Postado em
Nova estreia do CineSesc, “7 Prisioneiros” retrata a vida invisível e a escravização contemporânea
Premiado no Festival de Veneza, drama brasileiro protagonizado por Christian Malheiros e Rodrigo Santoro faz retrato contundente do tráfico humano e da escravização moderna
O CineSesc dá continuidade à sua programação presencial com a exibição do premiado longa-metragem “7 Prisioneiros”, de Alexandre Moratto, estrelado por Christian Malheiros e Rodrigo Santoro. O filme estreia hoje e permanece em cartaz até o dia 10 de novembro, com sessões diárias às 14h, 17h e 20h, exceto no próprio dia 10, com sessão apenas às 14h.
Esta é a oportunidade de conferir na telona uma das produções brasileiras mais elogiadas do ano e participante de diversos festivais mundo afora, como o de Toronto, no Canadá, e do Festival de Veneza, onde foi duplamente premiado com o Sorriso Diverso Venezia de Melhor Filme Estrangeiro e Menção Honrosa da Fundação Fai Persona Lavoro Ambiente, dentro da seção Horizonte Extra.
Pelos méritos recebidos e amplo reconhecimento da crítica mundial, “7 Prisioneiros” era tido como favorito para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2022. Antes mesmo de ter o representante definido, alguns sites estrangeiros e especializados em cinema, como a Variety e o Gold Derby, apostavam em “7 Prisioneiros” para figurar entre os finalistas na categoria Melhor Filme Internacional. No entanto, o filme foi preterido pela comissão da Academia Brasileira de Cinema e, em seu lugar, “Deserto Particular” foi o escolhido como candidato do país.
A seu favor, “7 Prisioneiros” está prestes a alcançar uma audiência considerável. Distribuído pela Netflix, no dia 11 de novembro, o filme entra como destaque no catálogo do streaming em mais de 10 países, incluindo Brasil, Reino Unido, França, Alemanha e Estados Unidos. Entre os produtores do longa, estão o cineasta Ramin Bahrani, recentemente indicado ao Oscar pelo roteiro adaptado de “O Tigre Branco” (2020), e o influente Fernando Meirelles, realizador de “Cidade de Deus” (2002) e “Dois Papas” (2019), entre outros títulos.
Foto: Divulgação
O diretor Alexandre Moratto e o ator Christian Malheiros retomam a parceria que iniciaram no drama intimista “Sócrates” (2019), que acompanha um garoto sem-teto e homossexual que enfrenta a miséria e o preconceito após a morte da mãe. O filme garantiu projeção internacional para a dupla de estreantes, tendo abocanhado diversos prêmios em festivais de cinema, incluindo menções ao Independent Spirit Awards, considerado o “Oscar do cinema independente”. O time ganha reforço com o talento de Rodrigo Santoro, que, ao lado de Malheiros, protagoniza cenas revoltantes de assédio e exploração de vulnerável.
Ambientado na capital paulista, a trama de “7 Prisioneiros” se inicia no interior do Estado, onde Mateus (Malheiros), de 18 anos de idade, sai acompanhado de um grupo de amigos rumo a São Paulo em busca de uma oportunidade de trabalho com carteira assinada. Eles, então, são empregados em um ferro-velho comandado por Luca (Santoro). Chegando lá, Mateus acaba sendo um dos prisioneiros do título, tornando-se vítima de um sistema de trabalho análogo à escravidão. Eis que ele será obrigado a decidir se continua trabalhando para o seu patrão carrasco ou se coloca a si mesmo e à família em risco.
É válido ressaltar que o Brasil foi o último país do Ocidente a abolir o regime escravocrata e que não requer muito esforço identificar as consequências herdadas deste atraso, pois reverbera até hoje na sociedade. Segundo levantamento da ONU, há atualmente 40 milhões de pessoas no mundo sujeitas à escravidão. Somando esse dado obsceno à atual legislação trabalhista do Brasil, um filme como “7 Prisioneiros” se faz obrigatório para amplificar o debate a respeito das condições degradantes a que muitos empregados são submetidos no ambiente de trabalho.
Com um poderoso discurso de resistência, “7 Prisioneiros” resgata um tema que é consenso enquadrar no passado distante, mas que, infelizmente, se mantém presente. A escravização moderna e o tráfico humano identificáveis nas relações atuais de trabalho são reflexos de como o Brasil lida com a sua própria história: em vez de reescrevê-la sem repetir os erros de antes, adapta-os para a contemporaneidade e reproduz o que já deveria ter sido superado.
“7 Prisioneiros” está em cartaz no CineSesc até o dia 10/11. Para adquirir os ingressos acesse aqui.
Serviço
7 Prisioneiros
CineSesc São Paulo
Rua Augusta, 2075 - Cerqueira César - São Paulo/SP