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No espelho, um palhaço
O texto que convidamos você a ler logo abaixo poderia ser apenas mais uma história, assim como o circo poderia ser apenas uma lona, porém, sabemos que não é! E é por isso que transformamos a entrevista que Teófanes Silveira, mais conhecido como palhaço Biribinha, concedeu à EOnline, em um conto
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A chegada do circo sempre foi um acontecimento em qualquer cidade: mulher barbada, malabaristas, mágicos, palhaços. Daquela vez algo estava diferente, não se sabe ao certo o que aconteceu, alguns culpam o calor escaldante de Pernambuco. Fato é que o palhaço teve o seu coração derretido pela bela recepcionista do hotel. Papai e mamãe apaixonaram-se. Menos de dois meses, estavam casados e assim minha história começava.
Os anos passaram e as cidades que conhecíamos aumentavam tanto quanto a minha idade. Já tinha sete anos e, com a cara pintada pela primeira vez, o via como meu maior espelho. A partir de Angra dos Reis (RJ), passei a ser o palhaço Marcelino, depois Augustus e mais tarde Biribinha.
A família havia aumentado e o trabalho também. A vida no circo não é fácil, levantar mastro, montar lona, pegar peso, desmontar lona, abaixar mastro! A hora das refeições era um momento como os que o palhaço sonha em ver seu público sentir. Lembro que as raízes nordestinas nunca nos abandonaram. Cuscuz, macaxeira, galinha, carne de bode, hum! Nada era mais esperado do que as famosas panquecas da Ditinha (mamãe havia entrado para a trupe, mesmo depois de 27 anos resistindo, e agora era conhecida por Ditinha Silveira).
O público deve achar que nós, os saltimbancos, somos felizes o tempo todo. Alguém já viu algum palhaço chorar de verdade no picadeiro? Pois é, já quase me vi acabando com essa mística dos bufões. Quando papai adoeceu, passei a fazer as apresentações com meu irmão. Eu não me via mais no espelho, agora eu era o próprio.
Numa noite, pouco antes da apresentação, chegou uma mensagem pelo emissário da companhia telefônica. Nosso autor, criador, patrono, líder, marido e pai havia abaixado a lona.
Guardei essa informação no meu peito e atrás da minha maquiagem. Afinal o que diria o palhaço Biriba original se eu não fizesse aquelas pessoas sorrirem como ele fez durante tantos anos? Contei a todos ao final do espetáculo: público e familiares.
Pensando bem, acho que ali desmistifiquei um pouco o artista circense. Ninguém imagina os sentimentos que se passam atrás das cortinas, quando até o pipoqueiro já foi para sua casa.
Esta poderia ser a história de Biribinha, mas prefiro que seja a de Teófanes.