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Nossa Língua

REVISTA E - DEZEMBRO 2007

EM BOM PORTUGUÊS
O aumento do interesse dos brasileiros pelo idioma se reflete em programas de rádio e TV, além de publicações diversas, e faz dessa ferramenta elemento de distinção social




Foi-se o tempo em que os brasileiros restringiam o aprendizado da língua portuguesa aos assentos escolares, diante do quadro-negro. De alguns anos para cá, as portas de acesso ao conhecimento da norma culta do nosso idioma têm se aberto cada vez mais. São revistas, colunas de jornais, sites na internet, e programas de televisão e de rádio especializados em apresentar os mistérios do vernáculo. Ou seja, pessoas que se interessam pelo assunto têm em mãos uma série de instrumentos para tirar suas dúvidas. "O idioma nacional está sendo observado com imensa curiosidade", afirma o ensaísta e crítico literário Fábio Lucas. "Está ganhando um grande prestígio. Por isso, há vários aparelhos de análise e de divulgação fazendo essa consultoria do bom ou do mau uso da língua portuguesa." O professor doutor em literatura dramática - e consultor de conteúdo lingüístico do projeto Nó na Língua (veja boxe Linguagem artística) - Welington de Andrade enxerga nesses veículos uma "boa porta de entrada" para o universo da línguaportuguesa, mas adverte que é sempre necessário um interesse maior em aprofundar o conhecimento. "A gente sabe que no Brasil normalmente a tendência é ficar só na superfície das coisas", comenta o professor. "Então, se a pessoa ler uma revista ou site sobre o assunto e começar a reproduzir acriticamente o que lê, não será um bom começo. Agora, se conseguir fazer com que, a partir dali, ela passe a ler um livro, por exemplo, aí acho que funciona bem."


  APOIO JORNALÍSTICO

Um dos exemplos está nas bancas de jornal, onde é possível encontrar revistas como a Discutindo Língua Portuguesa - bimestral e com uma tiragem de 30 mil exemplares. A publicação serve de apoio a alunos e professores. "O objetivo principal da revista é ser um acessório paradidático ao professor de português em sala de aula e a seus alunos, seja no ensino médio, seja na universidade", esclarece o editor do periódico, Igor Ribeiro. "Nosso retorno de leitores indica isso. Mas também sabemos, por essa e outras fontes, que muitos acadêmicos e interessados em lingüística lêem a revista independentemente da sala de aula." Outro campo de divulgação dessa área do conhecimento são os livros que trazem dicas sobre o idioma - muitos deles de grande sucesso editorial - como o Manual de Redação e Estilo, do jornal O Estado de S.Paulo. Criado com o objetivo de unificar a linguagem do veículo, o volume extrapolou o âmbito jornalístico e já vendeu mais de 1 milhão de exemplares. "Aqui não há a obrigatoriedade de usar o rigor da terminologia, como é o caso de um livro de gramática", explica o jornalista, autor do manual, Eduardo Martins. "Ou seja, ele traz a regra gramatical um pouco mais abrandada, que é um modo mais fácil de as pessoas entenderem. Acho que os manuais de redação contribuíram bastante para esse interesse das pessoas pela linguagem. Apenas 20% desses manuais vão para jornalistas e estudantes de comunicação, os outros 80% são consumidos por pessoas que escrevem ocasionalmente." Martins atualmente mantém a coluna De Palavra em Palavra - com assuntos ligados ao idioma nacional -, no suplemento infantil Estadinho, encartado aos sábados no mesmo jornal. Segundo ele, seus leitores têm entre 10 e 80 anos. "Então, a gente vê também que o interesse das pessoas não morre, mesmo quando ficam mais velhas", diz.
Na TV, a lista de programas bem-sucedidos sobre o tema só aumenta. É o caso do Programa de Palavra, produzido pelo Sesc TV entre 2001 e 2005, no qual o professor Sérgio Nogueira Duarte da Silva esclarecia, entre outras coisas, o significado de vocábulos e os erros gramaticais mais freqüentes. O que torna esse exemplo curioso é o fato de o programa ter a maior audiência do canal, mesmo que atualmente seja reprisado. "O site é a maneira que temos de medir o retorno do público. Pela estatística de outubro, [o Programa de Palavra] teve 925 acessos no mês", afirma Renata Wagner, do Sesc TV. "Está sempre entre os primeiros lugares, nunca perdeu essa posição. Já o segundo colocado tem 700 [acessos no mês]."
Mas, afinal de contas, o que vem motivando boa parte dos brasileiros a valorizar a escrita e a pronúncia do nosso idioma? Uma das razões, de acordo com o jornalista Eduardo Martins, é o fato de o mercado de trabalho estar mais exigente. "A partir da década de 90, as empresas passaram a exigir um conhecimento melhor da língua portuguesa por parte dos funcionários." Além disso, Martins credita o fenômeno também à internet, que faz com que profissionais passem a escrever mais. "Há muitos executivos que antes dificilmente redigiam um bilhete e que hoje em dia precisam enviar e-mails para clientes ou amigos. E é claro que essas mensagens têm de ter o mínimo de qualidade, não podem ser uma coisa descuidada", comenta.

