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Prazer, Adélia.
Neste dia da Consciência Negra resgatamos a trajetória de Adélia Sampaio, a primeira cineasta negra do Brasil.
É difícil mensurar a importância da cineasta para o cinema nacional. Assim como adjetivá-la sem cair em clichês.
Porém, por uma injustiça sem precedentes, seu nome raramente é encontrado nos livros que contam a história do cinema nacional.
E, para piorar, parte do seu acervo sumiu misteriosamente do MAM do Rio de Janeiro.
Ela que começou trabalhando como telefonista, foi maquiadora e chegou a continuísta em uma distribuidora, acabou tornando-se a primeira diretora negra a produzir um filme, o longa “Amor Maldito” que, em plena ditadura militar, contava a história de uma relação homoafetiva entre uma executiva e uma ex-miss, filha de um pastor protestante.
O filme foi recusado pela Embrafilme, precisou ser realizado em formato de cooperativa e ser classificado como pornográfico, já que essa foi a única maneira encontrada para que ele fosse exibido, após a recusa dos donos de cinemas.
Sua obra é marcada por assuntos como amor, violência e problemas sociais e suas as influências vão de Chaplin a Oscarito.
Antes do Cinema da Retomada (período dos anos 90 em diante, marcado pela explosão de mulheres cineastas protagonisado por nomes como Carla Camuratti e Norma Bengell) Adélia já tinha participado na produção de diversos filmes importantes, como por exemplo, O Segredo da Rosa (1974), dirigido por Vanja Orico, trabalhando na produção executiva e também como uma das roteiristas. Já em 1977, produziu o último filme de Luiz de Barros, o lendário Lulu de Barros: Ele, ela, quem? E por fim, produziu com Geraldo Santos Pereira o filme O seminarista (1977), dirigido por ele.
Trinta e dois anos depois do lançamento desse trabalho, podemos ver que pouca coisa mudou no que diz respeito à representatividade da mulher negra no cinema nacional: números do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mostram que, de 2002 a 2014, homens brancos dominaram o elenco principal das 20 maiores bilheterias de cada ano. Ao todo, eles representam 45% dos papéis mais relevantes. Depois vêm mulheres brancas (35%), homens negros (15%) e, por último, mulheres negras (apenas 5%). Em 2002, 2008 e 2013, simplesmente nenhum filme analisado pelos pesquisadores foi protagonizado por uma mulher negra.
Adélia Sampaio durante a palestra "Adélia Sampaio, a diretora negra que marcou o cinema nacional", que aconteceu no Centro de Pesquisa do Sesc, em Outubro desse ano.