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Foto: Aluanny Ferreira l mãe e filha - parte da mostra fotográfica: Eu-Raiz
Foto: Aluanny Ferreira l mãe e filha - parte da mostra fotográfica: Eu-Raiz
#pracegover #pratodomundover Na foto, duas mulheres negras são retratadas debaixo de uma árvore. Nela, uma jovem está de olhos fechados, deitada no colo de uma mulher mais velha, que mexe em seus cabelos. Ambas estão vestidas com roupas brancas de modelos semelhantes


Por Bruna Dias*

“No meu peito de mulher carrego raízes profundas e antigas.” 

O Sesc São Paulo, com o intuito de fortalecer e ampliar o reconhecimento da cultura negra, bem como o fomento à convivência e o respeito pelas diferenças, vem apresentando anualmente o projeto Do 13 ao 20: (Re)Existência do Povo Negro, ação que busca, por meio de ações artísticas e educativas, contribuir para uma sociedade livre do racismo e de outras formas de opressão. 

Ao longo dos últimos meses, o Sesc Bertioga desenvolveu ações que têm buscado gerar reflexões sobre a importância e o poder que existe em contar a própria história - elaborando passados dolorosos, sim, mas também de celebração e sabedoria. Tomar a palavra como ato de insubordinação e resistência, além de uma forma de ocupar o mundo de forma ativa, com liberdade e mais-vida, é algo que, quando feito, contribui para transformar nossas existências e nos impelir a viver com mais saúde, força e beleza. 

Assim, apresenta-se aqui a conclusão do processo desenvolvido a partir da Oficina de autorretrato: mergulhos no espelho, que nos ajuda a contar a história e luta do povo negro, ato comumente realizado e reforçado no mês de novembro, pela ocasião do Dia da Consciência Negra. Mas, mais do que falar sobre, temos aqui a chance de nós mesmas nos apossarmos das nossas narrativas, retomando o protagonismo das nossas trajetórias e questionando os discursos que as fabricam. 

Diante de uma estrutura social que propaga o racismo e a consequente invisibilizacão da produção artística e cultural afro-diaspórica, estimular o ato de descolonizar nossos olhares, como também reivindicar e ocupar espaços artísticos, são práticas de reparação para povos que foram historicamente silenciados e subjugados, além de afastados das suas raízes, culturas e territórios. 

Foi com esses pensamentos-guia que começou a se desenhar a ideia da exposição coletiva intitulada “eu-raiz”, formada por um grupo-quilombo de mulheres negras residentes da cidade de Bertioga-SP, com diferentes origens e histórias. 

Foi durante e após a oficina de autorretrato expandido, com o pensamento de olhar para si e acessar suas profundidades, que Aluanny Ferreira, Jacira Ferreira, Lucélia Avelino, Maitê Dias, Maura Pereira e Vilene Lacerda produziram fotografias e textos que deram conta de narrar histórias de luta, fé, esperança, protesto, e acima de tudo: amor. 

 

A oficina, que trouxe como referências pensadoras e artistas como Sunshine Santos, Helen Salomao, bell hooks, Audre Lorde e Luedji Luna, buscou estimular essas mulheres a olharem-se e perceberem-se com mais carinho, num processo de criação coletiva, entendendo que fazemos parte de algo maior, que nos conecta umas às outras pela gota do sangue dos nossos ancestrais, e também de toda a nossa potência poética e artística. 

Segundo Audre Lorde “(...) É da poesia que nos valemos para nomear o que ainda não tem nome, e que só então pode ser pensado. Os horizontes mais longínquos das nossas esperanças e dos nossos medos são pavimentados pelos nossos poemas, esculpidos nas rochas que são nossas experiências diárias.”. Foi, portanto, por meio de encontros individuais e em grupo que foi costurada a narrativa poética desses registros, que versam sobre a realidade e o cotidiano dessas mulheres negras, pulsando  poesia, vida e afeto. 

A partir de uma construção imagética livre e intuitiva, compartilhando e elaborando histórias de vida de cada artista, foram produzidas imagens e poesias que reforçam desejos de liberdade, trazendo percepções de si mesmas e da sociedade na qual estão inseridas.  

Angela Davis diz que “Quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, e é com essa intenção que a exposição coletiva “eu-raiz” se apresenta, propondo o ato de dar o espaço que é de direito para mulheres negras e seus saberes ancestrais, poéticos, políticos e artísticos - evidenciando o quanto nossas vozes, quando juntas, ecoam força, luta e amor.  

Este é um convite para que o trabalho e a produção destas mulheres seja visto, prestigiado e fortalecido: ao longo da próxima semana, cada uma delas ocupará, dia a dia, as redes sociais do Sesc Bertioga, narrando a si próprias por meio de imagens e palavras. 

 

Foto: Bruna Dias l Coordenadora da Mostra Fotográfica: Eu-Raiz 

#pracegover #pratodomundover Na foto, uma mulher negra com um véu azul sob a cabeça.


*Bruna Dias nasceu em Pombal, sertão da Paraíba. Como caminho artístico e político, sua pesquisa revela os atravessamentos entre o seu ser e estar no mundo: os conflitos, lutas e questionamentos de uma mulher-preta-nordestina, que transbordam na observação da sociedade, de sentimentos e comportamentos. Os suportes com os quais trabalha e produz suas obras são imagem e palavra: foto, vídeo, poesia, costura, luta, afeto e movimento. 

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Este conteúdo faz parte do projeto Do 13 ao 20 – (Re)Existência do Povo Negro, ação do Sesc São Paulo que faz alusão aos marcos 13 de maio e 20 de novembro e busca o fortalecimento e o reconhecimento das lutas, conquistas, manifestações e realidades do povo negro. 

>>> Saiba mais em www.sescsp.org.br/do13ao20