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Liberdade de escolha

O software livre é uma alternativa segura para dar um up grade na inclusão digital e no desenvolvimento tecnológico do país


Bê-á-bá do “informatiquês” 

  • Software – programa de computador

  • Hardware – o computador propriamente dito, a máquina

  • Código fonte – código do programa a ser executado, escrito numa determinada linguagem, que permite entender como o software funciona e pode ser modificado

  • Aplicativo – é um programa com função específica, como, por exemplo, o Word, da Microsoft, que serve exclusivamente como editor de textos

  • Software livre – software que possui o código fonte aberto

  • Software proprietário – como são chamados os softwares comerciais, como o Windows, da Microsoft

  • OpenOffice – versão livre do Office, pacote da Microsoft que contém, entre outros

  • Aplicativos, o editor de textos

  • Sistema operacional – conjunto de programas que fazem a interface do usuário, interpretação de mensagens e execução de aplicativos

  • Desktop – uma das maneiras de se referir ao computador pessoal de mesa


O que é um computador? Dependendo do uso que se faz dele, pode ser uma máquina de escrever com infinitos recursos, o aparelho por meio do qual se adentra no universo da internet, a última palavra em técnicas de edição de filmes, gravações de música, pode ser uma moderna caixa de correios, a maneira de conseguir falar em tempo real com alguém que está longe sem utilizar o telefone. Enfim, o computador hoje em dia é, não seria exagero afirmar, tudo o que quisermos. No entanto, isso leva a uma outra questão: o que queremos do computador? Que ele seja eficaz nas tarefas a que se propõe, que seja simples de operar e, importante, que tenha um custo acessível. E é aí que surgem os problemas. Na maioria dos países, e isso inclui o Brasil, essas máquinas são caras – de 2 a 3 mil reais em média – e estão longe de entrar na casa de todos, como a TV entrou. Iniciativas de inclusão digital – a alfabetização dos novos tempos – pipocam aqui e ali, mas os valores gastos com aquisição de software, sem o que o computador é inútil, atravancam maiores progressos. No campo da busca por excelência tecnológica – essa, por sua vez, o ouro dos novos tempos –, as limitações técnicas impostas por muitos desses programas proprietários se colocam como barreira a um desenvolvimento efetivo.


Solução econômica
Segundo pesquisa da Sociedade para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), encomendada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, se deixasse de pagar licenças para o uso de programas de computador, o Brasil economizaria 85 milhões de reais por ano. E não é para menos. Um software básico, que inclui um editor de textos – como o Office, da Microsoft – custa, em média, 1.600 reais. No entanto, ele não roda sem o sistema operacional – mais básico ainda, a “alma” do computador, cuja marca mais famosa é o Windows. Ele não sai por menos de 700 reais. Como não há muitas alternativas, o modelo leva a dois caminhos igualmente nefastos: a exclusão dos que não têm como arcar com esses custos ou a aquisição ilegal de software, ou seja, a pirataria.

Foi por se encontrar nesse beco sem saída que um estudante finlandês, Linus Torvalds, resolveu ir além do uso passivo da informática e acabou criando, em 1991, o que hoje parece ser a mais viável e promissora alternativa para o impasse. Trata-se de um sistema operacional com o código fonte aberto e, de quebra, gratuito. O Linux, uma merecida auto-homenagem, pode ser definido como um Windows sem dono. “O sistema foi criado para funcionar em máquinas comuns, como as que a gente tem em casa”, explica Ralf Braga, presidente do Congresso Internacional de Software Livre (Conisli), que neste ano ocorreu no Sesc Itaquera (veja boxe Conhecimento ampliado). “E, a partir do momento em que esse estudante colocou esse programa na internet, várias pessoas que tinham diferentes tipos de computador, e até mesmo fabricantes, começaram a adaptá-lo para rodar em diversas máquinas.” Mais do que uma rebeldia contra a informática, o Linux trouxe um conceito de software aberto e adaptável às diferentes necessidades dos usuários. Um software livre. E não quer dizer que seja necessariamente gratuito. A desenvolvedora Fernanda Weiden, que trabalhou na IBM e transferiu-se recentemente para o site de buscas Google, explica que mesmo no universo do software livre existem custos de operação, instalação e treinamento, que configuram o negócio da área. “Agora, é claro que tudo isso sai mais barato se você comparar com todas as coisas que você tem de pagar, no caso do software proprietário.

