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O amor vence o ódio em “Deserto Particular”, uma saga de autodescoberta, representante do Brasil no Oscar 2022

Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação

Por Elton Telles*

O ano de 2021 tem se revelado um divisor de águas na carreira do cineasta Aly Muritiba. Para o streaming, o curitibano foi um dos realizadores da minissérie documental “O Caso Evandro”, inspirado no podcast homônimo criado pelo jornalista Ivan Mizanzuk. A série, composta por oito episódios, reconstitui os desdobramentos do crime bárbaro que vitimou o garoto Evandro Ramos Caetano, no início dos anos 1990 em Guaratuba, cidade litorânea do Paraná.

Para o cinema, Muritiba faturou dois Kikitos de Ouro no Festival de Gramado: Melhor Diretor e Melhor Roteiro pelo western ainda inédito no circuito, “Jesus Kid”, adaptação do romance de Lourenço Mutarelli e estrelado por Paulo Miklos e Sergio Marone. Além deste reconhecimento, um outro filme de sua autoria, “Deserto Particular”, foi o escolhido pela Academia Brasileira de Cinema como representante do Brasil para pleitear uma vaga na categoria Melhor Filme Internacional do Oscar 2022.

Ainda é cedo para fazer previsões se a candidatura vai ser convertida em indicação; a certeza é que o Brasil está muito bem representado na próxima temporada de premiações. Prova disso foram os 10 minutos de aplausos após a exibição do filme na última edição do Festival de Veneza, onde teve sua première mundial e saiu com o prestigioso Prêmio do Público.

 

 

No Brasil, a primeira sessão do filme aconteceu no CineSesc, durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Antes da estreia nas salas de todo o país, prevista para o próximo dia 25 de novembro, “Deserto Particular” será exibido novamente no CineSesc dentro da programação do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, que, entre os dias 10 e 21 de novembro, vai destacar as cores e a diversidade nas produções audiovisuais contemporâneas nacionais e estrangeiras.

A participação de “Deserto Particular” no Mix Brasil pode levantar algumas suspeitas sobre a história do filme, mas, para apreciá-lo por completo, a recomendação é saber o mínimo sobre a trama. Aqui uma sinopse básica: Daniel, um policial afastado da corporação, deixa tudo para trás e cai na estrada rumo a Sobradinho, no interior da Bahia, para se encontrar pela primeira vez com Sara, com quem se corresponde somente pela internet. E, nesta jornada para conhecer a mulher amada, é Daniel quem se vê num processo particular de autoconhecimento, num duelo constante entre desejo e repressão.

O roteiro engenhoso assinado por Muritiba e Henrique dos Santos faz uma divisão precisa do enredo, quando decide enfocar em diferentes personagens, interpretados pelo ator Antonio Saboia e a revelação Pedro Fasanaro. Esse recorte é bem-vindo porque não torna “Deserto Particular” um drama refém de seu “elemento surpresa”. O filme se aprofunda e desenvolve pontos de vista distintos, que inevitavelmente serão colocados à prova, sobre aceitação, identidade e relacionamento. Todo esse embate interno que corrói os protagonistas é guiado por sentimentos à flor da pele.

 

 

Não deixa de ser admirável a destreza da direção de Muritiba de sair de uma zona árida de violência subentendida para desabrochar um romance que comove o público. “Deserto Particular” comprova, no fim, que o amor é sempre maior que o ódio.

“Deserto Particular” será exibido em breve na sala do CineSesc na programação do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade. Acompanhe tudo sobre o festival em breve aqui no portal do Sesc e nas redes sociais do CineSesc e Sesc São Paulo.

 

* Elton Telles é jornalista, crítico de cinema e escreve para o CineSesc.