ENCONTRO
DE BAMBAS
Alunos do Centro Experimental de Música se reúnem para
contar no palco a história do samba
Já
virou uma espécie de tradição. Todo ano, desde 2003,
o Centro Experimental de Música (CEM) do Sesc Consolação
realiza um grande espetáculo envolvendo tanto alunos de seus cursos
regulares como interessados em participar do trabalho (veja
boxe Cardápio
musical). Geralmente essa iniciativa é levada ao palco do Sesc
Anchieta, teatro da unidade que abre as portas para músicos e bailarinos
não profissionais. A primeira grande montagem foi 24 Óperas
por Dia, com músicas de Livio Tragtenberg e arranjos em parceria
com alunos; em 2004 foi a vez de O Gigante da Floresta, criado
por Hélio Ziskind; no ano passado, o espetáculo foi Ópera
do Meio do Mundo, com concepção de André Abujamra,
que contou com a participação de jovens tanto do CEM quanto
do programa Tribo Urbana, também da unidade Consolação.
A apresentação aconteceu no Sesc Vila Mariana como parte
da Mostra Sesc de Artes - Mediterrâneo.
Neste ano, em vez de convidar um músico já consagrado, entra
em cena a equipe de técnicos do próprio Sesc para assinar
a idéia original. Em Um Minuto de Silêncio, espetáculo
de 2006 do CEM que aborda a origem do samba, o tema nasceu lá dentro
mesmo. "Neste ano a gente quis inverter um pouco", explica Flávia
Miari, técnica da unidade. "O que foi muito bacana no ano
passado foi o processo. Na parte de figurino, por exemplo, criou-se um
grupo de adolescentes para fazer as roupas e essa experiência deu
muito certo. Então, desta vez a gente quis radicalizar esse processo,
fazer com que esse caráter didático se manifestasse em várias
esferas." O passo seguinte foi chamar quem pudesse tocar a idéia
junto com os alunos do CEM. Foi nesse momento que surgiram na cena Cacá
Machado, o diretor musical, e Vadim Nikitin, responsável pela parte
cênica. "O Cacá tem uma pesquisa sobre compositores
desse período de surgimento do samba", diz Flávia.
"Daí ele indicou o Vadim, que é diretor e ator, e que
trouxe a base literária. E esse era o campo que a gente queria
trabalhar."
Todo mundo no palco
O processo teve início com o que os diretores chamam de etapa pedagógica.
Durante os meses de junho e julho, a dupla reuniu os professores do CEM
e realizou encontros nos quais o tema era discutido. "A gente vinha
aqui, preparava um material sonoro, de imagens, filmes etc. e começava
a discutir", afirma Machado. Foi dessas discussões que a idéia,
ainda um pouco difusa, começou a ganhar contornos mais nítidos.
"Durante uma dessas reuniões, nós chegamos até
um samba antigo, do compositor Monsueto Menezes, chamado O Couro do
Falecido, que nos serviu de mote para o espetáculo. Tanto que
o nome Um Minuto de Silêncio é o primeiro verso desse
samba", conta Nikitin. "O samba diz: 'Um minuto de silêncio
/ Pro cabrito que morreu / Se hoje você samba / É que o couro
ele nos deu'. A gente viu implícita nessa letra a idéia
de que o samba, e a música em geral, vêm de um processo de
sacrifício. Até para criar um instrumento você precisou
matar um bicho e esticar sua pele. E foi desse sacrifício que vieram
a beleza, a dor e o prazer", esclarece Machado. "Esse é
um tema recorrente em sambas desde a década de 30."
Em
seguida foram criadas oficinas com o intuito de reunir pessoas para compor
o espetáculo em áreas que os cursos do CEM não cobriam,
como figurino, percussão e expressão corporal - cursos realizados
especialmente para o musical. "A idéia é que todo mundo
possa entrar, a inclusão é muito bacana", declara Flávia,
do Sesc. "Cada oficina teve 20 inscritos. Depois se juntaram os alunos
e ainda outras pessoas que foram sendo convidadas pelos alunos."
Uma das novas aquisições é a auxiliar administrativa
Rosemary Franco de Santana, a Rose, que, além de mostrar o samba
no pé no espetáculo, ainda trouxe o marido, Luís
Cláudio, para integrar a percussão. "Fiquei sabendo
da oficina e resolvi participar para trabalhar um pouco o corpo. Nem sabia
se iria dar certo porque trabalho e estudo à noite", conta
Rose, que já havia feito um curso livre de dança no próprio
Sesc. Tiago Henrique Oliveira dos Santos, atendente de telemarketing de
21 anos, é outro antigo usuário da instituição
que agora vai compor o elenco de Um Minuto de Silêncio. Depois
de participar do Projeto Curumim - programa direcionado para crianças
de 7 a 12 anos que o Sesc mantém em todas as unidades -, Tiago
volta de cavaquinho na mão. "Estou ajudando em tudo que posso
em prol do espetáculo", diz entusiasmado. "Teve um dia,
por exemplo, que até ajudei a costureira a pintar alguns tecidos
do figurino. Estou muito ansioso." Já a família Pitelli
está inteira no espetáculo. O pai, Milton, vai tocar percussão
para a mãe, Lanza, e o pequeno Gustavo, de 10 anos, dançarem
e também fazer seus sons. "Meu filho interpreta na abertura
do primeiro ato e toca um instrumento de percussão chamado lua,
que reproduz um som parecido com o som do mar. Minha mulher dança
e canta."
Um Minuto de Silêncio, que contará com mais de 100
pessoas no palco, estreará no dia 17 de outubro e será apresentado
ainda nos dias 18, 19, 24, 25 e 26 do mesmo mês.
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Cardápio
musical
Programação
paralela leva o samba a vários cantos da unidade
Além
do espetáculo Um Minuto de Silêncio, prato principal
desse banquete musical em homenagem ao samba, muitos outros aperitivos
e acompanhamentos serão servidos no Sesc Consolação
durante todo o mês de outubro. A programação
especial chama-se Na Casa da Tia Ciata - uma referência à
residência da mais famosa das tias baianas do início
do século passado no Rio de Janeiro, onde se reuniam compositores,
como Donga, Sinhô e João da Baiana, para saraus musicais
e que é tida como o cenário do nascimento do samba.
A casa da Tia Ciata tornou-se tão tradicional que nos primeiros
anos de desfile das escolas de samba cariocas era como que obrigatório
passar diante dela.
A revisitação desse antigo núcleo de efervescência
musical contará com shows de samba no hall da unidade, exibição
de curtas-metragens, oficinas de construção de instrumentos,
de dança, bate-papo com artistas e estudiosos e ainda uma
exposição que vai transformar a unidade numa autêntica
"casa da Tia Ciata". "O palco vai ser a cozinha,
a sala de visitas, que será mais no fundo, vai ter fotos
de sambistas antigos, com sofás etc. -, como se fosse uma
sala mesmo - e haverá a recriação de um terreiro
na parte central do hall", explica Flávia Miari, técnica
da unidade. As atividades paralelas começam dia 9 e seguem
até 1º de novembro. Confira no Em Cartaz.
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