por Laerte
O cartunista Laerte, autor de séries como Os Piratas do Tietê e redator da extinta TV Colosso, na rede Globo, esteve na reunião de pauta da E falando sobre suas atividades atuais e os futuros projetos. A seguir trechos do seu depoimento:
No teatro "Hoje, eu faço tiras na Folha - foi o reduto que sobrou - e estou com uns projetos muito legais. Um deles é no teatro do Sesi: uma peça minha inspirada nos Piratas do Tietê. É uma peça de teatro que se chama Piratas do Tietê - o Filme. Na história, os Piratas do Tietê, que estavam presos há algum tempo, fogem da masmorra no dia em que eles seriam executados e começam a barbarizar a cidade numa hora muito especial. As autoridades contratam um camarada chamado Silver Joe - que é um caçador de piratas - e a história é essa: a tentativa do Silver Joe de capturar e liquidar os piratas. Só que para isso ele utiliza o cinema. Ele atrai os piratas com a possibilidade de fazer um filme e eles ficam muito empolgados com a idéia de ganhar um Oscar de ouro - mais por causa do ouro que pelo prestígio do prêmio. E as coisas vão seguindo para um final de surpreendentes revelações que eu não posso revelar! Mas é muito legal. O grupo que faz a montagem tem tradição circense: é o La Mínima, acrescido de outras pessoas, como o Alexandre Roit, que foi dos Parlapatões. E a direção é de Beth Lopes. Além disso, estou fazendo o roteiro de um filme, junto com um amigo meu, o Alan Fresnot. Mas tem outro projeto para cinema, uma animação, que está mais em banho-maria. E, por fim, o meu projeto maior na área impressa é a volta de uma revista, uma publicação bimestral. Esse foi a minha promessa de ano novo. 'Esse é o ano que eu volto às bancas com uma revista', eu prometi. E teve a minha exposição. Esse ano foi inaugurado o Museu de Artes Gráficas - onde fica o Arquivo do Estado - com uma exposição geral do acervo deles e com uma retrospectiva minha de 30 anos de trabalho. Foi uma mostra muito interessante, em alguns aspectos um pouco artesanal demais - poucas informações etc. - mas eu pretendo ampliá-la e fazê-la circular por aí."
TV de humor "A experiência de trabalhar com televisão, no caso da TV Colosso, foi meio frustrante, porque a direção do programa não tinha experiência de trabalhar com humor. Humor é uma coisa muito delicada. Se você erra na mão já não se percebe mais a graça. Então, tudo tem de estar certo. A piada tem de ser boa, a direção tem de respeitar o tempo e o espectador tem de ser inteligente. O fato é que o humor da TV Colosso se frustrava na área da direção, que era muito burocrática e apressada. Mas o programa fez sucesso. Quem fez os bonecos e vendeu a idéia para a Globo foi o Luiz Ferré, um gaúcho que até hoje está por aí fazendo publicidade. Ele chamou o pessoal dos quadrinhos para fazer roteiros. Eu fazia a redação final e dirigia uma equipe de roteiristas que eram todos os quadrinhistas que a gente conhece: o Angeli, o Glauco, o Fernando Gonzales e outros. Era maluco porque a precariedade na qual a gente trabalhava era um lance inimaginável. O pessoal que assistia ao programa na Globo não sabia que a gente tinha acabado de escrevê-lo algumas horas antes. O programa de estréia ficou pronto pouco antes de ir para o ar. Estava tudo ainda sendo montado, as pessoas com olheiras por ficarem sem dormir. E assim foi o tempo todo. Era uma pizzaria: 'agora manda um assim...' A gente nunca conseguiu uma distância maior. Só que era a TV Globo, não era para ser assim. Como membro da equipe que fazia o programa eu sentia falta de mais controle. A gente estava muito solto. Não tinha controle por parte da Globo porque ela estava num tipo de gerência que não alcançava essa parte de produção artística. E não tinha gerência da parte do Ferré porque ele não fazia parte da direção do projeto na Globo. Ou seja, nós estávamos meio num limbo. A gente ia produzindo e mandando... Não foi um sistema bom. Mas, por outro lado, o pessoal da Globo estava aprendendo a lidar com essas coisas. Espero que no próximo programa desse tipo as lições tenham valido."
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