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A Satyrologia de Rodolfo García Vásquez
Sessão encerrada.
Após uma plateia lotada acompanhar a peça que garantiu o prêmio APCA de 2014, o ato final de Pessoas Perfeitas foi também o parágrafo inicial para as linhas de prosa com o Diretor da Cia Os Satyros, Rodolfo García Vásquez.
A peça e a conversa abriram o especial do Sesc Piracicaba, Os Satyros em Perspectiva, projeto com 4 espetáculos e oficinas, que imergem na poética do grupo a plenos pulmões.
Objetos cênicos espalhados pelo chão e desencaixes de cenário deram condimento ao papo com o diretor sobre a concepção ígnea de uma das cias mais importantes do País.
A mediação foi da atriz e diretora Fátima Cristina Monis, orientadora de Artes Cênicas do Sesi Piracicaba:
“O bate-papo com Rodolfo García Vázquez ajudou-nos a conhecer a companhia, sua fundação, seus trabalhos, os caminhos percorridos pelo grupo nestes anos, trouxe-nos a história, contextualizou a pesquisa desenvolvida por eles. Percebemos o quanto Os Satyros, desde seus primórdios, pratica um teatro engajado, tratando de temas tabus da sociedade e colocando em cena artistas que vivem à margem do teatro tradicional. Na oficina vivenciamos, sentimos e experimentamos as pesquisas do teatro expandido, performatividade e devising.”
Vásquez falou sobre como o grupo se estrutura, se adapta, apontando que algumas montagens recebem aporte financeiro e outras não.
“Não acreditamos em atores e não atores, a arte é um espaço democrático. Temos um grupo fixo e também convidados. O mais importante é o vínculo vital com aquilo que está sendo encenado, a verdade.”
“Nosso teatro é um espaço muito pequeno, nossos cenários são bem portáteis”
Indissociáveis, Satyros e Praça Roosevelt se enredaram nas palavras de Vásquez:
“Em 1989, no início, éramos um grupo de teatro tradicional. A partir de 2003 começamos a imprimir uma mudança, percebendo aquele ambiente e seus personagens. Os travestis não nos queriam por lá, pois atrapalhávamos a clientela, já os traficantes nos ameaçavam de morte”
Mas insistiram, ficaram e não morreram, e muito do que se vê nas montagens são espelhos das figuras que circulam pela Roosevelt.
Relembrou Vásquez:
“Certa vez aconteceu um papo entre duas travestis. Phedra, uma cubana com seus 65 anos (e que mais tarde se juntou ao grupo) debatia com a colega:
- Sim, ele era invisível, um marciano de pênis imenso que acabei de transar...
Ouvindo o relato, Phedra logo esclareceu:
- Imagina marciano, era um Exu!
Após exemplificar a riqueza de temas que brotam daquele mundo de concreto, asfalto, luar e pessoas o diretor respondeu o porquê da Praça Roosevelt:
“A gente se identifica mesmo com a escória. Avenida Paulista e Ipanema a Globo pode cuidar”
Participantes da oficina, o ator Henrique Mello e o diretor falaram sobre a experiência do projeto: