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Oficina discutiu temas relacionados à mídia, direitos humanos e periferia
Oficina discutiu temas relacionados à mídia, direitos humanos e periferia

Antes de compartilhar, você analisa se a informação é verdadeira?  A oficina Você Repórter , do Sesc Campo Limpo, refletiu sobre os cuidados ao divulgar uma informação e a responsabilidade sobre a produção de conteúdos

A internet possibilita que qualquer pessoa seja criadora de conteúdo. As redes sociais são ambientes onde internautas do mundo inteiro postam, em tempo real, suas opiniões sobre os mais diversos assuntos; política, esporte, religião, entre outros. Esse grande fluxo de publicações geram indagações como: o que é notícia e o que é fofoca?

A oficina Você Repórter discutiu esse assunto no Sesc Campo Limpo e foi ministrada por Thiago Borges, integrante do coletivo Periferia em Movimento. Os encontros trataram de temas relacionados à mídia, direitos humanos e periferia, com o objetivo de refletir sobre os cuidados que todos devem ter ao divulgar uma informação e a responsabilidade sobre a produção desses conteúdos, que alcançam muitas pessoas.

O que é Jornalismo e o que um Jornalista faz?

A dinâmica da oficina levantou questionamentos sobre qual a função de um jornalista e qual é o objetivo da profissão. Os participantes foram separados em dois grupos, e deveriam responder a essas perguntas em forma de desenho para, depois, apresentarem aos outros.

As ilustrações feitas mostraram ideias que iam desde desenhos de uma banca de jornal e um globo terrestre, até desenhos que representam como a população recebe informações jornalísticas por meio dos diversos veículos de notícias. A partir disso, um debate se iniciou com orientações sobre os passos básicos para a produção de conteúdo, explicando o que é pauta, como estruturá-la, como se preparar para uma entrevista e qual a diferença entre interesse público e interesse do público.

Um dos momentos que gerou maior impasse entre os participantes foi a dinâmica “é notícia ou fofoca?”,  em que o Thiago dava um exemplo de manchete jornalística e perguntava se, de fato, era uma notícia relevante ou se era somente boato. O exercício demonstrou a linha sutil que separa uma coisa da outra e, assim, despertou a curiosidade dos jovens, que começaram a discutir sobre vários assuntos partindo dessas diferenças de informações.

“Trabalhar com jovens é muito interessante porque os debates são mais quentes, são assuntos que todos têm uma opinião para dar, mas sempre estão abertos a receber novas informações e repensar as suas opiniões. Isso enriquece muito as conversas, nunca é algo monótono, e a gente acaba sempre tendo que controlar o tempo pra conseguir dar conta de tudo o que é proposto”, relata Thiago.

 

Programação esportiva como pauta

Depois de conhecer as maneiras de construir uma pauta e desenvolver perguntas para entrevistas, os participantes saíram pela unidade para colocar em prática o que aprenderam. O que mais estava em evidência era a comunicação visual e as atividades realizadas para o projeto Sesc Verão 2016, das quais muitas crianças participavam. Dessa forma, pessoas que participavam da programação foram abordadas para entrevistas que tinham como objetivo a busca pelo entendimento do que era rotina esportiva para essas pessoas e o porquê de frequentarem o Sesc Campo Limpo.

Essa prática possibilitou entender como é o trabalho do repórter em campo, o trabalho que o jornalista tem para obter informações e disseminar o que aprendeu com os entrevistados. “As pessoas falaram das atividades, algumas disseram também sobre o que gostariam que tivesse no Sesc. Nos contaram o que gostam de fazer, o que buscam e o que aprendem na unidade. Ouvi muitos relatos e isso é gratificante, a disponibilidade que a pessoa teve de contar um pouco de suas vivências”, conta Renata Santos, uma das participantes da oficina.

