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Memória e Destruição

Os Globos da Morte formando o símbolo do infinito, numa estrutura prestes a desabar.
Os Globos da Morte formando o símbolo do infinito, numa estrutura prestes a desabar.

Os artistas plásticos Nuno Ramos e Eduardo Climachauska são parceiros de longa data. E dentro desse universo de colaborações, não é difícil apontar que Globo da Morte de Tudo, que acontece no Sesc Pompeia, seja uma das propostas mais radicais já criada pela dupla.

Ao centro de uma estrutura de metal em forma de cubo com cerca de seis metros de altura, dois globos da morte sobrepostos formam o símbolo do infinito. Ao redor dos Globos, se estendem quatro prateleiras forradas por toda espécie de objetos, divididos em quatro categorias.

Na categoria Nanquim se encontram objetos ligados à morte e luto - como relógios, radiografias e moldes de gesso de arcadas dentárias.
A categoria Cerâmica se conecta ao rural e arcaico com materiais de construção, instrumentos agrários e objetos de argila.
O luxo e a sensação de se estar fora de moda fazem parte da categoria Porcelana, repleta de objetos de decoração, talco e perfumes.
E a categoria Cerveja elenca temas ligados à vida cotidiana como ventiladores, instrumentos musicais e equipamentos esportivos.

Mesmo com a organização por categorias proposta por Ramos e Clima, Globo da Morte de Tudo é um caótico inventário com cerca de 1500 objetos. Entre as peças adquiridas, doadas e objetos pessoais dos artistas, a obra grandiosa busca de forma obsessiva resignificar itens comuns do nosso dia a dia e para os quais não damos a mínima atenção.

Mas a inusitada coleção é apenas parte da obra. Após um mês de exibição, dois motociclistas pilotaram suas motos dentro dos globos da morte sobrepostos, fazendo com que o frágil equilíbrio que sustenta as prateleiras fosse posto em xeque. Após a catarse promovida pelos pilotos, a exposição seguiu seu rumo e tem o encerramento previsto para domingo, 6 de novembro. Contudo, na terça, dia 8, às 20h, a exposição ganha sua peça de despedida, com o retorno da dupla de pilotos para mais uma vez girar suas motos dentro dos globos da morte da instalação.

Discutindo de forma irônica temas como o consumismo, acumulação e memória afetiva, o Globo da Morte de Tudo desafia o público a repensar nossos fetiches em relação aos objetos que nos cercam.