Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Uma influência que se renova

2009 é o Ano da França no Brasil. O objetivo é reforçar a integração

CECILIA PRADA


Cena do cotidiano de uma família brasileira no século
19, no traço de Debret / Reprodução

 A história do relacionamento entre a França e o Brasil pode ser contada a partir de um acontecimento ostentoso e original: uma festa brasileira realizada com grande pompa e circunstância na cidade de Rouen, capital da Normandia, no dia 1º de outubro de 1550, para honrar a visita àquela cidade dos reis da França, Henrique II e Catarina de Médicis. É um episódio que alguns historiadores preferiram descartar como "simples lenda", mas que outros inequivocamente validaram, baseados em documentação escrita da própria época e em obras sérias, como Uma Festa Brasileira Celebrada em Rouen em 1550, do historiador e viajante francês Ferdinand Denis, publicada em 1850, em Paris, e reeditada em 2007 pela editora Usina de Idéias. Afonso Arinos de Melo Franco, por exemplo, reconhece que essa festa "é talvez a mais interessante demonstração da frequência e importância das relações existentes no século 16 entre os povos primitivos do Brasil e a França".

A presença esporádica de franceses na costa do Brasil tem sido constatada como simultânea aos primeiros anos da colonização portuguesa, pois aqui vinham em busca do famoso pau-brasil, estabelecendo contatos muito amigáveis com os nossos índios. Apelidados de "maíras" por estes, os franceses praticavam um comércio de escambo, chegavam mesmo a aceitar mulheres índias como esposas e até constituíam famílias. Meio século mais tarde, por intermédio inclusive de viajantes que revelavam a natureza do "paraíso terreno" do Novo Mundo, nossos índios despertavam o maior interesse nas cortes europeias. No imaginário europeu eles representavam, mais que os da América do Norte, a idealização do "bom selvagem", que, segundo nos dizia em seus Ensaios Michel de Montaigne – em momentos em que esquecia alguns costumes seus desagradáveis, como a antropofagia –, podia dar à Europa "o modelo de uma sociedade sábia, porque sua vida era simples".

Nada mais oportuno, portanto – pensaram as autoridades de Rouen –, do que adicionar ao cortejo de acolhida à Corte abundantes pitadas do exotismo à la mode. Para isso mandaram buscar no Brasil um grupo de 50 silvícolas, aos quais juntaram 250 marinheiros, normandos e bretões, e também mulheres francesas, organizando já naquela época, para gáudio das cabeças coroadas ou populares, um grande préstito carnavalesco que pelo jeito serviria até de inspiração para os gloriosos desfiles do Sambódromo carioca de hoje.

Todos nus – salientam os cronistas da época – e pintados com urucum. Às margens do Sena foram construídas réplicas de aldeias, com representação de cenas da vida cotidiana dos índios, como caçadas, danças etc., e o concurso exótico da fauna brasileira, com papagaios, macacos, periquitos e araras. Não faltou na grande festa a apoteose final de uma batalha simulada entre tupinambás e tabajaras – os primeiros, amigos dos franceses, os outros, aliados dos portugueses e, portanto, "inimigos" da França. É transparente o que se podia deduzir da encenação dessa batalha: a rivalidade dos dois povos europeus na colonização dos territórios virgens de "ultramar".

Realmente, logo mais ocorreriam tentativas de estabelecimento efetivo de núcleos franceses, primeiro na baía de Guanabara, onde de 1555 a 1567 Nicolas Durand de Villegaignon criou e manteve a França Antártica, enfrentando várias expedições armadas dos portugueses, até que estes, comandados por Estácio de Sá, os expulsaram definitivamente, fundando a cidade do Rio de Janeiro. Em 1612, no Maranhão, Daniel de la Touche fundaria a França Equinocial, cuja capital, denominada Saint-Louis em homenagem ao rei francês Luís XIII, por volta de 1620 gradualmente se transformaria em núcleo português – hoje, São Luís permanece como a única capital do Brasil fundada por estrangeiros. Em 1710 e 1711, os corsários Jean-François Duclerc e René Duguay-Trouin , apoiados pelo governo francês, tentaram, separadamente, a aventura da invasão do Rio de Janeiro, logo debelada pelos portugueses. Duguay-Trouin chegou a instalar-se na cidade por dois meses, pilhando e semeando o pânico entre a população, mas o governador Francisco de Castro pagou um vultoso resgate ao corsário para liberar a cidade.

