Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Música
Lição afinada

Os centros de música do Sesc Consolação e Vila Mariana além do caráter experimental demonstram que é muito saudável e enriquecedor o aprendizado de música em grupo

Embora atualmente seja crescente o número de bandas e orquestras musicais cada vez mais carismáticas, muita gente ainda conserva a idéia - um tanto romantizada - de que o músico é uma pessoa taciturna, que dedica horas de seu dia a estudar um instrumento, trancafiado num quarto onde a luz do sol nem sempre é bem-vinda. O ensino de música para um grupo de vinte pessoas, então, é algo que pode até soar estranho. Mas para sorte de quem não teve a oportunidade de conhecer a figura, também romantizada, do professor de música particular, o regente e violonista Alberto Jaffé e a professora Daisy de Lucca criaram o Centro Experimental de Música, no Sesc Consolação, hoje conhecido como CEM.
Em 1978, foi inaugurada a primeira orquestra de cordas, que provou a eficiência de um método de ensino para grupos. "Na época em que foi inaugurado, o projeto tinha um caráter experimental e, portanto, ninguém sabia dizer se iria realmente dar certo", conta Elisabete G. R. Vecchiato, atual coordenadora do Centro, que até então era exclusivo da unidade Consolação mas que, depois, desenvolveu-se e gerou um "filho", o Centro de Música do Sesc Vila Mariana.
O CEM conta atualmente com um acervo de 125 instrumentos de corda com arco (entre violinos, violas, violoncelos e contrabaixos), dos quais 30 violinos, 15 violoncelos e 5 contrabaixos têm tamanho e proporção adequados às crianças. Ao dispor do público infantil se encontram ainda instrumentos de pequena percussão, desenvolvidos com fins pedagógicos pelo compositor e educador alemão Carl Orff. Além das salas de estudo, o Centro oferece também um estúdio de gravação. "É uma escola para que os interessados aprendam a trabalhar em estúdio, ou mesmo gravar a própria aula e acompanhar o desenvolvimento da turma", explica Elisabete. É possível ainda formar bandas que contam com o auxílio dos professores que compõem, inclusive, arranjos para todos os instrumentos.
Sem dúvida, o ensino coletivo é o principal diferencial desses centros de música, que estimulam ainda o estudo de diversos instrumentos. E para que o grupo alcance uma dinâmica produtiva, ninguém pode ficar de fora. Para tanto, os professores preparam cuidadosamente um repertório de acordo com o grupo e, a partir daí, criam arranjos para que alunos de todos os níveis possam tocar juntos, sem que haja qualquer tipo de disputa. Segundo professores e coordenadores, essa flexibilidade dos cursos é muito importante, pois eles procuram estar sempre em dia com os anseios dos alunos.
O professor Renato Veras entende que os alunos tenham interesses muito específicos e os profissionais das unidades têm de se adaptar a eles. "O objetivo não é profissionalizar", completa Ana Paula Malteze, coordenadora do Centro de Música do Sesc Vila Mariana. "O objetivo é criar caminhos. Não há um prazo de aprendizado após o qual o aluno recebe um diploma. São oferecidos diversos níveis e tipos de cursos para que cada aluno tenha um desempenho de acordo com as suas expectativas."
Há cerca de um ano e meio, após ter tido aulas particulares, Celso Konda matriculou-se no curso de iniciação para flautas do Sesc Vila Mariana. "Cheguei num ponto em que sentia falta de tocar em grupo e desenvolver um repertório", conta Celso, que atualmente integra o grupo de repertório e a Big Band da unidade. "Entrar na Big Band foi um supercrescimento e, hoje em dia, dedico os sábados especialmente a esse grupo." E ainda ressalta: "A responsabilidade cresce, e é preciso estudar mais para não prejudicar todo o conjunto".
Aqueles que não têm nenhum conhecimento musical, em sua maioria, procuram os instrumentos com os quais tenham maior familiaridade sonora, como o violão e a percussão, e cujo resultado a família e os amigos possam perceber mais rapidamente. "Dificilmente alguém que nunca tocou um instrumento se matricula no curso de viola", exemplifica Ana Paula. Visando criar uma intimidade maior entre as pessoas e os instrumentos, antes do início dos cursos é realizada uma aula aberta com todos os professores do Centro, chamada de "expedição sonora através do universo dos instrumentos". "É uma oportunidade para que as pessoas, alunas ou não, conheçam um pouco mais sobre os instrumentos e, mais do que isso, conheçam também as dificuldades e as exigências que cada um oferece. É muito comum, e até desejável, que os alunos mudem de curso e de instrumento, pois é uma forma de expandir o universo cultural deles", explica Ana Paula.
Desde o seu início, quando havia apenas cinco cursos de iniciação musical, o Centro do Sesc Vila Mariana conta com um acervo de 340 instrumentos, colocado à disposição dos alunos para estudo e prática nas aulas. O professor Renato reconhece que a maioria dos alunos não possui o instrumento e, portanto, como professor, tem de "fazer com que aquele espaço de aula seja o mais proveitoso possível. Afinal, muitos não têm nem tempo para reservar uma sala e estudar".
Outro ponto forte é a ênfase na tecnologia aplicada ao ensino da música. Renato, como outros professores, veio do CEM para o Vila Mariana e é professor das turmas de flauta, clarinete, saxofone e dos cursos de música no computador. Segundo o professor, "não é muito fácil encontrar cursos de software de música e, em geral, eles são muito caros". O centro do Sesc Vila Mariana aproveita a Internet Livre instalada na unidade para promover esses cursos e "baixar" programas gratuitos disponíveis na rede. "Todos esses cursos, na verdade", explica Renato, "só vêm facilitar a vida do estudante e tornar os resultados mais imediatos". Acerca do método de aprendizado pelo qual optou, Celso completa: "o músico, quando ensaia em grupo, precisa ter generosidade e humildade com os que estão com dificuldades, afinal, ele também já passou por isso".