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Dossiê

Há exatos trinta anos, enquanto o Brasil enfrentava a rígida mordaça do regime militar, surgia o Ballet Stagium. O trabalho começou em 1971, quando Marika Gidali e Décio Otero se reuniram para uma série de programas de vídeos de dança na TV Cultura. De lá para cá, o Stagium se firmou como um dos mais importantes grupos brasileiros. Dentro do projeto Pátria Amada, no Sesc Vila Mariana, o Stagium apresentou duas coreografias que remetem à história brasileira: Coisas do Brasil, que reconta a nossa história enfatizando a oposição entre dominador e dominado, e Kuarup, baseada na musicalidade dos índios do Alto e do Baixo Xingu.
"Resgatar o Brasil é o trabalho do Stagium. Quando começamos a viajar, descobrimos o Brasil. Está tudo aí. Não se pode ficar alienado diante disso"
Marika Gidali, diretora e fundadora do Ballet Stagium
Congresso
Internacional Valores Universais e o Futuro da Sociedade
O mundo mudou radicalmente de 11 de setembro para cá. O atentado contra
os EUA e, mais importante, a sua reação, coloca em risco todo
o futuro do planeta. "É tempo de rever nossas premissas individuais",
afirma a professora Lia Diskin, co-fundadora da Associação Palas
Athena e membro da comissão organizadora do Congresso Internacional Valores
e o Futuro da Sociedade, realizado no Sesc Vila Mariana, numa parceira com o
International Sociogical Association (ISA), a PUC-SP, a Unesco e a própria
associação. Segundo Lia, alguns dos palestrantes chegaram a confessar
que ainda vai demorar para podermos sedimentar uma nova visão de onde
estamos. Para a professora, a todos nós cabe repensar sobre quais valores
estamos construindo nossa vida. "É isso
que irá nos permitir, talvez, construir nossa perspectiva de futuro",
conclui.
Futebol
Corrupção, negociata, falsidade ideológica, crise. Essas
são apenas algumas das palavras que vêm invadindo as páginas
dos jornais e revistas destinadas ao futebol nos últimos tempos. Apesar
disso, nas várzeas, estádios e ruas do país, percebe-se
que a ligação do brasileiro com o futebol pode superar esse momento
delicado. Foi esse o tema do evento Detalhes de uma Paixão, promovido
pelo Sesc Santo Amaro como forma de resgatar a importância do esporte
para a vida nacional. Além de uma exposição de fotos, também
compuseram o evento transmissão de jogos com narração ao
vivo, um concurso literário, debates e um concurso para aspirantes a
comentaristas.
"No meu tempo, se uma menina ia namorar boleiro,
a mãe logo reclamava. Hoje, se a menina namora um simples juvenil, os
pais vão logo forçando o casamento"
Nelsinho, ex-jogador do São Paulo, no Detalhes de uma Paixão no
Sesc Santo Amaro
Clementina,
100 anos
Descoberta aos 62 anos pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho, Clementina
de Jesus, com seu timbre de voz inconfundível, resgatou jongos, corimás
e cantos de trabalho, mas foi no samba autêntico de partido alto que alcançou
seu maior reconhecimento. Em setembro, o Sesc Vila Mariana homenageou a cantora
com o espetáculo Clementina de Jesus - 100 anos. Foram convidadas as
intérpretes Dona Ivone Lara, Sandra de Sá e Paula Lima. "A
intenção não era trazer alguém que representasse
hoje o trabalho de Clementina, mas sim cantoras com suas carreiras próprias",
afirma João
Carlos Carino, produtor musical do projeto.
"Clementina trabalhou em uma casa em que só
lavava roupa cantando. E a patroa reclamava: 'pára com essa cantoria,
parece que tá miando'. Queria eu ter uma gata dessas em casa"
Sandra de Sá, no espetáculo Clementina de Jesus - 100 Anos, no
Sesc Vila Mariana
Arte
interativa
Em sua 13a edição, o Festival Internacional de Arte Eletrônica,
realizado em setembro no Sesc Pompéia, agregou mais uma novidade ao seu
já tradicional acervo de inovações: a interatividade. De
acordo com Solange Farkas, curadora do evento, o festival precisa acolher sempre
os novos suportes. "Essa é a proposta fundamental do Videoarte,
isto é, acompanhar a evolução tecnológica, uma vez
que o vídeo é uma linguagem híbrida que estabelece um diálogo
orgânico com vários suportes".
Seresteiro das multidões
Silvio Caldas foi o homenageado do mês do Boteco do Cabral, no Sesc Ipiranga
e no Sesc Araraquara. Como sempre, o mestre-de-cerimônia foi o jornalista
Sérgio Cabral, que reuniu Renato Braz, Zé Renato e o Trio de Cordas
para resgatar a importância do popular seresteiro, falecido em fevereiro
de 1998. Desde cedo, Silvio Caldas teve forte contato com a música, já
que seu pai era dono de uma loja de instrumentos musicais e compositor amador
de valsas, sambas e foxes. Já aos cinco anos, o precoce cantor se apresentava
em pequenos teatros. Mesmo assim, teve sua carreira subitamente interrompida
quando decidiu deixar o Rio aos dezesseis anos em busca de um trabalho como
mecânico. O desvio não durou muito tempo: três anos depois
retornava à cidade natal, onde executaria sua primeira gravação
alguns anos mais tarde. Em 1937 emplacou dois de seus maiores sucessos, "Chão
de estrelas" e "Meu limão, meu limoeiro", o que o tornaria
de imediato uma das figuras mais influentes da música popular brasileira.