 

Descobertas Construtivas

A estudante Carol Capucho, que também participou da oficina, conta que “a experiência foi produtiva e possibilitou aprender sobre ética no jornalismo, como é feita a pauta de uma reportagem e como conduzir uma entrevista fazendo as perguntas certas”. A estudante também falou sobre as respostas surpreendentes que não estavam na pauta planejada, “abordamos pessoas que estavam na unidade e assim começamos a questiona-las sobre os assuntos e, em alguns momentos, elas que nos surpreendiam com as respostas”, finalizou.

Durante os três encontros, as pautas e perguntas foram sendo aprimoradas, e as entrevistas reunidas em depoimentos dos entrevistados no decorrer da atividade, que foram postados nas redes sociais do coletivo Periferia em Movimento, com algumas fotos do processo. Renata conta que o resultado foi gratificante e que aprendeu muito com os outros participantes, “tivemos a oportunidade de falar e ouvir opiniões e expor ideias. Foram aprendizados tanto teóricos como  práticos”. Gabriel Ribeiro complementa que participar da oficina foi muito interessante, pois aprendeu a real influência e importância de um repórter.

 

Multiplicação cultural

A ideia de cursos como este é abrir portas para o contato com linguagens que o jovem não conhecia. Além de aproximá-los a coletivos como o Periferia em Movimento, e outros que não refletem necessariamente sobre as mídias, encontros como esse promovem o acesso à cultura, que motivam o desenvolvimento crítico, criador e inclusivo propostos por unidades do Sesc, saraus independentes dos bairros onde vivem e outros centros de encontros culturais. Thiago comenta que já presenciou o nascimento de frentes de criação independente após ter ministrado oficinas como essa; “especificamente um curso que fizemos o ano passado com um grupo de adolescentes, acabou gerando um coletivo de jovens que se propõe a fazer documentários sobre temas que eles consideram importantes na quebrada onde moram”.

Integrante do Periferia em Alta, jornal criado pelos jovens do Movimento Comunitário Estrela Nova, dançarina do Grupo de Dança Corpo e Molde  e com um trabalho pessoal escrevendo poemas para a página Poemas Reheron, Renata explica que vai poder acrescentar o que aprendeu na oficina a esses projetos que já faz parte. “Posso repassar as vivências que obtive na prática com as entrevistas, criando pautas para novas matérias, formando um conteúdo interessante, estar atenta às informações que passo adiante, discutindo sobre temas que possam ser trabalhados de uma forma mais dinâmica e também ter um entendimento maior sobre a forma como publico os textos e faço as divulgações”, conta.

Para o Periferia em Movimento, esse é ainda um trabalho de base que necessita de parcerias como a do Sesc Campo Limpo para alcançar mais pessoas. Com o depoimento dos participantes pode-se perceber que o efeito é muito positivo e duradouro, que pode desde levar o conhecimento adiante, em outros projetos, até abrir portas para que esses jovens possam se envolver mais com outros grupos das periferias onde vivem.

 

Periferia em Movimento

O coletivo Periferia em Movimento surgiu como um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que Thiago Borges, Aline Rodrigues e Sueli Cordeiro fizeram na faculdade de jornalismo. A partir de um incômodo com a forma que a periferia era retratada em alguns veículos de mídia, de uma forma superficial, estereotipada e focando principalmente na violência, resolveram fazer um blog para mostrar a cultura e a diversidade das “quebradas” onde vivem, no extremo Sul de São Paulo.

Hoje o blog virou um site que fala, principalmente, sobre pessoas e movimentos que estão à frente de lutas pela garantia dos direitos das periferias. “Sejam artistas, coletivos, movimentos sociais, organizações, ou indivíduos que mobilizam outras pessoas por meio de ações. O objetivo é disseminar e dar visibilidade para essas lutas em várias frentes como cultura, identidade, mobilidade, moradia, gênero e sexualidade, meio ambiente, educação, trabalho e renda, saúde, contra o genocídio nas periferias e a favor da democratização da mídia”, explica Thiago.
 

Confira os relatos que foram reunidos em depoimentos no decorrer da atividade aqui

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