Ver boxes:

Saiba Mais
Dicas
Linguagem artística
Culturas em aproximação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Saiba mais:


www.discutindolinguaportuguesa.com.br
www.revistalingua.uol.com.br
http://colunas.g1.com.br/portugues
www.academia.org.br

 

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Dicas

 

MODISMO I - Expressões repetidas ao infinito que, para o jornalista Eduardo Martins, autor do Manual de Redação e Estilo, do jornal O Estado de S.Paulo, são "detestáveis". Muitos dos exemplos estão na própria imprensa. "São coisas como 'o Brasil é a bola da vez na questão dos juros porque não fez a lição de casa'", comenta Martins. "Elas decorrem da pretensão de achar que determinadas palavras estabelecem uma comunicação mais imediata. Podem até estabelecer, mas em determinado momento vão ter efeito contrário."

 

GERUNDISMO - Termo criado para satirizar a maneira incorreta de usar o gerúndio, uma das formas nominais do verbo, composta do sufixo "-ndo" (como em cantando, vendendo, partindo). Em outras palavras, trata-se de construções como "Nós vamos estar tentando resolver seu problema". "Localizei a origem do gerundismo mais ou menos em 1999", afirma o jornalista Eduardo Martins. "Talvez por causa de manuais mal traduzidos do inglês para o português na área de telemarketing, essa coisa começou a ser usada."

 

REDUNDÂNCIA - Também conhecida como tautologia, trata-se do emprego de palavras ou expressões em excesso para expressar a mesma idéia. Exemplos: elo de ligação, subir para cima, prioridade um e encarar de frente. "À vezes, mesmo pessoas de boa instrução não percebem [esse vício]", explica o jornalista Eduardo Martins. "É o caso de elo de ligação, o elo já é uma ligação. O mesmo para encarar de frente, ninguém encara nada de costas. Já outros são mais evidentes, como subir para cima, você não sobe para baixo."

 

"A NÍVEL DE..." - Esse é outro vício abominado pelos estudiosos da nossa língua. Também vem de uma tradução acidentada do francês e se alastrou entre os que gostam de uma muleta lingüística, como definiu o jornalista Eduardo Martins. "É uma expressão que não tem um significado muito definido. O famigerado 'a nível de' é também meio ciclotímico, aparece e desaparece, depois volta. Aí tudo vira 'a nível de'". O jornalista ainda brincou com a reportagem: "A nível de entrevista, esta aqui é muito boa...".

MODISMO II - O crítico literário Fábio Lucas aponta o vício de usar a expressão "explicitar" no lugar de "explicar" como decorrente de "leituras apressadas de revistinhas literárias francesas". "Houve um tempo em que todos os que faziam um estágio ou uma visita a uma universidade francesa voltavam 'explicitando isso', 'explicitando aquilo'", conta. "E isso se tornou comum". Dica: opte pela simplicidade e explique as coisas em vez de explicitá-las.

 

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Linguagem artística

Com o projeto multidisciplinar Nó na Língua, o Sesc 24 de Maio joga luz sobre nosso idioma

 

Norteado por referências teóricas de Ferdinand de Saussure (1857-1913) - um dos principais nomes a possibilitar o desenvolvimento da lingüística como ciência -, o Sesc 24 de Maio apresenta o projeto multidisciplinar Nó na Língua - Os Usos e Desusos da Língua Portuguesa (foto), de 22 de novembro de 2007 a 30 de maio de 2008. Composto de exposição, espetáculos teatrais, performances, oficinas, shows musicais, palestras e atividades multimídia, o evento conta com curadoria da unidade Carmo e consultoria lingüística do professor doutor em literatura dramática Welington de Andrade. A iniciativa tem o intuito de abordar as diferentes formas que a língua falada e a escrita assumem no Brasil, suas variantes geográficas, culturais, sociais e temporais. "Por meio de aspectos visuais e sonoros, o projeto tem o objetivo de mostrar um trabalho lúdico, que busca dialogar com o público para uma melhor percepção em relação à língua", explica a coordenadora de programação do Sesc Carmo Sidênia Freire. Confira os detalhes da programação.

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Culturas em aproximação

Reforma ortográfica modifica regras para a escrita da língua portuguesa

Prepare-se para incorporar as consoantes k, w e y ao alfabeto, que passará a ter 26 letras. Isso porque o Brasil está prestes a instituir uma nova mudança ortográfica. Além das letras adicionais, a nova ortografia altera regras de uso do hífen, elimina o uso do trema, muda normas de acentuação e a grafia de certas palavras. Essas modificações foram discutidas entre os oito países que pertencem à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Angola, Cabo Verde, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor Leste.
A medida tem o objetivo de aproximar essas culturas. "Esse acordo é importante porque a língua portuguesa deve aparecer no foro internacional com uma ortografia determinada", explica o ensaísta e crítico literário Fábio Lucas. "Da mesma forma que acontece com o inglês, o francês, o russo, o espanhol, o chinês."
De acordo com a reforma, no português de Portugal desaparecerão o "c" e o "p" de palavras como "óptimo", "acção" e "adopção". Já, por aqui, algumas das principais mudanças se darão na acentuação de palavras. Por exemplo, o acento circunflexo - o famoso chapeuzinho - deixará de existir nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "ler", "dar", "crer", "ver" e seus derivados - dessa forma, em vez de "lêem" ou "dêem", passaremos a grafar simplesmente "leem" e "deem".

 

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