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Sesc Digital recebe a mostra "Afrofuturismo - Diásporas e Fronteiras" na série Curta em Francês

Tendo a língua francesa como princípio, a mostra Afrofuturismo: Diásporas e Fronteiras compila 10 títulos de curtas-metragens que se relacionam com o movimento afrofuturista

 

Os filmes trazem a potência das narrativas de ficção especulativa intermediados pela ancestralidade e pela tecnologia dentro das perspectivas negras, concebendo um olhar crítico para reimaginar o passado, intervir no presente e, consequentemente, transformar o futuro. Com passagens entre Burkina Faso, Congo, Guadalupe, Bélgica, Martinica, Madagascar, Reunião, França e Brasil, as obras estão divididas em dois programas: "Utopias Pretas" e "Infância, Juventude e Fabulação".

Esta mostra é uma iniciativa das Alianças Francesas do Brasil em parceria com o Sesc São Paulo, pensada de acordo com o Novembre Numérique (um festival que celebra a cultura digital em suas mais diversas formas: webnários, podcasts, realidade estendida e muito mais…) e com o apoio do Institut Français de Paris e da Embaixada da França. O Afrofuturismo também foi inspirado pelo mês da consciência negra, e possibilitado graças a duas curadoras especialistas desta temática, Kariny Martins e Kênia Freitas. 

O Programa 1, intitulado Utopias Pretas, reúne títulos que possuem o território como premissa para pensar e fabular espaços outros em África e em suas diásporas. O contexto histórico em que as narrativas estão inseridas saem de lugares que confrontam as versões dos fatos já pré-estabelecidas, fazendo com que haja uma força utópica ao supor outras linhas possíveis na história oficial do mundo. Em Bablinga (Fabien Dao, Burkina Faso/França, 2019), lembranças fantasmagóricas do passado se misturam com perspectivas de um futuro em que seja possível regressar à vila natal, em uma narrativa em que migração e assombro se conjugam. Fouyé Zétwal (Plowing the Stars, Wally Fall, Guadeloupe, 2020) faz chocar história pessoal e história política de Guadalupe, em um exercício poético de experimentação. Radical também é a especulação histórica proposta por MADA ou l'histoire du premier homme (Laurent Pantaléon, La Réunion, 2021), falso documentário que re-imagina com muito humor a origem da humanidade fora das perspectivas eurocêntricas. Em NoirBLUE – les déplacements d’une danse (Ana Pi, Brasil, 2018) as fronteiras afrodiaspóricas são refeitas como coreografias de uma dança transnacional e atemporal. Fechando o programa, a criação visual e musical afrofuturista de Baloji explode nos belos Peau de Chagrin / Bleu de Nuit (Baloji, RDC/Belgique, 2018). Nesse conjunto de filmes, a imaginação surge como uma possibilidade de enfrentar o passado para pensar em outras maneiras de construir futuros mais habitáveis.

 

Foto: Divulgação

 

Já o Programa 2: Infância, Juventude e Fabulação permeia o universo infantil e jovem que também tem o imaginário como linha de força. Os filmes desse programa entendem o corpo infantil/juvenil como potência criadora de outras possibilidades de existir. Em Invencível (Cédric Ido, Burkina Faso/França, 2013), a realidade complexa de uma Burkina Faso em ebulição ganha contornos fantásticos do universo dos super heróis através do olhar infantil do protagonista do filme. Le fantôme du roi (Raphaële Bénisty, França, 2018) persegue o fantasma e as lembranças de Michael Jackson na Costa de Marfim, lar dos ancestrais e, agora, de seu espírito. Doubout (Sarah Malléon & Pierre Le Gall, França, 2018) transforma a tristeza da partida para longe de casa em um jogo infantil de caça aos monstros. Passando-se em um futuro próximo, Chico (Irmãos Carvalho, Brasil, 2016) aborda a impossibilidade das crianças negras vivenciarem plenamente a sua infância, sendo desde muito novas criminalizadas pelo Estado. Já em Inexorable (Philippe Lugsor, Martinique, 2018), o futuro da juventude negra é ameaçado pelo desastre ecológico e o domínio das grandes corporações. Esse é então um programa que vislumbra novas formas de contato com o mundo que já existe - seja para suspendê-lo ou substituí-lo por outros mundos (im)possíveis.

Atravessando diásporas e fronteiras nos afrofuturos, a mostra convida espectadories a ressignificarem os sentidos de utopia e de fabulação a partir das perspectivas negras. Assim, a utopia pode ser percebida como uma imaginação radical que desafia a linearidade temporal e as barreiras especiais. E a afrofabulação como um meio crítico a esta realidade, que abre caminhos para que outros sentidos possam ser definidos e vivenciados.

