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Um encontro marcado...
e os adolescentes estavam lá!

por Silvana Ambrósio Corrêa

Que pretensão! A busca do estímulo e prazer pela leitura e a escrita onde o acesso ao livro é dificultado pelo poder aquisitivo, pela distância entre formação, capacitação e atualização dos educadores e pela imposição da leitura curricular. Uma realidade constatada depois de um bom tempo de ações literárias eventuais e por meio de concursos literários cujos resultados denunciam diversas carências, principalmente quanto ao entendimento do processo de produção e de compreensão das obras envolvidas.

Então vamos lá! Um grande desafio! E a cada desafio uma constante na instituição: a criatividade, a busca do novo, o prazer em desbravar novos caminhos e transpor barreiras.

Formatar um projeto envolvendo estudantes e educadores com o propósito de colocá-los em contato com a produção literária de escritores contemporâneos e recebê-los para falar de sua produção não teria sentido sem um processo de preparação desse público.

Surgem os kits itinerantes de livros que levam as obras do escritor em pauta às escolas, às oficinas literárias nas quais estudantes e educadores são capacitados e assumem o papel de agentes multiplicadores em suas escolas de origem, e, finalmente, ao Encontro Marcado com o Escritor, em que o convidado é recebido para falar de seu processo de criação artístico-literária para um público que já teve contato com sua obra. 

Posteriormente, o blog www.fazerliterário.blogspot.com chega ao projeto como ferramenta que documenta suas ações. E a proposta que a princípio envolveria crianças recebe também os adolescentes, uma presença cada vez mais constante desde o início.

Trata-se do projeto Encontro Marcado com o Fazer Literário. Milagre? Como dizem, não se conta o milagre sem revelar o santo, e foram muitos: Ignácio de Loyola Brandão, Arnaldo Antunes, Lourenço Diaféria, Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar, Ziraldo, Adélia Prado, Walcyr Carrasco, Luiz Puntel, Marina Colassanti, Fernando Bonassi, Ana Maria Machado, Eva Furnari, Fanny Abramovith, Pedro Bandeira, Ricardo Azevedo, Menalton Braff, Fabrício Carpinejar, Daniel Munduruku, Marçal Aquino e Rubem Alves, santos que emprestaram sua produção e lá estiveram para consumar o fato.

Reitero: milagre? Não! Processo. Sistematização de ações que atendem às carências e necessidades da educação. Continuo pretensiosa e, em 2008, estávamos lá: na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, eu, as crianças, os adolescentes e eles, os escritores, dez dos vinte e um que passaram pelo Sesc Catanduva nesses nove anos do projeto.

De volta à minha cidade de origem, também viajo na imaginação e me pego sorrindo orgulhosa ao tentar mensurar a quantidade de crianças, adolescentes e adultos que passaram pelo projeto. Quantos teriam lido pelo menos um livro de cada escritor, quantas palavras novas agregaram a seus vocabulários, quantas crianças e adolescentes se formaram e estão se formando em contato com o livro, a escrita e o escritor?

Ainda em viagem, relembro particularidades do projeto que valem a pena dividir: um texto em braile resultante de uma roda de leitura, filas para autógrafos impressionando escritores, mostra de trabalhos emocionando-os, depoimentos e crônicas elogiosas dos escritores, comprometimento de educadores, secretarias de educação e, principalmente, a realização pessoal de crianças e adolescentes ao se depararem com o escritor, como se ele tivesse saído de suas histórias naquele momento mágico!

É muita emoção, é coração pulsando de realização profissional. Gratificante o resultado dessa ação processual, que agora tenho a possibilidade de compartilhar com os leitores e me orgulha ao constatar que estamos resgatando o hábito e o prazer pela leitura e a escrita, ampliando a visão de mundo e o conceito de cidadania dos participantes.



Silvana Ambrósio Corrêa, graduada em Educação Física, é técnica de programação do Sesc Catanduva