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Comunidade Vila África- um Quilombo urbano
Por Marcia Maria Antônio*
e Fernanda Ferreira**
As manifestações culturais afro-caipiras da comunidade Vila África giram em torno da dança-afro, da percussão, do Samba de Terreiro, da Oralidade, da Beleza Preta, das Tranças Afros, das amarrações africanas, da Discotecagem, do Rap e do Grafite.
Atualmente com o Ponto de Cultura, a comunidade visa contemplar ações culturais pretas no âmbito da memória local, na perspectiva de um Quilombo Urbano em Piracicaba, bem como a valorização da sua ancestralidade. A constituição histórica e social dessa comunidade se dá pela presença acentuada de negros, que a partir de meados do séc XX passaram a residir na região do Bairro Independência. Os iniciadores da comunidade são os membros da família Antônio, que ainda hoje têm descendentes residindo no local dando continuidade em suas expressões.
No intuito de manter a sua autoestima, os moradores da comunidade da Vila África têm na cultura de matriz africana o seu principal apoio, o que configura uma produção bastante elaborada desses fazeres cotidianos desse povo. Contudo, com a ausência de espaços adequados para preservação dessas manifestações, que originalmente aconteciam na rua, a mudança de alguns moradores e o falecimento de lideranças mais antigas, tem ocorrido a diminuição dessas ações culturais, gerando risco à sua continuidade e transmissão.
Dessa maneira, para que possa ocorrer a preservação do patrimônio material que se constituiu na Vila África, já reconhecida pela comunidade negra como um patrimônio cultural urbano, sendo alvo de interesse de pesquisadores ligados ao tema, se tem, também, o intuito da preservação do patrimônio imaterial que se desenvolve no local, dando ênfase em todas as suas ações bem como agregando a outros pilares que ocorrem historicamente na comunidade, entre elas o batuque de umbigada, o samba, a capoeira, entre outras.
Com o propósito de dar continuidade a transmissão dessas práticas culturais -através da tradição oral, da dança, do tambor, da trança, do samba- atualmente diferentes ações como participação em projetos, editais e a conquista de um Centro Cultural Vila África para atividades formativas, oficinas etc, têm colaborado nos processos de ensino-aprendizagem na comunidade. A tradição constituída na Vila África é o mecanismo pelo qual seus participantes vêm preservando e transmitindo suas formas e maneiras de ser, sem, contudo, deixar de contar com o documento escrito ou outros modos de suporte técnico e tecnológico de preservação.
No entanto, a valorização do patrimônio espacial: territorial e cultural que constitui a comunidade é uma necessidade, sem a qual tudo fica ameaçado. Tais comunidades somente existem por estes processos de resistência, nos quais as elaborações das formas de vida solicitam, de tempos em tempos, o apoio cuidadoso dos órgãos públicos e outros seguimentos sociais engajados no cuidado e preservação dos símbolos culturais e históricos do município. Preservando, desta maneira, os vários modos de ser e estar que constituem a história de Piracicaba.
O reconhecimento externo, além do interno, demonstra a relevância da Vila África para se pesquisar os processos de resistência negra urbana, assim como as expressões organizativas que se desenvolveram na comunidade como forma de enfrentamento do racismo.
Ampliar os traços de identificação das pessoas ao local, o que contribui para valorização da autoestima e da identidade dialógica são aspectos que se pretende enfatizar, tendo como objetivo a integração da população.
* Marcinha da Vila África é Membra remanescente da Comunidade da Vila África. Dançarina, pesquisadora e professora de danças africanas e afro-brasileira, articuladora e ativista cultural. Formada em Educação Física e Pedagogia. Professora de capoeira e ritmos brasileiros. Pós graduanda e gestão educacional. Membra do Coletivo Anônimos da Dança. E-mail: marcielari@gmail.com
**Fernanda Ferreira é artista dança, articuladora-ativista-produtora cultural. Formanda em pedagogia, mestra e doutoranda em educação no campo da experiência estética infantil. Membra da Comunidade Vila África e do Coletivo Anônimo da dança. E-mail: nandaferreira4@hotmail.com