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Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira

Making of da exposição 'Mais de mil brinquedos da criança brasileira'
Making of da exposição 'Mais de mil brinquedos da criança brasileira'

Mostra, que abre dia 9 de julho no Sesc Pompeia, integra as comemorações de aniversário de trinta anos do Sesc Pompeia e tem como referência a exposição criada pela arquiteta Lina Bo Bardi, responsável pelo projeto inovador da fábrica onde está instalada a unidade

Dia 9 de julho (feriado), a partir das 11 horas, o Sesc Pompeia abre Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira, exposição que homenageia a mostra Mil Brinquedos da Criança Brasileira no ano de inauguração do Sesc Pompeia, em 1982, montada pela arquiteta e curadora italiana Lina Bo Bardi, que projetou um dos espaços mais representativos e democráticos culturalmente na cidade de São Paulo. Lina, considerada modernista, é a criadora de outros importantes projetos arquitetônicos na capital paulista, incluindo o MASP – Museu de Arte de São Paulo.

Nesta edição, serão apresentados mais de 6 mil brinquedos, entre eles, aproximadamente, 200 itens expostos há 30 anos - incluindo uma boneca grega do século V a.C, feita de barro, e que estava na mostra de 82 - assim como peças de coleções particulares, artesanais e eletrônicas. Distribuídos em espaços temáticos, de acordo com o recorte curatorial de Renata Meirelles e Gandhy Piorski, a exposição será abrigada em uma área de 2 mil metros quadrados e conta com a direção de arte e cenografia de Vera Hamburger.

Para o Sesc, esta é uma ocasião especial de apresentar uma versão ampliada da primeira exposição que a unidade Pompeia acolheu e que, na época, foi muito significativa para a própria estrutura de organização de mostras voltadas para o público infantil. Agora, com a atualização do olhar sobre a infância, pautada a partir das formas de pensar o brinquedo, aquele produzido pela indústria, pelo artesão e também pelas crianças.

Para a coordenadora de programação do Sesc Pompeia,  Ilona Hertel, “os brinquedos trazem conteúdos diversos, reflexos da cultura, e padrões de comportamento, expresso, por exemplo, em  bonecas que apresentam modelos estéticos”. Ela explica, ainda, que esta exposição revela como é que a criança se relaciona com o brinquedo, intervindo e criando sua própria narrativa brincante, resultando em uma produção cultural. “É uma exposição que interessa às crianças, mas também aos pais e estudiosos”, destaca.

A diretora de arte Vera Hamburger apresenta de forma viva e instigante uma grande “fábrica de brinquedos” como ambientação da exposição, que inclui atividades interativas, a união da tecnologia contemporânea com a brincadeira e formas expositivas que proporcionam ao público experiências lúdicas. “Através dessa instalação, queremos provocar o movimento do corpo e os sentidos, que serão ativados pela curiosidade e pela surpresa”, ela antecipa.

O público poderá percorrer livremente os espaços, subir rampas, atravessar túneis, passar por esteiras rolantes, se deparar com efeitos ópticos inusitados e descobrir vitrines escondidas. A proposta dos curadores vai ao encontro do projeto de Vera Hamburger, partindo do olhar e da lógica lúdica que move a criança.  Para o pesquisador da cultura tradicional popular, Gandhy Piorski, “o objetivo é demonstrar o brinquedo em sua construção e desconstrução”. A educadora Renata Meirelles completa que, essa nova versão da mostra, “traz a perspectiva de como funciona a imaginação da criança brasileira”. Para isso, a exposição está agrupada em espaços que representam segmentos do imaginário infantil.

Resultado de meses de trabalho, “garimpo” dos curadores, que percorreram o país em busca das peças mais representativas de cada região, os brinquedos são provenientes de importantes coleções particulares, de instituições culturais como o Museu do Mamulengo (Olinda), Museu do Índio (Rio de Janeiro), Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi e Instituto Brinquedo Vivo (São Paulo), Museu dos Brinquedos (Belo Horizonte) e Centro Dragão do Mar (Fortaleza), e também do Acervo Sesc de Arte Brasileira. Além de expor a trajetória do brinquedo, compondo e recompondo seu papel e lugar na infância das gerações desde a década de 30, o projeto tem como desafio refletir sobre a brincadeira, a forma como o brincar vem sendo banido dos espaços societários como a escola, a rua, a praça, o quintal.