Desistindo de conquistas territoriais, a França desde o Iluminismo exerceu uma influência cultural muito grande sobre a incipiente intelectualidade do Brasil, ao mesmo tempo em que entre os dois países, do início do século 19 até hoje, foram se ampliando as relações comerciais e diplomáticas.

Missão ou caravana?

Uma das mais significativas contribuições da cultura francesa ao aprimoramento dos "nativos" de ultramar – a denominada Missão Artística Francesa, aqui aportada em 1816 sob os auspícios de dom João VI – tem sido questionada por alguns historiadores recentes, não em relação ao seu mérito, unanimemente reconhecido, mas a seu título de "missão". A ousada Lilia Moritz Schwarcz – que se compraz em puxar muitas históricas barbas – retomando em seu livro O Sol do Brasil (2008) uma visão já defendida antes por Mário Pedrosa e Donato Mello Júnior, empenha-se na desconstrução do "mito". Em sua opinião, os importantes pintores, arquitetos e artesãos do grupo seriam antes "autoconvidados" – e não teriam vindo, como queriam outros historiadores, por iniciativa do marquês de Marialva, aconselhado pelo naturalista alemão Alexander von Humboldt. Isso devido a uma situação de desconforto político experimentado pelos artistas franceses por serem bonapartistas convictos, em uma época em que a Restauração já recolocara no trono os Bourbon. O pintor Nicolas-Antoine Taunay teria então endereçado uma carta à rainha dona Maria I e o seu pedido seria visto com interesse por dom João VI, uma vez instalada a Corte portuguesa no Rio de Janeiro.

Líder da comitiva artística, aportada ao Rio em 26 de março de 1816, era o professor, administrador e legislador francês Joachim Lebreton, secretário recém-destituído (por suas ideias políticas) do Institut de France. Ele trouxe para o Brasil vários projetos artísticos, entre os quais o da criação de uma escola de formação de artistas, iniciativa acolhida e formalizada em decreto no mesmo ano pelo monarca, embora sua realização fosse sair do papel somente dez anos mais tarde. A Academia Imperial de Belas Artes, criada em 1826 já por dom Pedro I, seria a origem da Escola de Belas Artes ainda hoje existente. Apesar dos esforços oficiais para que os artistas europeus se sentissem bem no país, os membros da "missão" sofreram perseguições e foram alvo de intrigas deletérias – a começar pelas do cônsul-geral francês, o coronel Maler, que só conseguia ver em Lebreton e seus companheiros perigosos conspiradores que teriam vindo ao Brasil para organizar melhor um plano para libertar seu ídolo, Napoleão, do exílio em Santa Helena. A suas advertências preconceituosas somava-se a oposição dos artistas portugueses já instalados no Rio e que viam nos recém-chegados um perigo: a "modernidade".

Esse ambiente algo hostil acabou levando Nicolas-Antoine Taunay a decidir voltar para a Europa em 1821 – nos cinco anos que aqui permaneceu, trocando seus painéis históricos em honra de Bonaparte pelas mais detalhadas e encantadoras vistas da paisagem brasileira, criou uma tradição pictórica importante, que foi continuada pelos dois filhos que aqui deixou, Félix-Émile e Aimé-Adrien. O caçula, Aimé-Adrien, morreria tragicamente aos 25 anos, quando, como pintor da expedição do barão Georg von Langsdorff, afogou-se no rio Guaporé. Félix-Émile foi mais tarde diretor da Academia Imperial, e a família Taunay, estabelecida no Brasil, contou ainda com outras figuras ilustres – o escultor Auguste Taunay, irmão de Nicolas-Antoine; o escritor e musicista Alfredo d’Escragnolle Taunay (visconde de Taunay) e o historiador Affonso, seu filho.

O mais importante e popular pintor da leva, Jean-Baptiste Debret, aqui permaneceu até 1831 e criou as pitorescas e coloridas cenas da vida cotidiana brasileira que até hoje nos encantam e estão incorporadas definitivamente ao nosso patrimônio artístico. Dos arquitetos vindos com a missão, destacou-se Grandjean de Montigny, que elaborou o projeto da primeira sede oficial da Academia de Belas Artes (da qual atualmente só se conserva o pórtico) e da Praça de Comércio, que hoje abriga a Casa França-Brasil. Executou também importantes obras de saneamento e urbanização e formou cerca de 20 arquitetos que depois tiveram atuação destacada.

