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Natureza pulsante
Na Land Art as intervenções se configuram na relação do artista com a paisagem e seus recursos
Intervir na natureza tendo como instrumentos seus próprios recursos, entre eles folhas, galhos, pedras, frutas, areia, e formar a partir dela o seu trabalho. Em resumo é essa a ideia seguida pelos artistas que desenvolvem suas criações em Land Art (ou Earth Art/Earthwork).
Realizadas em locais como desertos, montanhas, cânions e planícies, as obras podem ser pequenas e se perder na imensidão do ambiente ou ser tão vastas quanto o espaço em que se inserem. “A Land Art originou-se na década de 1960 com a proposta de recriar e remodelar a paisagem”, explica a ilustradora e artista visual Laís Bicudo. “De modo geral, fundamenta-se nas práticas experimentais que têm como elemento essencial a estreita relação entre homem, paisagem, sítios naturais e principalmente a ruptura com os espaços institucionais.”
Relação com o cotidiano
Pensar o espaço e a intervenção nos lugares é um dos pontos estimulantes para os realizadores desse tipo de intervenção. Para Marcelo Moscheta, artista visual e vencedor do Prêmio Pipa (Prêmio Investidor Profissional de Arte) em 2010, o objetivo é procurar os lugares mais inóspitos e fazer uma transposição desse material para o espaço museológico. Os artistas que se aventuram nessa prática também se mostram dispostos a viajar e a experimentar as diferentes paisagens. É o caso de Moscheta, que já esteve em regiões tão distintas quanto o Polo Norte e o Deserto do Atacama. “O objetivo é realizar uma mistura de observação científica e ficcional, Land Art e práticas orientadas pelo lugar”, diz.
Laís acrescenta que, atualmente, criadores – como Moscheta – levam características específicas da Land Art para suas obras: “É uma proposta de trabalho com a natureza, com experiências de deslocamento e experiência frente ao mundo”. Em outras situações, o processo artístico é similar ao fazer arqueológico, questionando, principalmente, as fronteiras de um território.
Outra característica desse tipo de trabalho é alternar expressões manuais – desenho, pintura, gravura, escultura – com os recursos das mídias de vídeo e fotografia. No entanto, é preciso ter um bom planejamento, já que cada material exige um modo de trabalho. “Acho que as mídias oferecem suporte para o ato principal”, opina Moscheta, que está compondo uma instalação com rochas que chegam a pesar 60 quilos cada uma.
Um artista admirado neste círculo é o britânico Richard Long, que em A Line Made by Walking (performance, 1967) tem no ato de caminhar sua prática estética. Nesses passeios, ele também reúne elementos orgânicos para reorganizá-los em espaços museológicos.
Laís acredita que por meio dessas intervenções na natureza os artistas questionam a forma pela qual moldamos a paisagem no dia a dia e como isso interfere na vida das pessoas. “Esse tipo de manifestação liga-se ao nosso cotidiano porque os artistas usam o deslocamento como um dos principais meios de experiência para a criação de suas obras e sua relação com a natureza”, explica.
Observar e construir
Exposição revela o processo conceitual e estético do fotógrafo Rodrigo Braga
Além de fotografias registradas em biomas de diferentes regiões brasileiras – Amazonas, Pernambuco e Rio de Janeiro –, a exposição Agricultura da Imagem aproxima o visitante do processo criativo de Rodrigo Braga. Juntamente com as imagens, é possível visualizar o modo de trabalho do fotógrafo por meio de seus desenhos e croquis, que são apresentados como uma espécie de gabinete do artista.
Nas andanças para fazer as suas fotografias, Braga foi registrando em memória e nos desenhos o que via, sempre acompanhado por uma câmera. Para ele, esse material tem um caráter de aquecimento, pois a foto começa a se mostrar nessa observação. Mas por ser tão íntimo, não havia cogitado a possibilidade de expô-lo, atitude que foi tomada pela intervenção do curador Daniel Rangel. “Ele me convenceu a expor. Nunca falei isso antes para ninguém. O Daniel se debruçou sobre os trabalhos, visitou meu ateliê diversas vezes e até entrou na mata comigo”, conta Braga.
E a ousadia valeu a pena. O fotógrafo diz que essa é a parte que vem rendendo mais comentários do público. “Pelo que tenho ouvido, o que as pessoas enfatizam é justamente a junção da exposição das fotografias e das mídias, o que dá a ideia do processo, e as pessoas se surpreendem com o desenho. Acaba sendo uma exposição não só da obra, mas da pessoa”, confessa.
A curadoria de Rangel se estendeu por um ano e priorizou criar uma relação de confiança com o artista, sempre mantendo o seu olhar de pesquisador: “Queria vasculhar não só com ele, mas o universo dele. Sempre tive essa premissa de descobrir algo que nem nós mesmos sabíamos o que era”. Em sua visão, era mais importante mostrar a relação do fotógrafo com o desenvolvimento e a construção das imagens. “Queria mostrá-lo como um construtor da imagem, ou seja, o fotógrafo que constrói, mais do que o fotógrafo da performance”, define Rangel.
A exposição Agricultura da Imagem pode ser vista no Sesc Belenzinho até 30 de novembro.