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Intolerâncias - coexistência em conflito
As discussões sobre conflitos de gêneros, crenças, raças, suas origens e o futuro das intolerâncias aconteceu em São José dos Campos, em um seminário em parceria com a Fundação Cultural Cassiano Ricardo. De 10 a 13 de novembro de 2015, os participantes puderam comparecer a 2 palestras e 4 mesas, num total de 6 encontros no Auditório da unidade.
Dentre os palestrantes, jornalistas, historiadores, sociólogos e outros estudiosos trouxeram seus conhecimentos à mesa: Paulo Werneck, Paulo Lins, Marcos Florindo, José Arbex Jr, Jairo Marques, Iara Beleli, Luana Tvardouskas, Reginaldo Prandi, Edin Sued Abumanssur e Oswaldo Giacoia Jr. A mediação foi feita pela cientista social e escritora Laura Capriglione.
Para complementar e enriquecer os assuntos, o Coletivo Entrelinhas foi convidado a documentar todo o seminário, registrando com ilustrações e resumos.
E por falar em resumir, a EOnline também esteve presente e compartilha reflexões sobre cada um dos encontros:
Origens das intolerâncias
O encontro apontou a intolerância como um fenômeno típico da sociedade brasileira e que atingiu o ápice nos séculos 19 e 20. No século 21, Paulo Werneck sinalizou um aparente paradoxo no Brasil: no momento em que entrou na vida política brasileira a primeira geração criada sob uma Constituição, sob pleno regime democrático e de estabilidade econômica, como ganharam forças intolerâncias de toda ordem?
Raças e etnias
Sobre a história do Brasil, Paulo Lins levantou os pontos determinantes da intolerância racial da escravidão até os dias atuais relacionando violência, criminalidade, movimentos migratórios, repressão, racismo e preconceito social. Marcos Florindo ressaltou a intolerância enquanto uma marca cultural, uma incapacidade de entender e aceitar as diferenças, traduzida na permanência do arbítrio e do privilégio de certos segmentos minoritários da população sobre a ampla maioria, referenciando a exclusão social dos índios, negros, mestiços, pobres e miseráveis.
A violência na mídia
Por um lado, a espetacularização das intolerâncias pelos veículos de comunicação, e, por outro, a necessidade de aumento da responsabilidade por parte destes no momento de peneirar notícias e garantir direitos. José Arbex Jr delineou o processo que coloca a própria mídia no lugar de organizadora da violência que ela própria se encarrega de transformar em espetáculo a partir de um olhar cruzado, que articulou o país e o mundo. Jairo Marques apontou a possibilidade de um novo papel do jornalismo no Brasil, podendo atuar de maneira mais incisiva e didática diante das explorações sanguinolentas das intolerâncias pela mídia tradicional. Leia mais nesta outra matéria.
Gêneros e sexualidades
O encontro tratou das estreitas relações entre intolerância, diferenças e violência a partir das perspectivas da mulher e do feminismo. Iara Beleli conversou sobre racismos, sexismos e homofobias sem praticar o politicamente correto, apontando as denúncias de quaisquer tipos de violências como um caminho certeiro para educar a sociedade brasileira em outros moldes. Luana Saturnino Tvardovskas apresentou um panorama da arte contemporânea atrelada à crítica cultural feminista no país para ressaltar as práticas da liberdade envolvendo os papéis de gênero e as múltiplas vivências das sexualidades e dos corpos historicizáveis e políticos.
Crenças e religiões
Uma discussão sobre intolerâncias envolvendo crenças, manifestações religiosas e pretensas verdades absolutas no país. Reginaldo Prandi ressaltou uma das principais intolerâncias religiosas expressa na velha diferença entre monoteísmo e politeísmo, que coloca em opostos irreconciliáveis as religiões monoteístas evangélicas e as religiões politeístas afro-brasileiras. Edin Sued Abumanssur destacou o papel das igrejas evangélicas enquanto, concomitantemente, promotoras e vítimas da violência para além do campo estritamente religioso.
O futuro do humano
Qual o futuro do humano diante das intolerâncias do presente? Oswaldo Giacoia Jr fez uma reflexão aprofundada sobre as ciências e as técnicas na atualidade para abordar uma mudança radical na autocompreensão ética da espécie humana. Com ela, indicou que nos tornamos intolerantes ao inútil, uma intolerância diferente, expressa perante aquilo ou aquele que não tenha a forma do aproveitamento ou da utilidade. Apontou ainda que hoje nos faz falta a humildade do pensamento enquanto condição da liberdade e problematizou a questão da alma: onde ela está e para onde está caminhando no mundo informacional?
Conteúdos extras
Para agregar mais ao seminário, cada palestrante se propôs a escrever um texto de apoio à sua fala e o material foi compilado em um livreto, distribuído aos participantes e disponível online também.
A seguir, um resumo dos encontros em fotos:
E em vídeo:
Sesc em São José dos Campos - Av Adhemar de Barros, 999, Jd São Dimas - São José dos Campos (SP)