A primazia do charme

Ao contrário do que acontecia com outros países europeus, como Itália, Espanha e Portugal, para os quais a saída de uma substancial parte de seus cidadãos por motivos de penúria tornava-se um imperativo, a França não teve uma tradição de emigração em massa. No entanto, no imaginário francês o Brasil permanecia também como "terra de refúgio, de utopia", e durante todo o século 19 e parte do 20 foram numerosos os cidadãos franceses de classe média que aqui aportaram. Como se tratava de um tipo de imigração espontânea e de cunho bastante individual, esse aporte não teve um registro sistemático e tornou-se quase invisível em meio às grandes levas que chegavam de outros países europeus, do Oriente Médio e, mais tarde, também do Japão.

Para estudar esse assunto, muito pouco ou nada analisado até hoje, a Editora Edunesp acaba de lançar Franceses no Brasil – Séculos XIX e XX, uma coletânea de 30 artigos organizada pelos historiadores Laurent Vidal e Tania Regina de Luca. Examinando com uma lupa histórica documentos oficiais e a numerosa correspondência diplomática existente entre França e Brasil, os autores trouxeram para primeiro plano alguns aspectos pouco conhecidos das relações comerciais e de imigração entre os dois países. Podemos ver, por exemplo, a alternância por parte das autoridades francesas de uma recusa em reconhecer em seus cidadãos uma "necessidade de emigrar" com o interesse muito vivo, em outras ocasiões, em estimular seus cidadãos a estabelecer no Novo Mundo um comércio dos itens sofisticados de sua cultura – que iam de roupas, enfeites, perfumes e joias a livros. Como já atestava Debret em artigo publicado na França em 1834, dizendo que a moda francesa reinava nas terras do Brasil: "Como déspota, seus caprichos são leis: nas cidades, toaletes, refeições, dança, música, espetáculos, tudo é calculado a partir do exemplo de Paris..."

As relações de parentesco entre a dinastia dos Bragança e as famílias reinantes na Europa – especialmente os Bourbon – contribuíram, já no tempo do Império, para fortalecer os laços entre os dois países, representando o ramo brasileiro o papel de primos pobres, vistos como inferiores, uma espécie de "bons selvagens" cujas maneiras um tanto simplórias não haviam adquirido ainda o verniz protocolar exigido pelas cortes europeias. Quando, em 1843, o príncipe de Joinville veio ao Brasil tratar de seu casamento com a prima princesa dona Francisca, irmã de dom Pedro II, não hesitou em escrever ao diplomata francês barão Emile de Langsdorff (que não deve ser confundido com o já citado barão Georg von Langsdorff, alemão, que chefiou em 1824 a expedição do mesmo nome), solicitando que tanto ele como sua mulher o acompanhassem, pois sua noiva somente teria a lucrar "tendo junto dela uma dama puramente francesa, habituada ao convívio social, a seus modos, a essa polidez, a essa urbanidade que são para nós o emblema da boa sociedade".

No curso do século 19, os centros comerciais do Rio de Janeiro e de São Paulo se tornaram microcosmos do comércio de luxo parisiense, com estabelecimentos que copiavam até o nome dos famosos Le Bon Marché, Printemps, Au Paradis des Enfants, com superabundância de itens da moda, perfumes, enfeites. De 1860 em diante, com o apogeu do café, nossas cidades ganhavam o status de metrópoles – imitavam-se os estilos arquitetônicos e artísticos da França tanto nos edifícios públicos como nas residências, alargavam-se nossas avenidas segundo os padrões dos boulevards criados por Haussmann, em Paris. E, para escândalo das famílias, nasciam os bordéis de luxo, as salas de espetáculos, com cocottes e artistas de moral duvidosa abrilhantando os cabarés e divertindo os fazendeirões endinheirados. Difundiam-se os modismos literários e o uso do francês como língua diplomática e das pessoas "finas", a ponto de contaminar o português – como denunciavam os puristas. Em uma crônica da década de 1920, Monteiro Lobato criticava o "dialeto da Vila Mariana" (bairro da elite paulistana), responsável por textos como: "Aos domingos diners concerts chics prix fixe com menus delicados".

