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A caminho da expansão

Fábricas descobrem o nordeste e mudam economia da região

ALBERTO MAWAKDIYE


A Alpargatas na Paraíba: novos investimentos / Foto: Divulgação

Ainda é cedo para saber se o ensolarado nordeste brasileiro um dia desempenhará papel tão importante na área industrial do país como os bem mais desenvolvidos estados do sudeste. Mas o fato é que a região parece ter descoberto, depois de tatear durante décadas, o caminho para alcançar esse objetivo.

Há pouco mais de dez anos, o nordeste - cuja área, de 1,5 milhão de quilômetros quadrados, equivale à da França, Alemanha, Grã-Bretanha e Itália reunidas e apresenta uma população de quase 50 milhões de habitantes - fabricava apenas produtos intermediários ou tradicionais, e mesmo assim em pequena escala. Hoje, Bahia, Pernambuco, Ceará e Paraíba estão como que povoando a orla de suas grandes cidades com empreendimentos fabris antes exclusivos do sudeste-sul. São indústrias que produzem de autopeças a componentes químicos, de softwares a roupas de grife e calçados esportivos. E mesmo os estados menores ou mais pobres da região - como Sergipe, Alagoas e Piauí - criaram distritos industriais nas cercanias de suas capitais para abrigar novas fábricas.

O nordeste já é hoje o segundo maior pólo brasileiro na fabricação de têxteis e confecções - cuja produção, em 2004, alcançou 315 mil toneladas, ou 17,8% do total nacional. É ainda o segundo produtor de calçados e também o segundo em vendas externas nesse setor (US$ 280,5 milhões em 2004, quantia equivalente a 15,5% do total geral das exportações), perdendo em ambos os quesitos apenas para o Rio Grande do Sul, a "pátria" do calçado no país.

Benefícios

O que está atraindo as empresas para o nordeste não são apenas apetitosos benefícios fiscais - motivo de queixas amargas dos governantes de outras regiões brasileiras. A maior proximidade geográfica com a Europa e os Estados Unidos, além da mão-de-obra abundante e barata - um estímulo principalmente para as indústrias têxteis e de calçados -, estão também fazendo sua parte.

O fato de dois terços da população residir em zonas urbanas também tem seu peso. Há na região uma dezena de núcleos com mais de 500 mil habitantes, e três capitais - Salvador, Recife e Fortaleza - com mais de 1,5 milhão. Ainda que essa população em geral careça de formação técnica - e boa parte dela até de instrução formal, devido às notórias distorções socioeconômicas do nordeste, que está na rabeira do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro -, tem fama de aprender rápido e de ser esforçada.

De qualquer maneira, na esteira da chegada das indústrias vêm se multiplicando na região unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). E dentre as universidades e centros de pesquisas, cada vez mais abertos aos jovens da afluente classe média nordestina, contam-se alguns de nível internacional.

A diversificação industrial está modificando até o peso das matrizes econômicas da região, que foi sustentada durante quase toda a segunda metade do século 20 pela agropecuária e pelo turismo, com alguma participação dos setores petrolífero e petroquímico. Todos eles, agora, começam a perder importância relativa.

Apesar de o nordeste ainda responder por pouco menos de 14% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, é dado como certo que pelo menos um quarto desse valor tenha origem na indústria de transformação. É um índice que começa a se aproximar daquele dos estados do sul, que detêm 18% do PIB. De qualquer forma, a região está ainda longe do altamente industrializado sudeste, responsável por 56% do PIB nacional. São Paulo, sozinho, responde por 46% da produção industrial do país.

Para atestar a importância crescente do setor secundário na região, a poderosa Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), com sede em São Paulo, abriu no final de outubro um escritório no Recife, centro metalúrgico historicamente importante do nordeste. É a nona unidade regional da entidade - as outras estão distribuídas pelo sudeste-sul. Representante dos produtores de bens de capital, a Abimaq está de olho não somente nas novas empresas metalúrgicas que lá estão se instalando - apenas Pernambuco já tem perto de 600 delas, a maioria de pequeno porte -, mas nos megaprojetos siderúrgicos e petroquímicos previstos para a região. Os investimentos incluem uma refinaria da Petrobras, que deverá ser implantada no Recife, a um custo de US$ 2 bilhões, em parceria com a petrolífera venezuelana PDVSA, e a Usina Siderúrgica do Ceará (USC), na área de Fortaleza, projeto de US$ 700 milhões da Companhia Vale do Rio Doce, da italiana Danieli e da sul-coreana Dongkuk Steel.

Uma refinaria de alumina em São Luís também deverá ser ampliada pela Alcoa, com investimento de US$ 1,6 bilhão. O pólo de papel e celulose do sul da Bahia passará igualmente por expansão. "O escritório regional vai apoiar institucionalmente as empresas nordestinas interessadas em fornecer equipamentos", diz Newton Silva Araújo, vice-presidente da Abimaq.

Subsídios

O curioso é que nada parecia indicar que o nordeste teria êxito nesse esforço algo tardio de expansão industrial, cujo processo foi iniciado em meados dos anos 1990, depois que ficou claro que as políticas federais de subsídios da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) - cujos frutos mais maduros foram o pólo petroquímico de Camaçari (BA) e o cloroquímico de Alagoas - haviam se esgotado. De fato, o órgão, criado pelo presidente Juscelino Kubitschek no final dos anos 1950, sob inspiração do economista Celso Furtado, acabaria por ser extinto no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), dentro de sua política de privatização e de corte dos gastos públicos.

Para atrair novas indústrias, praticamente todos os estados nordestinos desenvolveram programas de abatimento de impostos, montagem de infra-estrutura, cessão de terrenos e até empréstimos com juros subsidiados, passando a concorrer não apenas com os estados do sudeste e do sul, como também entre eles, o que poderia muito bem resultar num processo de autofagia regional. Temia-se a sangria generalizada dos cofres públicos sem o suficiente retorno para as economias estaduais.

A conjuntura econômica da época, no entanto, acabou por jogar a favor da região. Como indústrias de setores dinâmicos sediadas no sudeste-sul necessitavam de ampliação, surgiu ali uma alternativa para contornar o custo excessivo dos terrenos, dos impostos e da mão-de-obra.

O fato de, desde os anos 1980, o nordeste estar apresentando uma taxa anual de expansão do PIB na casa dos 3%, superior à do próprio país (puxada principalmente por agricultura e serviços), também chamou a atenção das companhias com decisão de novos investimentos. Embora tal crescimento possa ser explicado pelo fato de a região, na comparação com outras, estar partindo de um patamar bem mais baixo, os empresários perceberam que existia ali um óbvio potencial de dinamismo econômico.

"Os governos nordestinos conseguiram, a um custo talvez excessivo, corrigir o erro histórico da Sudene, que não investiu o suficiente em indústrias de caráter competitivo", analisa o economista João Policarpo Lima, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "O foco da Sudene nos grandes pólos de bens intermediários e nas indústrias de bens não-duráveis praticamente impediu a região de articular suas cadeias produtivas e de abrir espaços próprios no mercado."

Lima explica que, por conta dessa política, as poucas indústrias nordestinas tinham de se contentar em "exportar" para as fábricas do sudeste resinas plásticas produzidas em Camaçari, por exemplo, ou atender parte da demanda de roupas e alimentos de populações localizadas. "Não era uma atividade voltada para o crescimento da região", resume o economista.

Competição

Dos nove estados nordestinos, a Bahia é o que vem se saindo melhor no esforço de atrair novas empresas - tanto porque já era o mais industrializado da região, como por ser o mais rico e ter mais "bala na agulha" para manter a guerra fiscal (cuja fase heróica, aliás, parece estar se encerrando). Na verdade, a Bahia responde hoje por pouco menos do que a metade da produção industrial do nordeste, impondo considerável distância sobre seus competidores regionais.

O êxito baiano é comprovado pelos números da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial do Estado da Bahia (Sudic). Entre agosto de 1996 e julho de 2005, 736 empresas de porte médio e grande assinaram protocolos de intenção com o governo local para implantar unidades industriais no estado - foram 529 desde abril de 2000.

Uma parte substancial dessas fábricas já foi tirada do papel. Apenas com apoio da Sudic - dezenas de empresas também se instalaram na Bahia por conta própria - foram inauguradas 95 unidades industriais entre 2001 e 2004, em setores tão dinâmicos como o metalúrgico, químico, de componentes eletrônicos, perfumaria e cosméticos, e plásticos e borracha. O crescimento industrial acumulado do estado nos anos de 2003 e 2004 foi de 19,6%, seis vezes maior que o do país.

Com isso, a Bahia assumiu posição econômica predominante não apenas no nordeste (onde já responde por 40% do PIB), mas também dentro do Brasil. Atualmente, é a sexta economia do país, responsável por 5,1% do PIB nacional, e está muito perto de superar o Paraná, graças também ao grande desenvolvimento registrado pelo agronegócio local, que, por sinal, vem sendo mecanizado de maneira crescente, como de resto o de todo o nordeste, para a alegria dos produtores regionais de máquinas e implementos agrícolas.

"Esse salto industrial foi possível porque só incentivamos as companhias interessadas em implantar fábricas no estado. Não erguemos um dedo para ajudar empresas que queriam apenas montar centros de distribuição", explica Émerson Simões, diretor presidente da Sudic.

Na verdade, existiu um diferencial no surto de industrialização baiano que não estava ao alcance dos demais estados da região. Graças a toda sorte de vantagens tributárias e logísticas, a Bahia conseguiu, em 2001, convencer a Ford do Brasil a montar uma nova unidade no pólo de Camaçari. A empresa pretendia erguer a fábrica no Rio Grande do Sul, mas o governo gaúcho não aceitou as condições impostas pela montadora, consideradas leoninas.

O tempo mostrou que a Bahia acertou em bancar a aposta. Hoje, a Ford, ao custo de um investimento direto de US$ 1,2 bilhão, produz por ano 250 mil automóveis Fiesta, Courier e Ecosport em Camaçari, e já responde por cerca de 15% do total de exportações do estado - ou 8,5% das do nordeste. Em 2004, apenas as vendas externas baianas de automóveis foram maiores do que todas as exportações de Pernambuco (US$ 636 milhões contra US$ 516 milhões). É intenção da Ford aumentar a produção anual para 320 mil unidades em 2006.

Mais importante do que isso, a empresa fez o que toda montadora de grande porte faz na região onde é instalada: criou em torno da unidade de Camaçari uma enorme e capilarizada cadeia produtiva, constituída por fabricantes de autopeças. Apenas de fornecedores diretos, são 31 companhias, 25 delas localizadas dentro do próprio pólo.

Além de importante geradora de empregos - cerca de 90 mil no total, entre diretos e indiretos -, a cadeia automotiva baiana surpreende pelo altíssimo nível de nacionalização e "baianização": os carros da Ford-Camaçari apresentam 95% de conteúdo nacional e 75% de baiano.

E a tendência é a Bahia tornar-se um "centro de excelência" em algumas áreas automotivas, como a de fabricação de pneus. A indústria pneumática do estado já abriga as maiores empresas mundiais do segmento, como Pirelli, Continental, Michelin e Bridgestone Firestone, perdendo em importância apenas para São Paulo.

A implantação de todas essas fábricas exigiu investimentos da ordem de US$ 6 bilhões, que não devem parar por aí. A Bridgestone pretende inaugurar ainda este ano sua segunda unidade de produção no pólo de Camaçari, a um custo de R$ 784 milhões. "Essa expansão nos permitirá atender tanto o mercado baiano como o brasileiro e o latino-americano", explica Raul Viana, diretor de assuntos corporativos da Bridgestone Firestone.

Especialização

Embora com números menos impressionantes que os da Bahia, estados como Ceará, Pernambuco e Paraíba vêm conseguindo igualmente desenvolver seus parques industriais, com a diferença também de que estão mais centrados em alguns setores específicos.

O Ceará, que já conta com quase 50 indústrias de grande porte nas cercanias de Fortaleza, está se tornando, aos poucos, um importante pólo metalúrgico, cujas fábricas - acima de 2 mil, incluindo as pequenas - já respondem por mais de 13% do valor de transformação industrial do estado.

A "jóia da coroa" do parque metal-mecânico cearense é a montadora de jipes fora-de-estrada Troller, localizada em Horizonte, que em 2006 deverá alcançar a marca de 3 mil veículos por ano. "A indústria metalúrgica é hoje um dos motores da economia cearense", diz Francisco Ferreira Alves, coordenador de economia e estatística da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

Mas há outros setores tão promissores como o metalúrgico, que já permitem ao estado responder por 13,8% da produção industrial nordestina. O Ceará se tornou, igualmente, um grande pólo calçadista e um importante centro têxtil - criado sem que fosse preciso esmagar as tradicionais fábricas artesanais de renda -, com 450 tecelagens, entre as quais se destaca a unidade da paulista Vicunha, instalada nos arredores de Fortaleza. Em ambos os setores, o Ceará já ocupa a terceira posição entre os estados produtores do Brasil.

A indústria calçadista, principalmente, vem registrando um desenvolvimento surpreendente. Várias pequenas cidades próximas à capital passaram a abrigar poderosas fábricas que migraram do sudeste-sul, como Grendene e Vulcabrás, e mesmo multinacionais, como a Nike, que tem uma unidade no município de Quixeramobim.

Originária do Rio Grande do Sul, a Grendene mantém, por exemplo, nada menos que dez unidades no Ceará - sete em Sobral, duas em Fortaleza e uma no Crato -, que respondem por 95% da produção da empresa, de 145,3 milhões de pares de calçados em 2004. Até a sede da Grendene está hoje em Sobral, tendo restado no sul apenas o centro administrativo em Farroupilha e duas pequenas fábricas, em Farroupilha e Carlos Barbosa.

"A indústria calçadista se adaptou magnificamente ao Ceará, com suas pequenas cidades, grande oferta de mão-de-obra e tradição na área do couro", analisa Ênio Klein, consultor da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). "Além do mais, o estado dispõe de bons portos e estradas e fica muito mais perto dos mercados europeu e norte-americano".

Os setores têxtil e calçadista não vêm impulsionando apenas a indústria cearense. Há empresas de renome com fábricas por toda parte. A Coteminas mantém três instalações no Rio Grande do Norte e outras três na Paraíba. A Santista tem três unidades na região.

Já a Azaléia, produtora de calçados também de origem gaúcha, possui fábricas na Bahia e em Sergipe, e a paulista Alpargatas mantém unidades no Rio Grande do Norte e na Paraíba. E os investimentos não devem parar nesse setor. A Alpargatas pretende, neste ano, duplicar a produção de suas instalações de Campina Grande e Santa Rita, ambas na Paraíba - cidades onde produz as célebres sandálias Havaianas.


Pequenas empresas, saída para o desemprego

A extinção da Sudene não significou o "abandono" do nordeste pelo governo federal (aliás, o órgão acabou sendo recriado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas, para efeitos práticos, ainda não saiu do papel). Diversos programas voltados para o desenvolvimento de empresas nordestinas de pequeno porte estão sendo implantados, por exemplo, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (Sebrae) nacional e por seus braços estaduais.

Essas iniciativas abrangem todos os segmentos industriais imagináveis, com ênfase na vocação de cada região. Assim, um pólo de confecções e bordados foi criado em Tobias Barreto (Sergipe), célebre pela profusão de empresas familiares informais dedicadas à atividade - mais de 1,3 mil, em 2002.

Pólos moveleiros foram desenvolvidos no Ceará e no Maranhão, estado onde, aliás, a produção de móveis vem ganhando cada vez mais importância. Apenas na cidade de Imperatriz, já são 170 fabricantes, que empregam somente madeira certificada e exportam para a Europa e os Estados Unidos.

O Sebrae também apóia microempresas da Paraíba e de outros estados voltadas para a produção de calçados e demais artigos de couro. O cluster de Campina Grande, na Paraíba, é um dos mais bem-sucedidos nesse segmento.

