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Comportamento
Para menores de 18

Jovens de 14 a 18 anos encontram nas atividades e no ambiente do Sesc uma chance de expressar seus pensamentos, exercer a autonomia que lhes começa a ser atribuída e interagir com o mundo, à sua maneira

É verdade. Eles são barulhentos, inquietos, enlouquecem os mais velhos com sua irreverência e até uma certa arrogância - intrínsecas à sua idade - e acham que têm razão em onze de cada dez opiniões suas. O comportamento dos adolescentes - que ganharam o trocadilho "aborrecentes" por parte dos mais ranzinzas - é alvo de críticas, análises e propagandas de tudo que o que é considerado radical - do skate mais chamativo à banda mais ruidosa do momento, passando por refrigerantes "sabor aventura" e revistas com galãs esdrúxulos na capa. Mas o que talvez falte no momento de emitir uma opinião mais impaciente em relação a eles, embora isso venha sendo alardeado há muito pelos especialistas, é que a adolescência é uma fase da vida bem delicada. Para eles e para os pais. Se por um lado aquela linda garotinha começa a assumir um comportamento "adulto" que simplesmente parece não combinar com ela e o seu rapazinho quer chegar de madrugada no sábado; por outro, os interesses da menina não se limitam mais à sua boneca preferida e o objeto de desejo do rapaz não é mais a bicicleta. "Adolescência pra mim é uma transição que a gente passa para se tornar adulto", diz Eliane de Oliveira, de 17 anos. "Nosso relacionamento com a família é meio complicado porque as nossas idéias entram muito em conflito com as dos nossos pais." Uma vida mais independente. Esse é o dilema clássico nessa idade, impasse com o qual todos se identificam. "Nossos pais dizem que têm mais experiência e é verdade, mas só que eles tentam, por proteção e por amor, pular certas fases da nossa vida. Isso acontece muito comigo", concorda Juliana Lazano, de 16 anos. No entanto, o que as duas meninas têm em comum não é somente a relação cheia de dedos com os pais. Elas fazem parte de uma galera muito especial que freqüenta o Sesc Pompéia e que encontra lá amizade, ocupação saudável, respostas e questionamentos. É a moçada do Alta Voltagem, um projeto do Sesc que existe há três anos e que leva, por meio de atividades artísticas, uma forma de cooptar os muitas vezes dispersos adolescentes em torno de um lazer mais informativo e preocupado com a formação crítica dos jovens. Lá, o teatro é a grande mola-mestra. Eles escolhem os temas e desenvolvem montagens, ficando responsáveis também pelo cenário e figurino. Têm poder de decisão, mas também recebem orientação. "É uma escolha nossa, por isso a gente acata as 'ordens' do pessoal daqui sem problemas. A gente gosta de estar aqui", revela Suelen Portugal, de 15 anos, também integrante do grupo.

E viva a diferença!
Alguns deles freqüentam o Sesc desde criança. De início trazidos pelos pais, resolveram, posteriormente, criar sua própria relação com o espaço. Quando eles gostam, tratam de chamar os amigos, e o grupo cresce. Cada um encontra um motivo para freqüentar os cursos e atividades do Sesc, mas todos se sentem bem situados e longe dos problemas que rondam essa idade, como falta de opções de lazer ou perigos ainda mais graves. "Aqui tem pessoas de todos os tipos", conta Pedro Henrique, 16 anos. "E é preciso aprender a conviver com a diferença para viver melhor com as pessoas que você gosta." "Esse tempo passado aqui no Sesc ajuda nesse processo porque você encontra pessoas com realidades muito diferentes da sua", retoma Juliana Lazano. "Isso ajuda você a entender um pouco mais as coisas."
Caroline Cristine Fernandes Paulo tem 16 anos - "mas pode colocar aí 17 que eu quero parecer mais velha", solicitou, brincando. Seus pais são separados e ela, como filha mais velha, ajuda nos afazeres de casa. Porém, a vida já tão cheia de responsabilidades não esmaece seu brilho de menina. Ela é uma das mais falantes e, claramente, possui uma das personalidades mais fortes do grupo. "Eu é que tenho de arrumar a casa", começa a contar. "Só que se dá alguma coisa errada, eu é que tenho de dar conta. É um peso que eu levo. Minha mãe diz que sabe que eu às vezes não tenho tempo para os meus amigos. Mas eu digo pra ela 'mãe, é a vida...'." A mãe de Carol, como é chamada pelos colegas, é corretora de imóveis e trabalha "de domingo a domingo", segundo conta. Ela cuida da irmã de três anos e segura a barra do irmão de 14 - "meio revoltado, sabe" - mas sobra tempo para se divertir com os amigos do Sesc Pompéia. "Ela tem uma personalidade única", solta o colega Daniel de Queiroz Nunes, 17 anos. "Eu acho que todos nós somos únicos, mas ela tem uma personalidade totalmente definida. E isso é difícil na adolescência." E o que mais o Daniel pensa da própria idade? "Todo adolescente quer ser o centro das atenções", responde. "Por exemplo: às vezes, o adolescente mente para o pai porque quer ser notado. Muitos de nós procuram o teatro porque é isso que a gente quer pra gente agora: poder se mostrar, nem que seja por cinco minutos." O amor pelo teatro e a vontade de se expressar também levou Leandro Hainis, de 17 anos, a procurar o Sesc. "Eu comecei por causa da paixão pela arte, que é muito forte em mim". Dono de uma densidade incomum em rapazes tão imberbes, Leandro encontrou o que procurava. "O curso daqui é um bom começo para quem quer ser ator, você cresce bastante. Você acaba ganhando um jogo de cintura que te ajuda em casa e te ajuda a se descobrir. E isso é o principal: você se conhecer antes de agir com os outros."