Experiências diferentes

A influência da cultura francesa, tanto em seus aspectos charmosos como no campo das ideias, não se restringiu aos grandes centros urbanos do país. De meados do século 19 ao início do 20, ela já chegara inclusive aos extremos de nosso território – à Amazônia, como nos explica Maria Luiza Ugarte Pinheiro em artigo sobre "a Paris das Selvas" (Manaus), na obra citada, da Edunesp. Durante todo o ciclo da borracha o anseio pela civilização esteve associado aos padrões franceses, da arquitetura (como a do Teatro da Ópera de Manaus) à moda – com manauenses elegantemente enfiadas em amplos chapéus emplumados, luvas e saias longas, torrando ao sol do trópico... Antes disso, em 1835 – diz-nos a autora –, as senhoras de Belém já invejavam a "liberdade das francesas", que podiam sair à rua sozinhas, e não como elas, sempre acompanhadas por um ou dois escravos.

Há registros de várias colônias agrícolas de imigrantes franceses, estimuladas pelo imperador dom Pedro II. Em artigo sobre o socialismo no Brasil, a historiadora Ivone Gallo nos conta, por exemplo, a história de um grupo de operários fourieristas vindos para o Brasil na década de 1840 e que fundaram na região do Saí, em Santa Catarina, um falanstério – modelo de comunidade agrícola autônoma ideado por Charles Fourier (1772-1837), um socialista crítico da Revolução Francesa, que, na sua opinião, fora apenas um fator de aprofundamento de problemas já existentes. O projeto desenvolvido a partir de 1840 por Benoit Mure associava as ideias de Fourier às do médico alemão Samuel Hahnemann, criador da homeopatia, e durou alguns anos, com levas sucessivas de imigrantes franceses vindas em 1841, 42 e 43, e contou desde o início com o apoio do imperador – cuja maioridade acabava de ser declarada quando Mure aqui aportou. O período foi marcado por insolúveis conflitos com os proprietários de terra e com trabalhadores rurais brasileiros que se viam preteridos pelos estrangeiros – uma história muito interessante, cujos primeiros fios apenas, como ressalta a autora do trabalho, foram puxados. Diz ela que em 1845, já dissolvidas as experiências dos falanstérios (o inicial desdobrou-se em dois), formou-se uma sociedade, chancelada pelo governo imperial – a Família Industrial –, que visava "o desenvolvimento de técnicas agrícolas e a educação dos adultos e dos menores seus associados". O projeto foi saudado pelo jornal "O Socialista da Província do Rio de Janeiro" como "a iniciativa do primeiro governo a reconhecer e adotar, até então, o socialismo como solução".

Outro aspecto das relações entre França e Brasil que merece ser ressaltado é o da acolhida que, desde o início do século 19, grupos de judeus mal tolerados na Europa – e originários principalmente da Alsácia-Lorena – conseguiram ter no Brasil. A liberdade religiosa aos estrangeiros fora firmada pelo príncipe regente dom João, em tratado feito com a Inglaterra em 1810, pouco depois da abertura dos portos. A partir de 1815, levas significantes de judeus vieram para cá, dedicando-se a projetos agrícolas, importação, comércio e artesanato. Durante o Primeiro Reinado, França e Brasil se relacionavam de forma tão amistosa que um servia de asilo para o outro, nos momentos de repressão – a exemplo do que ocorreu com os irmãos José Bonifácio e Martim Francisco Andrada, que se asilaram em Bordeaux, quando foram banidos do Brasil por dom Pedro I, em 1823.

A historiadora Fania Fridman – ainda na obra citada – analisa o assunto, mencionando também levas de judeus marroquinos de origem francesa que, desde as primeiras décadas do século 19, formaram "uma grande onda de imigração sefardita proveniente do norte da África e do Levante e, em menor medida, dos Bálcãs". Com a guerra franco-prussiana, o Brasil recebeu mais uma onda de imigração de asquenazes alsacianos, e dom Pedro II – contrariando o racista conde de Gobineau, embaixador da França – dizia: "Não combaterei os judeus, pois de sua raça nasceu o Deus da minha religião".