Por toda a região pipocam ainda microempresas dedicadas a fornecer produtos para o crescente mercado de turismo (principalmente destinados a bares, restaurantes e hotéis). Dos R$ 3,5 bilhões previstos até 2008 para a construção de novos hotéis no Brasil, R$ 1,5 bilhão devem ser investidos no nordeste. A intenção do governo federal é, através da multiplicação e fortalecimento das pequenas empresas, reduzir o assustador índice de desemprego nas cidades da região, ainda não mitigado pela chegada das indústrias de grande e médio porte.

Calcula-se que apenas no Grande Recife um quarto da mão-de-obra esteja sem trabalho, índice parecido com o da região metropolitana de Salvador. Mas não faltam críticas das pequenas empresas à atuação do poder público, federal ou estadual. "Não temos acesso a uma única linha de financiamento", queixa-se Maria Aline Machado Santana, diretora da Montal Quadros Elétricos, que emprega 20 funcionários, em Aracaju.

Já Rubenilson Chaves Bandeira, gerente comercial da fabricante de móveis AGB, de Fortaleza, reclama da rigidez tributária do governo federal - fazendo coro a todas as pequenas empresas do país. "O governo nos trata como se fôssemos uma companhia de grande porte, não nos facilita nada", dispara.


Pólo do Recife é referência em software

O avanço industrial do nordeste não está restrito à área de transformação. Nos estados de Pernambuco, Paraíba e Bahia foram implantados importantes pólos de alta tecnologia, seja para o desenvolvimento de softwares, seja para a produção de equipamentos de informática e telecomunicações. O empreendimento mais bem-sucedido no setor de software é, sem dúvida, o Porto Digital, montado na então degradada zona portuária do Recife por empresas privadas em parceria com o governo estadual e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Considerado um dos mais criativos e comercialmente agressivos do país, o pólo já tem quase uma centena de empresas afiliadas e responde por 4% do PIB pernambucano, que na área industrial tem como pilares principais os setores metal-mecânico, químico e petrolífero. A previsão é que, em dez anos, o Porto Digital represente 15% do PIB estadual.

Outro sofisticado centro de alta tecnologia está instalado em Campina Grande, na Paraíba, que também opera em estreito vínculo com a universidade federal local. O exemplo está para ser seguido pelos governos cearense e baiano, que estão desenvolvendo pólos similares em espaços mal aproveitados economicamente de suas capitais.

O nordeste também avançou na área de hardware e de componentes eletrônicos. O Pólo de Informática, Eletroeletrônicos e Telecomunicações de Ilhéus, no sul da Bahia, já responde por parcela significativa da produção brasileira de microcomputadores, videocassetes, baterias recarregáveis e sintonizadores de antenas parabólicas. Ali estão abrigadas gigantes do porte da multinacional Semp Toshiba.

A cidade do Recife entrou até mesmo no restrito mercado da medicina de ponta, hoje altamente dependente da tecnologia. A capital pernambucana conta hoje com cerca de 3 mil estabelecimentos de saúde, entre hospitais, clínicas e centros de diagnóstico, que atraem pacientes de toda a América Latina, com destaque para a sua principal especialidade, a oftalmologia. Esse pólo estimulou o surgimento de dezenas de empresas de manutenção e produção de sobressalentes.

A indústria de equipamentos médico-odontológicos, entretanto, tem pouca expressão no nordeste - há apenas três fábricas em Pernambuco e três na Bahia, dentro de um universo de quase 600 companhias, concentradas em sua maioria no estado de São Paulo. Algumas das empresas nordestinas empregam alta tecnologia, como a pernambucana Ônix, que produz implantes ortopédicos. Outras fornecem gaze, luvas cirúrgicas, seringas e agulhas, artigos considerados de médio conteúdo tecnológico.

"Penso que esse pequeno número de empresas esconde uma enorme distorção", comenta Djalma Luiz Rodrigues, presidente da Associação dos Fabricantes de Produtos Médicos e Odontológicos (Abimo). "Há indústrias desse setor que produzem aventais, toucas, sapatilhas e têxteis de algodão, cuja produção requer mão-de-obra intensiva, e que se dariam muito bem no nordeste. Por que não conceder benefícios fiscais para atraí-las?"

 

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