Ginástica geral
O Sesc Campinas realizou, em parceria com a Unicamp e com o apoio da International
Sport and Culture (Isca), o Fórum Internacional de Ginástica Geral.
Mais de 1500 estudantes e profissionais da área, além de aproximadamente
300 ginastas de vários países, estiveram presentes nas conferências,
cursos, oficinas e espetáculos do Fórum. Durante o evento, aconteceu
o encontro dos representantes da Isca na América do Sul. O Sesc São
Paulo é filiado à instituição, que tem por objetivo
promover mundialmente o esporte como instrumento de lazer, promoção
da saúde e da cidadania.
Atuação
reconhecida
A Unesco concedeu ao Sesc São Paulo o prêmio Unesco 2001 na categoria
Cultura. A iniciativa tem o objetivo de premiar anualmente instituições
públicas e da sociedade civil que se destacaram por ações
de elevada relevância social nas áreas de Educação,
Cultura, Ciência e Meio Ambiente, Direitos Humanos e Cidadania.
Semana Paulo Freire
Em setembro, Paulo Freire completaria oitenta anos. Sua contribuição
ao país como educador o tornou uma das maiores referências internacionais
no assunto. Para homenageá-lo, o Sesc Itaquera realizou durante o mês
de setembro, em parceria com os Núcleos de Ação Educativa
da região Leste, uma série de encontros cujo objetivo foi debater
sobre os saberes necessários para uma prática educativa fundamentada
numa ética de emancipação social.
A
terra prometida
O que seria a terra prometida hoje? Onde estaria? Será que nós
brasileiros, individualmente ou como nação, estamos sabendo buscá-la?
Com direção de Luiz Artur Nunes (A Mulher Sem Pecado e Que Mistérios
Tem Clarice), e texto de Samir Yazbek (Antes do Fim e O Fingidor, Prêmio
Shell de melhor autor), o espetáculo A Terra Prometida estreou em setembro
no palco do Teatro Sesc Anchieta e trouxe à luz uma discussão
sobre ética e fé no mundo contemporâneo. "A grande
virtude desta peça é que ela não busca defender nenhuma
moral, não apregoa nenhuma mensagem e não dá respostas.
Nesse ponto, a participação do público é muito forte,
pois ele é, a todo o momento, chamado a refletir sobre sua própria
vida", diz Samir.
"No início não havia intenção
de escrever uma peça inspirada num episódio bíblico, e
sim discutir valores importantes na vida contemporânea. A história
de Moisés e Itamar serviu como um bom pano de fundo, pois representa
a questão da busca de um projeto coletivo em contraste com um projeto
individual"
Samir Yazbek, autor de A Terra Prometida, que esteve em cartaz em setembro no
Teatro Sesc Anchieta
Reflexos
Exercitar a crítica e o conhecimento estético é a proposta
do projeto Reflexos de Cena, que acontece mensalmente no Sesc Consolação
abrindo espaço para grupos teatrais com trabalho de pesquisa. Em cada
um dos quatro encontros mensais, diversos grupos apresentam cenas de seus espetáculos,
seguidas por uma discussão com o público e convidados sobre o
processo de criação. Na foto, cena do espetáculo Devidas
Pílulas, dos formandos da ECA/USP.
Cony
no Beco Literário
O escritor e jornalista Carlos Heitor Cony foi o convidado do programa Beco
Literário, do Sesc Rio Preto, no mês de setembro. Em um bate-papo
descontraído, o autor falou de sua obra e especialmente de seu livro
mais recente, O Indigitado. A obra faz parte de uma coleção intitulada
Cinco Dedos de Prosa. Cada livro, escrito por autores distintos, dedica-se a
um dos cinco dedos da mão. A Cony, coube inventar uma história
sobre o dedo indicador. Nela, um menino loiro, descendente longínquo
de franceses, nasce no bairro de Lins de Vasconcelos, no Rio de Janeiro. A criança,
que não tem o indicador da mão direita, é levada por duas
ciganas, que colocam em seu berço outro bebê. Este cresce e vem
a saber de sua origem cigana. Resolve então procurar o seu verdadeiro
eu, o tal cigano loiro sem o indicador, em uma história que se confunde
com a vida do escritor, também descendente de franceses e nascido em
Lins de Vasconcelos.