Liberdade de escolha
Nos cursos do Sesc Consolação, a moçadinha é mais jovem. Treze e quatorze anos. É a pré-adolescência. No Tribo Urbana, conjunto de cursos em teatro, canto e esportes criados pela unidade e voltados especialmente a esse público os dilemas ainda não recaem sobre dificuldades de relacionamento com os pais ou responsabilidades prematuras. Mas os anseios de individualidade e o poder de escolha já despontam como objetivos desses jovens que ontem mesmo eram crianças. Fernando Moroni Serio tem 14 anos e desde os 11 freqüenta o Sesc, quando ingressou no Curumim, projeto voltado a crianças de 7 a 12 anos. Ele é o típico "moleque espoleta" à primeira vista. Sempre pulando, falante, sempre cutucando os colegas com alguma observação ou comentário. Mas quando se conversa com ele, se percebe que o rapazinho é, diga-se, consciente de seus direitos. "Eu já arrumei encrenca com um professor do Sesc uma vez porque comecei a criticar o projeto dele", conta fingindo timidez. Já Fernanda Alves Vieira, 17 anos, e sua irmã Priscila, de 16, foram levadas ao Sesc por uma amiga e freqüentam a unidade, participando de vários de seus cursos, há um ano, desde que chegaram do Ceará. A história delas com São Paulo se mistura às experiências vividas no Sesc. Fernanda diz que o que acha mais legal é a chance de conhecer pessoas e "ficar por dentro da cultura". "No ano passado, houve um curso de danças populares brasileiras e eu já conhecia um pouco das danças do Nordeste", conta. "Foi muito bom, eu já sabia um pouco do maracatu, do coco." A jovem sorridente conta que a primeira vez que pisou no palco foi uma experiência inesquecível para ela. "Foi tudo. Eu me senti uma estrela". No Ceará, as irmãs participaram de vários projetos voltados ao público adolescente realizados na cidade de Juazeiro do Norte, e não foi difícil dar continuidade a esse interesse aqui em São Paulo. Mas não é só a dança o ponto forte de Fernanda. Ela adora esporte, como o futsal. "É melhor que ficar na rua fazendo coisas erradas, se envolvendo com drogas." A irmã concorda: "Eu tenho várias amigas que eu convido para virem para cá e elas preferem ficar em casa assistindo novela e programas de fofoca à tarde", conta. "Eu digo 'ah, então fiquem aí com sua novela'."
Os amigos Rodrigo Justino da Silva, de 17 anos, e José Roberto Donadeli, de 14, se conhecem há dois anos. Participaram de um espetáculo de teatro na escola na qual o mais velho deles fez o papel de pai do mais novo. Pronto. Estava instituída a brincadeira. Eles seriam "pai e filho" pelo resto da amizade. "Infelizmente quando nós chegamos as inscrições para a turma de teatro já tinham acabado", lamenta Rodrigo, o "pai". "Mas resolvemos fazer dança enquanto esperamos novas vagas. Sabe como é, né?, está tudo ligado: teatro, dança, canto." "Hoje em dia a gente não tem muito a oportunidade de fazer os cursos que a gente gosta porque são muito caros", completa Rodrigo, o "filho". "É por isso que é legal vir aqui ao Sesc." Ambos moram em Guaianazes e enfrentam quatro horas diárias de viagem para chegar até a escola - perto da unidade Consolação. Tão longe de casa, resolvem ficar e passam a tarde inteira no Sesc. "Se a gente fosse ficar em casa estaríamos na rua", conta Rodrigo. "Então a gente sai da escola e vem pra cá fazer uma coisa, assim, mais cultural." Além do Sesc Consolação, os amigos freqüentam a unidade Itaquera. Um lugar, segundo José Roberto, que é um "oásis no meio da selva de pedra". O arroubo de lirismo do amigo não passa em branco. A turma toda cai na risada e o amigo Rodrigo rebate: "Meu Deus! Meu filho é um poeta!"


Jovens cidadãos - Adolescentes conquistam auto-estima exercendo a cidadaniaO jovem Daniel de Queiroz Nunes fez questão que a reportagem citasse o trabalho que ele e os colegas desenvolvem com crianças no Sesc Pompéia. Uma iniciativa gerida por eles, da qual o Sesc participa oferecendo o que eles mais sentem falta: espaço. A seguir, todo o entusiasmo de Daniel em suas próprias palavras:
"Além de o Sesc nos oferecer todas essas atividades, ele cedeu também o seu espaço para a gente desenvolver um projeto com a Fundação Abrinq, o Mudando a História. É um trabalho com crianças no qual a gente lê pra elas. Achei isso bem legal da parte deles. As crianças adoram as brincadeiras. Elas chamam a gente de tio e a gente adora. Elas vem pra gente e contam os probleminhas delas. É fascinante o jeitinho delas, sabe? A gente pensa que criança é bobinha, mas elas são muito espertas."