De início você já não paga a licença. Acho mais interessante pensar no software livre por outras abordagens além do custo; por exemplo, a do acesso ao conhecimento.” Além disso, vale informar, esses sistemas abertos nada têm a ver com as versões piratas de softwares proprietários, conseguidas no mercado paralelo ou baixadas ilegalmente pela internet. Sua livre distribuição é devidamente prevista pela Licença Pública Geral (GPL).


Inclusão e desenvolvimento
Assim como não se trata de pirataria, essa alternativa vai muito além da mera peraltice digital de um “rato” de computador – e está bem distante da ação, por vezes criminosa, dos hackers. Prova disso é que entre os usuários do sistema aparecem empresas como o Grupo Pão de Açúcar e a rede de lojas Renner, e órgãos públicos, como o Metrô de São Paulo e o governo federal. “Trata-se de uma atitude inteligente”, afirma Rubens Queiroz de Almeida, gerente de desenvolvimento tecnológico do Centro de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Entre outras coisas, pela liberdade que você tem de adotar soluções com um bom custo e que não as amarram tecnologicamente a nenhuma empresa.”

Além de se mostrar como um redutor de custos para empresas e governos, o software livre tem sido visto pelos especialistas como alicerce para dois pilares fundamentais no crescimento econômico e social do país: a inclusão digital e o desenvolvimento tecnológico. “Algumas razões nos levam a defender o uso de software livre nos programas de inclusão digital”, explica Sérgio Amadeu da Silveira, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), em entrevista publicada no site da revista eletrônica ComCiência. “Adotar soluções proprietárias significa gastar recursos com o pagamento de licenças de uso, o que poderia onerar, e até mesmo inviabilizar, esse tipo de projeto.” Silveira atenta ainda para o fato de que o software livre também tem como característica o aproveitamento do hardware, podendo ser utilizado em equipamentos considerados obsoletos.

No campo do desenvolvimento e da pesquisa, uma tecnologia livre de cerceamentos promove uma acessibilidade não somente financeira, mas de informação. “O conhecimento do código, pelo fato de ser aberto, desperta nos usuários a curiosidade e pode levar ao surgimento de novos desenvolvedores”, afirma o presidente do ITI. “Assim, o país passa de mero consumidor de tecnologias de informação e comunicação a desenvolvedor de soluções, aumentando a inteligência coletiva e o trabalho colaborativo. Amplia, assim, as condições de autonomia e capacitação tecnológica do país.”


Problemas culturais
No que diz respeito ao desempenho desse tipo de programa, há muitos elogios. “Eu só uso Linux e diria que, para um perfil convencional de um usuário – aquele que digita textos, mexe com planilhas, acessa a internet e troca e-mails –, existem soluções muito boas que, creio eu, não ficam devendo nada a ninguém”, conta Rubens Queiroz de Almeida, da Unicamp. Mas, por enquanto, nem tudo é perfeito. “Há algumas lacunas em tarefas como transmissão de imagens e vídeos, por exemplo”, completa. “Há coisas que ainda estão um pouquinho abaixo das versões comerciais. Mas se trata de uma diferença que está sendo eliminada muito rapidamente.” Para Ralf Braga, do Conisli, algumas das desvantagens do software livre se dão, no entanto, exatamente pelo ambiente dominante no mercado, que cria incompatibilidades. “Com o software livre você não consegue instalar, por exemplo, aplicativos do Windows”, explica. “Porque eles são patenteados para rodar somente no Windows. Isso geralmente não é bem visto pelos usuários, mas vale lembrar que você também não conseguiria instalar esses aplicativos em nenhum outro sistema operacional.”

