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A arte do deslocamento
O parkour, prática esportiva originada na França, chega ao Brasil e propõe uma nova forma de aliar atividade física a interação com espaços urbanosSe você estiver algum dia descendo a escadaria de uma estação de metrô e vir um grupo de pessoas saltando os vários degraus e pulando sobre as grades não se assuste. Não se trata de um “arrastão urbano” ou coisa do gênero. Tente parar um deles e pergunte o que eles estão fazendo. A resposta virá natural e imediata: parkour. “Pa” o quê? É isso mesmo: parkour, do francês parcours, que significa percurso. É a “última moda” em prática esportiva, importada do país da moda, a França, e que já conta com vários adeptos no Brasil. Basicamente, a prática consiste em treinar o corpo para torná-lo capaz de se mover com agilidade, fazendo uso de obstáculos comuns das grandes cidades: muretas, escadarias, bancos de praça etc. Tudo isso combinando capacidades naturais do corpo humano, como correr, saltar, rolar no chão e escalar. É considerado pelos praticantes um esporte que permite explorar todo o potencial do corpo. “O parkour é totalmente adaptado à cidade”, explica o psicanalista Eduardo Bittencourt, um dos primeiros a começar a pular pela cidade, no início do ano passado, depois de assistir a um vídeo do francês David Belle, criador da modalidade. “A idéia é simples: procuramos transpor os obstáculos da forma mais rápida, eficiente e criativa possível.”
Esporte na rede
Atualmente há diversos grupos espalhados pelo Brasil que praticam o parkour. A comunidade está bem representada em Brasília, Florianópolis, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba.
“O parkour tem sido um esporte divulgado pela internet”, diz Eduardo. “E isso é uma coisa curiosa, talvez seja o primeiro esporte que surge praticamente via internet.” As informações sobre novas manobras, locais onde praticar e tudo mais que estiver ligado à prática pipocam na rede por meio de websites, fotoblogs e comunidades no Orkut.
Outro aspecto interessante do esporte é que ele oferece uma forma nova e inusitada de se relacionar com a cidade, apropriando-se dos elementos que ela oferece, mesmo suas adversidades, com ludicidade. “O parkour tem uma coisa muito interessante que é agir de forma crítica pela cidade. Para quem o pratica não existem lugares impossíveis de passar”, afirma Eduardo. “Eu posso transformar um lugar feito para sentar num lugar de saltar. Isso dá ao ser humano a possibilidade de recriar o mundo.”
Segurança é essencial
Mas será que pular de muros e subir em árvores não exige condicionamento físico? Os professores de educação física Patrícia Sakai e José Luiz Sinhorini, do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), recomendam alguns cuidados. “Existe uma necessidade de adequação do indivíduo ao esporte”, diz Patrícia Sakai. “Devemos nos preocupar com a aquisição de habilidades técnicas que cada prática requer.” A professora explica que no caso do parkour, por causa dos saltos e rolamentos no chão, a musculatura deve ser forte para suportar o impacto. Mas ressalta que o primeiro passo é cuidar da alimentação. “Isso contribui para a formação do tecido conjuntivo, que forma e fortalece tendões, e, conseqüentemente, os músculos, aliviando o impacto sobre as articulações e prevenindo lesões futuras.” Portanto, se você é daqueles que pegam o carro até para ir à padaria, melhor começar a pensar em andar primeiro para depois cogitar movimentos mais ousados. “O indivíduo sedentário deve iniciar uma prática de exercícios leves, como caminhar, em vez de correr”, recomenda José Luiz Sinhorini. “Além, claro, de um trabalho de fortalecimento da musculatura dos membros inferiores, principalmente no caso do parkour.” Para aqueles que já praticam atividade física, o professor indica o aumento gradual da intensidade do exercício.
Saiba mais:
www.abpk.com.brParkour no Sesc
Evento na unidade Ipiranga ensina as técnicas da prática
Integrando o projeto especial Jovens Tendências, o Sesc Ipiranga promove a Exposição Le Parkour Brasil, que traz cerca de 50 fotos de evoluções realizadas em diversos pontos da cidade pelo grupo paulistano representante do esporte no Brasil. Além da mostra, que segue até 11 de dezembro, foi ministrado um curso, pelo psicanalista Eduardo Bittencourt e o estudante Jerônimo Ribeiro, membros do grupo Le Parkour Brasil, por meio do qual os interessados aprenderam alguns movimentos e se interaram dos objetivos e fundamentos gerais da técnica. “É uma maneira mais rápida de você aprender o parkour, melhor do que começar a fazer sozinho.
De repente, uma dica que você dá faz toda a diferença”, explica Jerônimo.
Para iniciantes
Dicas do site oficial para quem quer se iniciar no parkour
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Antes de iniciar a prática, dedique-se ao alongamento estático, no qual deve-se manter algumas posições (por pelo menos 15 segundos) para alongar a musculatura suavemente até chegar ao ponto de leve desconforto.
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Em seguida, faça um aquecimento, com corridas leves de 5 a 10 minutos, e passe para o alongamento dinâmico, através da repetição de movimentos.
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Só então inicie a prática. Comece pelo chamado landing, ou pouso simples, em lugares baixos, de 1 metro de altura, e vá aumentando o grau de dificuldade.
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É importante treinar também o rolamento, muito usado durante a prática.