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Cidadania
Crianças voluntárias
Projetos de coleta seletiva de lixo e conservação do meio ambiente ensinam cidadania e solidariedade para crianças
Responda rápido: você sabia que é possível comprar um computador com latinhas de alumínio? Ou que a simples separação do lixo reciclável pode ajudar pessoas com câncer? Ou, ainda, que ensinar às crianças a importância da reciclagem pode transformar a vida no planeta? Certamente, essas perguntas não são recorrentes no dia-a-dia das pessoas, mas, graças a projetos voltados ao meio ambiente e com o bem-estar da sociedade, elas começam vir à tona. São iniciativas que unem reciclagem, educação ambiental e trabalho voluntário, transformando o lixo em "moeda social". Esse é o objetivo do Instituto Recicle Milhões de Vidas, que, além de contar com o apoio da Fundação Filantrópica Safra, da Vega Engenharia Ambiental e do Corpo de Bombeiros, conta com a participação espontânea das crianças que participam do Projeto Curumim, do Sesc Carmo
Implantado em fevereiro deste ano no Posto de Bombeiros da praça do Poupatempo (região central de São Paulo), e em outras localidades, o projeto constitui-se na instalação de cestos para a coleta seletiva de lixo reciclável (papel, plástico e vidro). O material recolhido é levado até as fábricas responsáveis pela reciclagem e o dinheiro obtido com a venda do material é revertido para a Associação para Crianças e Adolescentes com Tumor Cerebral (TUCCA).
Curumins conscientes
As crianças que participam do Projeto Curumim do Sesc Carmo são orientadas a coletar, separar e lavar o material reciclável recolhido em suas casas. Todas as segundas-feiras, o resultado da coleta é levado até o Corpo de Bombeiros. E o que as crianças ganham com isso? Se olharmos do ponto de vista material, nada. Mas se nos atermos aos valores de cidadania e solidariedade, muito.
Além de transformar a tarefa numa divertida brincadeira, as crianças aprendem, de forma lúdica, como lidar com o lixo e ainda como ajudar o próximo. A fim de agregar mais valor ao aprendizado, os curumins já visitaram empresas que reciclam os quatro tipos de elementos (papel, plástico, alumínio e vidro) e aprenderam corretamente a lição de casa: tudo pode ser reciclado.
Um dos resultados mais diretos do projeto é a conscientização que leva, por exemplo, as crianças a pleitear aos pais que reutilizem potes de plástico e garrafas de vidro como utensílios domésticos. "Eu falei com os meus pais e eles começaram a separar o material. Mas com o que eu não uso em casa e nem trago para ser reciclado faço brinquedos, como um cata-vento com o fundo da garrafa plástica", conta Charles Viana dos Santos, de 10 anos, que, em companhia da irmã Nitchelly, recebe apoio em casa para levar a proposta adiante.
O projeto já trouxe algumas mudanças pequenas, porém significativas, no que diz respeito à mudança de atitude. Após participar de uma palestra e descobrir quanto tempo leva para um copo descartável ser totalmente decomposto, o jovem Tiago dos Santos Gonçalves, de 11 anos, indicou uma solução para o problema ambiental: no dia seguinte, apareceu com uma caneca trazida de casa e decidiu que não usaria mais os copos plásticos. No decorrer dos dias, outros colegas foram seguindo seu exemplo e, hoje, o grupo não usa mais copos descartáveis. "Não queremos apenas incentivar a reciclagem, também queremos combater o desperdício", explica Nivanda Maria dos Santos, instrutorado Curumim e entusiasta do projeto.
Irene das Graças Venâncio, mãe dos curumins Leonardo e Letícia, engajada na atitude dos filhos, conta que sua consciência sobre o lixo e a reciclagem mudou muito desde que as crianças levaram a proposta. "Outro dia, após o jantar, olhei para a mesa e pensei: 'Imagine se tudo isso fosse para o lixo reciclável, como a cidade poderia estar mais limpa'. Mas, graças ao empenho e à cobrança dos meus filhos, hoje eu passo a mensagem para todos à minha volta e pego lixo até na rua", conta.
O garoto Charles, fazendo eco com o que diz a monitora, não deixou dúvida quanto à sua consciência sobre como está contribuindo: "Para mim, ajudar o meio ambiente e as crianças com câncer é muito importante".
Latinhas que valem ouro
Um computador Pentium, uma televisão de 29 polegadas, uma máquina de xerox e material para os alunos de baixa renda é o que os estudantes da E. M. E. F. Barão do Rio Branco, em Santos, já conseguiram com a reciclagem. Há cerca de três anos, a escola se inscreveu num programa da Latasa, empresa de reciclagem que troca latinhas por prêmios. O computador e a televisão foram trocados por latinhas, que os alunos recolheram durante um ano inteiro. Para o computador, por exemplo, foram necessárias 134 mil latinhas.
Segundo a coordenadora pedagógica da escola, Renata Paulino da Silva Fonseca, trata-se de "uma maneira encontrada para estimular as crianças a fazer a coleta". Com essa iniciativa, a escola conseguiu provar que a união e o trabalho voluntário podem reverter em benefícios a toda comunidade. Já existe, na comunidade da escola, uma mobilização que, por um lado, ajuda as crianças em sua empreitada e, por outro, muda os hábitos domésticos e desperta para uma maior noção de coletividade. "Eu participo desde que entrei para o primário", conta a estudante de 9 anos, Priscielle Nathalie Ferreira. "Sempre que posso, saio com a minha mãe pegando latinhas perto de casa." Para Renata, essa atitude é muito importante porque, além de ajudar a conservar o meio ambiente, as crianças aprendem a valorizar o que conquistam. E, acima de tudo, iniciativas como essa atingem o ponto principal para um futuro melhor.