Faça um passeio por algumas imagens da exposição

Porém, a seleção das peças não pretende apenas mostrar uma parcela dos brinquedos que as crianças brasileiras utilizam, mas sim revelar como elas se apropriam desses objetos, mostrando aspectos da relação que as crianças estabelecem com esses brinquedos. Para isso, a mostra traz peças industriais, artesanais e construídas pelas próprias crianças. Há os brinquedos de miriti, confeccionados no Pará: artesanato com a fibra extraída da palmeira de miriti, técnica usada há mais de 200 anos por algumas famílias paraenses. As peças reproduzem utensílios utilizados pelos caboclos da floresta e bichos da região como jacarés, cobras e onças. A exposição traz também trabalhos de dois grandes artesãos parceiros do Sesc, Mestre Molina, já falecido e que chegou a ser funcionário do Sesc, responsável pela confecção de peças lúdicas para o Sesc Pompeia no período de 1986 a 1998, e o pernambucano Mestre Saúba.

Haverá também uma seção onde será possível acompanhar as etapas do processo produtivo de um brinquedo industrial: os moldes, as cabines de pintura e, por fim, o objeto finalizado. Contará ainda com espaços interativos, como a instalação “Mamulengo”, do designer, artista gráfico e animador Marcio Ambrósio, que desenvolveu um jogo específico para a mostra, onde um boneco de madeira ligado em um circuito elétrico, dentro de uma sala escura, ganhará vida por meio dos movimentos das pessoas que entrarem na sala e se movimentarem, tornando-os ator-marionetista e marionete.

Radamés Ajna, artista e consultor dos brinquedos tecnológicos da exposição, criou três trabalhos para a exposição: uma releitura de um jogo eletrônico ícone dos anos 70/80, com sensores que “atrapalham” o jogo entre duas pessoas; videogames portáteis que serão abertos como se tivessem explodido e que ainda assim poderão ser manuseados com seus componentes funcionando normalmente e um painel com blocos que funcionam com um sistema eletrônico interno, que quando conectados os sensores são ativados e as luzes acendem, transformando a “engenhoca” em uma brincadeira.

O artista Guto Lacaz também estará presente com sua obra inédita “Trigêmeos ciclistas”, feita exclusivamente para a mostra. A proposta é utilizar a força da água corrente para fazer girar uma roda d’água, fazendo movimentar um conjunto de três gangorras que estruturam três trilhos aéreos, sobre os quais três (mono) ciclistas andam de um lado para o outro ininterruptamente, parecendo bonecos minimalistas pendulares. Do brinquedo produzido no sertão até uma obra do artista Guto Lacaz, isso tudo e muito mais poderá ser visto em Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira, que seguirá até 2 de fevereiro de 2014.

Ficha técnica
Curadoria: Renata Meirelles e Gandhy Piorski
Direção de arte e cenografia: Vera Hamburger
Artistas: Guto Lacaz, Radamés Ajna e Marcio Ambrósio
Artesãos e aderecistas: Mestre Saúba, Mestre Molina, Ateliê Miriti da Amazônia e Atelier Cenográfico (Ângela Barbosa e Beto Paiva), Benito Teles, Grupo Giramundo, entre outros
Designers: Celso Longo e Daniel Trench
Light Designer: Guilherme Bonfanti
Arquitetura: Alvaro Razuk

10 Coleções presentes na Mostra (Instituições e Particulares)
Acervo Sesc de Arte Brasileira
Instituto Lina Bo e Pietro M. Bardi (SP)
Museu do Brinquedo (BH)
Museu do Índio (RJ)
Museu do Mamulengo (PE)
Centro Dragão do Mar (CE)
Instituto Brinquedo Vivo (SP)
Ana Caldatto (SP)
Flávio Pacheco (SP)
Renata Meirelles (SP)