Para Celso de Queiroz Mavvariol, gerente de tecnologia da informação do Metrô, os problemas em relação à utilização do software livre são de natureza mais cultural que técnica. “Tecnicamente as ferramentas são equivalentes”, conta. “Elas atendem às necessidades básicas dos usuários. A compatibilidade do OpenOffice é muito grande. É importantíssimo ressaltar que a maior dificuldade continua sendo a resistência e o conservadorismo dos usuários.” O Metrô passou a adotar o software livre em 1997, motivado principalmente pelo corte de gastos, e estimou, em levantamento feito em agosto deste ano, uma economia de cerca de 1,5 milhão de reais ao ano para um parque de 2.100 computadores.

  • 195 mil servidores e 561 mil desktops operam no Brasil atualmente com o sistema aberto Linux, o mais famoso software livre

  • software livre movimenta hoje um mercado de 77 milhões de reais; a previsão é de que essa cifra fique entre 192 milhões e 231 milhões de reais até 2008

  • 66,08% dos usuários de software livre afirmam ter adotado o sistema para diminuir gastos

  • 49,35% dos usuários apreciam a capacidade de personalização dos sistemas abertos

  • 63,26% dos usuários preferem o sistema por suas novas habilidades

  • 41,37% dos usuários dizem usar as versões livres por achar que software não deveria ser um produto proprietário

Fonte: pesquisa Impacto do Software Livre na Indústria de Software do Brasil, realizada pela Sociedade para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), por encomenda do Ministério da Ciência e Tecnologia (abril de 2005)


Conhecimento ampliado
Evento no Sesc Itaquera e programa Internet Livre em todas as unidades iniciam interessados no universo do software livre

A terceira edição do Congresso Internacional de Software Livre (Conisli), realizada no Sesc Itaquera no início de novembro, reuniu 1.500 pessoas, entre representantes de comunidades de desenvolvedores, usuários, acadêmicos e demais interessados, para tratar de inclusão digital e desenvolvimento tecnológico relacionados ao uso dos sistemas livres. As palestras, painéis e oficinas que compuseram a grade de atividades tiveram como objetivo reciclar o conhecimento dos envolvidos e aproximar usuários finais dessa que tem se mostrado a mais promissora alternativa ao software proprietário. “Nós tivemos oficinas que ensinaram o usuário final a mexer com o Linux e palestras que mostraram a evolução da inclusão digital no país”, conta Ralf Braga, presidente do Conisli. Sobre a realização do evento no Sesc Itaquera, Braga chamou atenção para o tom diferente que o local deu ao congresso. “As pessoas que costumam freqüentar esse tipo de evento são muito centradas em tecnologia, são nerds como se diz. Agora, desta vez foi diferente, nós tivemos pessoas debruçadas sobre seus notebooks, navegando na internet, só que sentadas na grama num lugar lindíssimo”.

Outra iniciativa do Sesc São Paulo que diz respeito diretamente à democratização do acesso à internet e à inclusão digital é o programa Internet Livre. São 20 salas espalhadas pelas unidades da capital e do interior, dotadas de todo o aparato tecnológico necessário para navegação livre na rede e realização de oficinas. E como o principal objetivo do programa é viabilizar o acesso à informática e à internet ao maior número possível de pessoas, os software livres aparecem como bons aliados. “A orientação que nós temos é que quanto mais usarmos o software livre, melhor, e que devemos usá-lo cada vez mais”, conta Marcelo Bressanin, assistente técnico da Gerência de Ação Cultural (GEAC) do Sesc São Paulo. “Ao realizar uma oficina de criação musical, por exemplo, se apenas usarmos o software proprietário, o aluno aprenderá, mas não poderá usar esse conhecimento em casa, por conta do custo do programa. Provavelmente, ele acabará comprando um programa pirata.” Entre os software livres mais utilizados nas atividades das salas aparecem os de produção de áudio, de imagem, o OpenOffice e diferentes jogos. “Para cada oficina, exige-se que o professor busque na rede uma lista específica de software livre voltado para diferentes linguagens”, esclarece Bressanin. “A idéia é estimular a criação artística por meio da tecnologia independente do software proprietário, criando usuários autônomos”.




Saiba mais:
http://focalinux.cipsga.org.br
www.softex.br
w
ww.softwarelivre.org
w
ww.ccuec.unicamp.br

www.conisli.org.br