No século 20, nas décadas de 1930 e 40, com o crescimento do fascismo e com a 2ª Guerra Mundial, o Brasil acolheu numerosos imigrantes europeus, judeus ou não, que fugiam aos regimes autoritários, e serviu de asilo para artistas, professores universitários e intelectuais – como o escritor católico francês Georges Bernanos, que veio para cá em 1938, com a família, e até 1945 residiu em Barbacena (MG), onde continuou a escrever seus livros e tentou até ser criador de gado.

A difusão dos ismos

No dizer do filósofo Sergio Paulo Rouanet, "a influência da França no Brasil foi tão predominante que uma história da recepção das ideias filosóficas francesas se confunde, em grande parte, com a própria história da filosofia no Brasil". Os mestres do pensamento iluminista, Voltaire, Rousseau, Montesquieu, Mably, foram os mentores de nossa Inconfidência Mineira. E durante todo o século 19 as várias correntes de pensamento que nos vieram da França – diretamente ou por meio de Portugal – foram o pano de fundo da formação da sociedade brasileira. Toda a nossa literatura foi impregnada de influências francesas, principalmente no século 19. Nossos escritores que tentavam, após a Independência, criar uma literatura nacional beberam nas fontes do romantismo francês e mais tarde no realismo e no simbolismo – o único escritor a privilegiar fontes alternativas foi, já no último quartel do século 19, Machado de Assis, que causava espanto pelo seu conhecimento do inglês.

A partir de 1870, o positivismo de Auguste Comte passou a ser, no Brasil, o pensamento dominante e impregnou o movimento republicano. Ele pregava o culto do progresso pela ciência e transmitia a ideia de uma recuperação moral da humanidade, por meio de uma política científica. Essa mentalidade sobrepunha-se ao "bacharelismo" que até então caracterizara nossa educação e estabelecia fundamentos para o grande sonho republicano em que se empenhou a nova elite pensante – formada em grande parte por matemáticos e engenheiros e tendo ao fundo a Escola Militar. Nossa bandeira mantém até hoje um dístico de inspiração positivista: "Ordem e Progresso".

Durante todo o século 20, e até nossos dias, a influência do pensamento francês no Brasil prosseguiu – do espiritualismo cristão dos anos 1930/40 (Bergson, Maritain) ao existencialismo de Sartre do pós-guerra, ao estruturalismo, ao desconstrucionismo de um Derrida, à arqueologia do saber de um Foucault, ao lacanismo, ao marxismo revisto de um Althusser, à interdisciplinaridade de um Edgar Morin.

Um marco fundador de significância ímpar em nossa cultura – a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1934 – só foi possível com a vinda do que se chamou "a segunda missão francesa", a contratação de um grupo de 16 professores franceses que davam concorridíssimos cursos em seu idioma, o que prova a sua difusão entre nossos segmentos cultos. Hoje, os que falam francês são olhados com espanto – são os mais antigos, as aves raras da dilacerada cultura humanística, em uma época em que o idioma de Descartes, Molière, Flaubert, Proust foi descartado até no Instituto Rio Branco, nossa academia diplomática.


 Intercâmbio ampliado

O ano de 2009 é o Ano da França no Brasil, em contrapartida ao de 2005, que foi o do Brasil na França. É uma iniciativa conjunta dos dois governos, apoiada amplamente pelas instituições culturais e empresariais, com a finalidade de ampliar sobre novas e sólidas bases o intercâmbio entre os dois países. Duas datas foram escolhidas para começo e fim desse megaevento, iniciado em 21 de abril, evocando a Inconfidência Mineira, e com término previsto para o dia da Proclamação da República, 15 de novembro. A comissão encarregada de organizar as atividades comemorativas – sob a presidência do diretor-geral do Sesc-SP, Danilo Santos de Miranda – vem somando esforços e se esmerando na promoção de eventos de todos os tipos, conferências, espetáculos teatrais e de balé, ciclos cinematográficos, exposições, festivais e seminários, difusão de livros e promoção da vinda de personalidades de vários setores culturais ao Brasil.

Em 2005, o Ano do Brasil na França mobilizou mais de 2 milhões de franceses e obteve grande repercussão na mídia, resultando em um aumento de 27% no número de turistas franceses no Brasil e na exportação de mais de US$ 450 milhões em produtos brasileiros para a França. Espera-se que o ano de 2009 tenha resultados tão ou mais significativos para os dois países.

Comente

Assine