Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Dança

REVISTA E - Outubro 2006

 

 

ENCONTRO DE BAMBAS

 


Alunos do Centro Experimental de Música se reúnem para contar no palco a história do samba

 

 

Já virou uma espécie de tradição. Todo ano, desde 2003, o Centro Experimental de Música (CEM) do Sesc Consolação realiza um grande espetáculo envolvendo tanto alunos de seus cursos regulares como interessados em participar do trabalho (veja boxe Cardápio musical). Geralmente essa iniciativa é levada ao palco do Sesc Anchieta, teatro da unidade que abre as portas para músicos e bailarinos não profissionais. A primeira grande montagem foi 24 Óperas por Dia, com músicas de Livio Tragtenberg e arranjos em parceria com alunos; em 2004 foi a vez de O Gigante da Floresta, criado por Hélio Ziskind; no ano passado, o espetáculo foi Ópera do Meio do Mundo, com concepção de André Abujamra, que contou com a participação de jovens tanto do CEM quanto do programa Tribo Urbana, também da unidade Consolação. A apresentação aconteceu no Sesc Vila Mariana como parte da Mostra Sesc de Artes - Mediterrâneo.



Neste ano, em vez de convidar um músico já consagrado, entra em cena a equipe de técnicos do próprio Sesc para assinar a idéia original. Em Um Minuto de Silêncio, espetáculo de 2006 do CEM que aborda a origem do samba, o tema nasceu lá dentro mesmo. "Neste ano a gente quis inverter um pouco", explica Flávia Miari, técnica da unidade. "O que foi muito bacana no ano passado foi o processo. Na parte de figurino, por exemplo, criou-se um grupo de adolescentes para fazer as roupas e essa experiência deu muito certo. Então, desta vez a gente quis radicalizar esse processo, fazer com que esse caráter didático se manifestasse em várias esferas." O passo seguinte foi chamar quem pudesse tocar a idéia junto com os alunos do CEM. Foi nesse momento que surgiram na cena Cacá Machado, o diretor musical, e Vadim Nikitin, responsável pela parte cênica. "O Cacá tem uma pesquisa sobre compositores desse período de surgimento do samba", diz Flávia. "Daí ele indicou o Vadim, que é diretor e ator, e que trouxe a base literária. E esse era o campo que a gente queria trabalhar."





Todo mundo no palco
O processo teve início com o que os diretores chamam de etapa pedagógica. Durante os meses de junho e julho, a dupla reuniu os professores do CEM e realizou encontros nos quais o tema era discutido. "A gente vinha aqui, preparava um material sonoro, de imagens, filmes etc. e começava a discutir", afirma Machado. Foi dessas discussões que a idéia, ainda um pouco difusa, começou a ganhar contornos mais nítidos. "Durante uma dessas reuniões, nós chegamos até um samba antigo, do compositor Monsueto Menezes, chamado O Couro do Falecido, que nos serviu de mote para o espetáculo. Tanto que o nome Um Minuto de Silêncio é o primeiro verso desse samba", conta Nikitin. "O samba diz: 'Um minuto de silêncio / Pro cabrito que morreu / Se hoje você samba / É que o couro ele nos deu'. A gente viu implícita nessa letra a idéia de que o samba, e a música em geral, vêm de um processo de sacrifício. Até para criar um instrumento você precisou matar um bicho e esticar sua pele. E foi desse sacrifício que vieram a beleza, a dor e o prazer", esclarece Machado. "Esse é um tema recorrente em sambas desde a década de 30."





Em seguida foram criadas oficinas com o intuito de reunir pessoas para compor o espetáculo em áreas que os cursos do CEM não cobriam, como figurino, percussão e expressão corporal - cursos realizados especialmente para o musical. "A idéia é que todo mundo possa entrar, a inclusão é muito bacana", declara Flávia, do Sesc. "Cada oficina teve 20 inscritos. Depois se juntaram os alunos e ainda outras pessoas que foram sendo convidadas pelos alunos." Uma das novas aquisições é a auxiliar administrativa Rosemary Franco de Santana, a Rose, que, além de mostrar o samba no pé no espetáculo, ainda trouxe o marido, Luís Cláudio, para integrar a percussão. "Fiquei sabendo da oficina e resolvi participar para trabalhar um pouco o corpo. Nem sabia se iria dar certo porque trabalho e estudo à noite", conta Rose, que já havia feito um curso livre de dança no próprio Sesc. Tiago Henrique Oliveira dos Santos, atendente de telemarketing de 21 anos, é outro antigo usuário da instituição que agora vai compor o elenco de Um Minuto de Silêncio. Depois de participar do Projeto Curumim - programa direcionado para crianças de 7 a 12 anos que o Sesc mantém em todas as unidades -, Tiago volta de cavaquinho na mão. "Estou ajudando em tudo que posso em prol do espetáculo", diz entusiasmado. "Teve um dia, por exemplo, que até ajudei a costureira a pintar alguns tecidos do figurino. Estou muito ansioso." Já a família Pitelli está inteira no espetáculo. O pai, Milton, vai tocar percussão para a mãe, Lanza, e o pequeno Gustavo, de 10 anos, dançarem e também fazer seus sons. "Meu filho interpreta na abertura do primeiro ato e toca um instrumento de percussão chamado lua, que reproduz um som parecido com o som do mar. Minha mulher dança e canta."



Um Minuto de Silêncio, que contará com mais de 100 pessoas no palco, estreará no dia 17 de outubro e será apresentado ainda nos dias 18, 19, 24, 25 e 26 do mesmo mês.

 

 

 

volta ao início

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cardápio musical

 

Programação paralela leva o samba a vários cantos da unidade

 

Além do espetáculo Um Minuto de Silêncio, prato principal desse banquete musical em homenagem ao samba, muitos outros aperitivos e acompanhamentos serão servidos no Sesc Consolação durante todo o mês de outubro. A programação especial chama-se Na Casa da Tia Ciata - uma referência à residência da mais famosa das tias baianas do início do século passado no Rio de Janeiro, onde se reuniam compositores, como Donga, Sinhô e João da Baiana, para saraus musicais e que é tida como o cenário do nascimento do samba. A casa da Tia Ciata tornou-se tão tradicional que nos primeiros anos de desfile das escolas de samba cariocas era como que obrigatório passar diante dela.



A revisitação desse antigo núcleo de efervescência musical contará com shows de samba no hall da unidade, exibição de curtas-metragens, oficinas de construção de instrumentos, de dança, bate-papo com artistas e estudiosos e ainda uma exposição que vai transformar a unidade numa autêntica "casa da Tia Ciata". "O palco vai ser a cozinha, a sala de visitas, que será mais no fundo, vai ter fotos de sambistas antigos, com sofás etc. -, como se fosse uma sala mesmo - e haverá a recriação de um terreiro na parte central do hall", explica Flávia Miari, técnica da unidade. As atividades paralelas começam dia 9 e seguem até 1º de novembro. Confira no Em Cartaz.



volta