 

LISTA COMPLETA DOS CURTAS-METRAGENS

 

 

Programa 1 - Utopias Pretas

BABLINGA
Dir.: Fabien Dao | Burkina Faso, França | 2019 | 15 min | Ficção | Livre

Moktar sempre disse que, quando conseguisse fechar seu bar Bablinga, ele voltaria para Burkina. Esse dia chegou, mas ele não está pronto para partir. Nesse dia, fantasmas se convidam para celebrar a última noite do bar.

FoUYÉ ZÉTWAL (Plowing the Stars)
Dir.: Wally Fall | Guadeloupe, França | 2020 | 14 min | Ficção | Livre

A jornada em direção ao pai leva uma mulher a uma reflexão vigorosa e urgente sobre a vida. Cada passo se manifesta como um ato político de memória, questionando o que significa a história de Guadalupe. A narração crioula investiga a violência sistêmica de certos símbolos, confronta o silêncio opressor e evoca forças de libertação. Da intensa fruição desta poesia fílmica surge o convite descolonial a transformar a realidade viva para sonhar com um futuro ligado à própria natureza.

MADA (l'histoire du premier homme)
Dir.: Laurent Pantaléon | La Réunion, França | 2021 | 10 min | Ficção | Livre

Há muitos anos antes de muitos anos atrás, as ilhas do Oceano Índico formavam um enorme continente. Há muitos anos antes de muitos anos atrás, na província de Madagascar, nasceu o primeiro homem. Há muito anos atrás, os homens falsificaram essa história. É hora de restabelecer a verdade.

NoirBLUE (les déplacements d’une danse)
Dir.: Ana Pi | Brasil | 2018 | 27 min | Ficção | Livre

No continente africano, Ana Pi se reconecta às suas origens através do gesto coreográfico, engajando-se num experimento espaço-temporal que une o movimento tradicional ao contemporâneo. Em uma dança de fertilidade e de cura, a pele negra sob o véu azul se integra ao espaço, reencenando formas e cores que evocam a ancestralidade, o pertencimento, a resistência e o sentimento de liberdade.

Peau de Chagrin / Bleu de Nuit
Dir.:  Baloji | República do Congo, Belgique | 2018 | 10 min | Ficção | Livre

"Meu amor, podemos combinar o fútil com o agradável antes de ser reduzido a uma pele de tristeza?"

 

Programa 2 - Infância, Juventude e Fabulação

INVENCÍVEL (Twaaga)
Dir.: Cédric Ido | Burkina Faso, França | 2013 | 30 min | Ficção | Livre

Burkina Faso em 1985 é um país com espasmos de revolução. Manu, um jovem garoto que adora histórias em quadrinhos, busca a companhia do irmão Albert. Quando Albert decide passar por um ritual de magia, Manu percebe que existem poderes reais que podem fazer frente aos super heróis.

Le fantôme du roi
Dir.: Raphaële Bénisty | França | 2018 | 21 min | Ficção | Livre

Dez anos após sua morte, a memória de Michael Jackson não está apenas viva na Costa do Marfim, mas seu fantasma está lá, vagando pela terra de seus ancestrais.

DOUBOUT
Dir.: Sarah Malléon & Pierre Le Gall | França | 2018 | 19 min | Ficção | Livre

Joseph, 8 anos, recusa-se a aceitar a partida de seu irmão mais velho para a Metrópolis. Influenciado pelas histórias tradicionais de seu avô, ele está convencido de que Lentikri, um monstro martinicano ancestral, ronda pela casa para atacar sua família. José decide confrontá-lo.

CHICO
Dir.: Irmãos Carvalho | Brasil | 2016 | 23 min | Ficção | Livre

2029. Treze anos depois de um golpe de Estado no Brasil, crianças pobres, negras e faveladas são marcadas em seu nascimento com uma tornozeleira e têm suas vidas rastreadas por pressupor-se que elas irão, mais cedo ou mais tarde, entrar para o crime. Chico é mais uma dessas crianças. No aniversário dele, é aprovada a lei de ressocialização preventiva, que autoriza a prisão desses menores. O clima de festa dará espaço a uma separação dolorosa entre Chico e sua mãe, Nazaré.

INEXORABLE
Dir.: Philippe Lugsor | Martinique | 2018 | 16 min | Ficção | Livre

Uma jovem e seu pai moribundo lutam para sobreviver em uma ilha devastada, destruída por algas marinhas venenosas que eles agora são forçados a coletar para uma megacorporação do mal chamada Sunryse.

 

Serviço
Mostra Afrofuturismo - Diásporas e Fronteiras
Plataforma Sesc Digital - Curta em Francês
De 17 de novembro a 18 de dezembro
Assista em: www.sescsp.org.br/curtaemfrances