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O som e o cinema segundo Kiko Dinucci

O autodidata Kiko Dinucci<br>Foto: Mario Miranda Filho</br>
O autodidata Kiko Dinucci
Foto: Mario Miranda Filho

Em março, o CineSesc oferece o curso O Som e as Fronteiras da Imagem, já com vagas esgotadas, com o artista Kiko Dinucci. Mesmo nos holofotes com a banda Metá Metá, Kiko também é cineasta e ilustrador (veja alguns trabalhos aqui) - e tudo ao mesmo tempo, como um bom autodidata. Na entrevista a seguir, ele conta como é seu processo criativo e o papel primordial que o som tem no seu trabalho.

CineSesc - Na sua experiência profissional, como cineasta e músico, em que momento você percebeu que poderia, sim, fazer as duas coisas?
Kiko Dinucci - Eu sempre fiz tudo ao mesmo tempo, bem como aprendi tudo que faço de maneira autodidata, aprendendo na rua, na prática. O único problema é chegar ao fim de cada projeto, é preciso focar para não se perder no meio do caminho.

Cine - Você pode dar dicas de filmes com trilhas e sons importantes?
Kiko - Eu gosto mais dos sons de um filme do que da música de um filme. No curso eu falo do som, de como o som pode ajudar a expandir o que a imagem quer expressar. De som off, mixagem, efeitos psicológicos. A tela tem um formato retangular limitado, formado por luz, sombra e movimento. O som liberta essa imagem retangular, o som passeia pela sala, te penetra, te agride, faz com que você não saia incólume da sessão. Nas aulas, mostro uma série de cenas de diretores como Hitchcock (Janela Indiscreta, Os Pássaros), Jacques Tati (Play Time, Trafic), Godard (Acossado, Je Vous Salie Marrie), Fritz Lang (M), Coppola (A Conversação). São filmes e diretores que, ao meu ver, apresentam desenhos sonoros que são definitivos para a composição do filme. Cito também Kaneto Shindô, Jacques Tourneur, Sam Peckinpah, Jafar Panahi, Rogério Sganzerla e outros nomes.

Cine - Quais são as suas principais referências?
Kiko - Minhas referências não são apenas do campo da arte, tenho meus pais, minha irmã, meu filho. Na arte eu tenho referências da arquitetura, teatro, pintura, poderia ficar um dia citando nomes… Mas, ok, vamos lá, posso citar John Cassavetes, Jacques Tatit, Tsai Ming-Liang, Rogério Sganzerla, Kenji Mizogushi, Godard, Jean Rouch, Eduardo Coutinho, Luís Sergio Person, Roberto Santos, Orson Welles, Hitchcock, Jairo Ferreira, Adirley Queirós, Andrea Tonacci, Kaneto Shindô, José Agripino, Ozualdo Candeias, Shuji Terayama, Shohei Imamura e Glauber Rocha.

Cine - Temos muitos estudantes de cinema que frequentam os cursos do CineSesc. Pensando neles, e numa possível junção entre música e a sétima arte, que formação complementar você indicaria? Que leituras são essenciais?
Kiko - O cineasta francês Abel Gance dizia que o cinema é a música da luz. No entanto, música pode ser mais coisas do que  a simples junção de ritmo, melodia e harmonia, música é som e som pode ser tudo que vibra e chega aos nossos ouvidos, ruídos, barulhos. Sendo o cinema a soma de todas as artes, os estudantes de cinema terão que estudar sete vezes mais, teatro, artes plásticas, literatura, fotografia, arquitetura, histórias em quadrinhos, música e sobretudo exercitar o pensamento sobre todas essas linguagens. Quando digo estudar, não se restringe a leitura de livros ou cursos universitários. De uma maneira mais ampla, me refiro à vida, à rua, ao exercício, à prática, à investigação, à curiosidade, e claro, aos riscos.


Curso "O Som e as Fronteiras da Imagem"
No CineSesc nos dias 10 e 13 de março.
Vagas esgotadas.