Transcendência
De março a outubro de 2001, às segundas-feiras, vem ocorrendo,
no Sesc Consolação, o ciclo de palestras e workshops Encontro
com Homens e Mulheres Notáveis. O objetivo do projeto é, com a
compreensão das diferentes manifestações espirituais de
cada tradição religiosa, tentar trazer à luz as diversas
indagações existenciais do homem. Já participaram do evento
representantes do candomblé, do budismo tibetano, do zen budismo e de
outras religiões. Em setembro, foi a vez do Kabash, antiga sabedoria
praticada pelos sacerdotes hierofantes do Antigo Egito. O convidado para tratar
do tema foi o Mestre Rolland, uruguaio estudioso do Antigo Egito, especializado,
entre outras coisas, nos preceitos do Kabash.
Pensadores
da violência
A violência é uma das maiores preocupações da sociedade
neste começo de milênio. E essa preocupação se expressa
de diversas formas, de estudos acadêmicos a letras de rap. O evento As
Linguagens da Violência, promovido em setembro pelo Sesc em uma parceria
com o Consulado da França e com a Unesco, abriu espaço para as
diferentes manifestações que refletem sobre essa questão.
Artistas e pensadores franceses e brasileiros se reuniram para promover um intercâmbio
de idéias, sons e imagens que tratam de um mesmo tema: a crescente tensão
social nas grandes cidades. Para o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral
Carcerária e do Menor, o problema é mais amplo: "Uma das
linguagens da violência é o cinismo oficial, que justifica a tortura
e os maus-tratos. Parece que aqui em São Paulo estamos vivendo antes
da Revolução Francesa. Precisamos fazer cair a Bastilha que provoca
a tortura". Segundo Hélene Dupif, representante da polícia
de Paris, a França ainda enfrenta problemas, mas serve de parâmetro
em alguns aspectos. "A legislação francesa, por exemplo,
não nos permite tratar as crianças com severidade."
Cordel
e Zé do Caixão
O Projeto Luz de Emergência de setembro reuniu Zé do Caixão
e o grupo Cordel do Fogo Encantado, com participação do poeta
Chico Pedrosa. Shows literalmente acústicos, com iluminação
a velas, lampiões a gás e lanternas são as condições
principais desses encontros, que acontecem desde julho no centro da choperia
do Sesc Pompéia como uma bem-humorada contribuição à
crise energética do país. Para os músicos do Cordel, o
show foi um ótimo experimento, em que cones, megafones e uma bateria
de carro substituíram os recursos elétricos das apresentações
convencionais. "Perdemos um pouco da potência do som, mas ganhamos
outros elementos", afirma Lirinha, vocalista do Cordel. "Um encontro
assim provoca sentimentos de criação em todos que participam",
finaliza.
País Maduro
Só no Brasil, existem cerca de 10 milhões de pessoas com sessenta
anos ou mais - ou seja, 7% da população. Segundo dados da Organização
Mundial de Saúde (OMS), se a tendência se mantiver, teremos 32
milhões de idosos em 2025. Mas será que viver muito significa
viver bem? Com o objetivo de levantar essa questão e discutir a qualidade
do envelhecimento, o Sesc Consolação promoveu em setembro a Semana
da Longevidade e Qualidade de Vida na Terceira Idade. De acordo com a antropóloga
Elisabeth Frohlich Mercadante, que ministrou palestra durante o evento, dentro
de cada cultura há um conjunto de símbolos que classifica a velhice.
"A velhice não é uma questão biológica, e sim
cultural. Porém, a classificação de uma pessoa como idosa
é universal. Nós, brasileiros, encaramos a velhice de forma pejorativa.
Fala-se em velho declinante, improdutivo, inativo. Mas acredito que esse imaginário
esteja mudando, e quem nos prova isso são os próprios idosos,
que estão ganhando cada vez mais espaço na sociedade."
Frases
"Por
que as informações culturais não chegam à periferia?
A primeira vez que levei as crianças ao Teatro Municipal, eles se benzeram
e me perguntaram se aquilo era uma igreja"
Dagmar Garroux, presidente da Casa do Zezinho, que atende cerca de 320 crianças
do Jd. Ângela, Pq. Sto. Antônio e Jd. São Luís
"O
palco impõe uma diferenciação do público, é
um altar. Você é o Senhor, o iluminado. Ficar na altura do público
não é fácil, é um desafio"
Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado, sobre a apresentação
no Projeto Luz de Emergência, em setembro, no Sesc Pompéia
"Eu
era a mana mais nova da Clementina. E ela me mandava que só o diacho"
Dona Ivone Lara, no espetáculo Clementina de Jesus - 100 Anos, no Sesc
Vila Mariana
"O
apagão está no peito e na mente de cada um. Vamos exportar o terror
do apagão para o exterior!"
Zé do Caixão, durante sua participação no Projeto
Luz de Emergência de setembro, no Sesc Pompéia
"Depois
de assistir a um espetáculo comum, as pessoas imediatamente vão
embora e fazem seus comentários. A proposta do Reflexos de Cena é
justamente mostrar a essas pessoas, após a apresentação,
de onde vem cada movimento mínimo, cada fala"
Renato di Renzo, diretor artístico da Cia. Orgone, um dos grupos participantes
do projeto Reflexos de Cena, no Sesc Consolação.