuoco - Antonín Dvorák
Você pode falar "divoráque" ou "divórjac" - a gente te acolhe de qualquer jeito.
Tcheco de nascença, Dvorák passou um período importante de sua vida como diretor do Conservatório Nacional de Música da América, em Nova York. Nesta época, amplificou seus estudos de coleta de música tradicional dos povos indígenas - já fazia este trabalho na sua Boêmia natal. As saudades de casa, o contato com um estudante que o apresentou aos cânticos afro-americanos e que também afirmou que ele havia absorvido "espíritos" antes de escrever suas melodias, fizeram Dvorák compor sua Sinfonia Nº. 9 em Mi menor (Op. 95), popularmente conhecida como Sinfonia do Novo Mundo, em 1893.
Se você viveu/vive no planeta terra nos últimos 50 anos, já topou com alguma trilha de John Williams dentro de um filme de Steven Spielberg e pode atestar que os mesmos espíritos que deram a letra para Dvorák continuaram pairando nos EUA, na trilha de Jaws (Tubarão) quase 100 anos depois, em 1975.
3. Suite Punta del Este - Astor Piazzolla
Piazzolla é uma instituição argentina. É quase como se fosse um Tom Jobim mais dramático. E diferente de Carlos Gardel, era argentino de verdade - rá! Você não sabia que Gardel era francês, né?
Pois bem, voltando à Piazzolla: trata-se da principal referência da história do tango ao lado do famigerado Gardel. Aos 28 anos já possuía uma longa carreira no meio tanguero. Com 18 anos ingressou como bandoneonista na principal orquestra de tango de então - orquestra Anibal Troilo e em pouco tempo se tornaria seu arranjador. Porém via-se como mero músico popular de um gênero ainda marginalizado. Nessa época abandona o tango e passa a compor peças que não se enquadravam no gênero. Como esta aqui debaixo, trilha do filme "Os 12 Macacos", de Terry Gilliam.
Se você se lembra que não entendeu nada do filme, seguramente também se lembra da trilha de Piazzolla.
4. Danças Hungaras - Johannes Brahms
Uma das figuras mais bacanas da história da música, o alemão Johannes Brahms teve uma carreira complexa: virtuose desde pequeno, acompanhava o pai contra-baixista nas cervejarias, fazendo música noite adentro. Numa dessas excursões, conheceu os Schumann, Clara e Robert, e engatou com eles uma franca e tórrida amizade. Já ao final da sua vida, ajudou compositores mais novos como Dvorák e Mahler.
Suas danças húngaras assinalam uma tendência que se tornaria muito forte ao final do século XIX - e que vimos em Dvorák - de pesquisa da música tradicional como manancial de inspiração à música de câmara, sinfônica e assim adiante. As danças variam de 2 a 4 minutos e são dos trabalhos mais populares e rentáveis de Brahms - será que você já ouviu uma delas por aí? A mais famosa é esta aqui:
Se você não sabe onde ouviu, talvez, Carlitos lhe dê uma luz.
Ou os 3 porquinhos:
5. Für Elise - Ludwig van Beethoven
Pouco se sabe e muito se estudou sobre a origem desta música: alguns atestam que Beethoven a havia composto para Therese Malfatti, uma paquera sua e que, por conta da sua péssima caligrafia, a obra foi editada com o nome de "Para Elisa" (Für Elise). Também aventam a possibilidade de ter sido uma homenagem do compositor à sua amiga e cantora Elisabeth Röckel, esposa de Johann Nepomuk Hummel.
O que a gente sabe, com acuidade, é que se trata da música do gás.
M-Ú-S-I-C-A D-O G-Á-S - foi mal, Ludwig.
Esses compositores todos estão presentes no repertório dos grupos do Festival Sesc de Música de Câmara - que tal se programar para ouvir mais dessa música? A programação completa está aqui!
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A segunda edição do Festival Sesc de Música de Câmara acontece entre 22 de novembro e 4 de dezembro de 2016, em 11 Unidades do Sesc na capital, interior e litoral, além de espaços como a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, no centro de São Paulo e o Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera. São 12 conjuntos convidados, 47 concertos e uma intervenção, mais de 120 intérpretes, em repertórios que vão do antigo ao contemporâneo, em abordagens inovadoras. Para conferir a programação completa, clique aqui.