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São Paulo

Sim, a cidade tem monumentos.
Desde os ainda visíveis de pedra de Brecheret aos não mais visíveis e presentes grafites de Valauri, o monumento da música era o Jogral no qual o Paraná - o Luis Carlos - habitava São Paulo.
Na geografia, o Jaraguá é que desponta monumental e agulhado antenado como a Paulista dos bancos de dinheiro mais numerosos que os de descansar. Melhor ir dançar no Cartola Clube antes que desapareça.
Sorte que os bailes de formatura estão cada vez mais escassos. Mas os esqueletos se movimentam no LOVE e no My Love porque a "boca do luxo" ainda insiste e com toda a razão e emoção, por que não? E por falar nisso, o "Bar das Putas", onde a carne era boa e barata, hoje é o Sujinho, tão limpo que até a classe média do pedaço freqüenta. Estamos na média Rua da Consolação iluminada pela Yamamura e mais uma infinidade de portas que vendem luzes, lâmpadas e lustres.
Mas ilustre mesmo só a Ruy Barbosa, palco de muitos teatros, mesas de cantinas, boxes de estacionamento e outras lutas para encher de novo a bola do Bixiga, esse monumento afro-itálico-nordestino, onde tudo se integra: espetáculo, pizza, carro estacionado, samba, cortiço, a mulata mora ao lado.
Do outro lado, era a Berrini aquele pântano virtual que virou um subsolo de fibra ótica. Hiper solo de vidro, às vezes conversa com o concreto, às vezes com o aço.
Monumento ao pós tudo arquitetônico, no qual o número de veículos é bem maior do que a inteligência do planejamento poderia supor.
Por sua vez, quem passa calmo por ser pesado por ali é o Rio Pinheiros. Nada de embarcação, a não ser as dragas que mudam o lixo de lugar há anos. Já as "drags" mudam o luxo de lugar há séculos.
Enquanto isso, no Tucuruvi, a popular "Acadêmicos" prepara o carnaval da Zona Norte com, a garra de sempre. Nos Jardins, o povo chic dança um supremo de samba Oscar Freire abaixo.
Mas há monumentos, ah! Também lá pelo lado Sul. Na Capela, Socorro!!! É tanta gente que a gente só ouve falar em tempo de eleição.
Grotão, monumento à desigualdade exagerada que persiste na cidade deste país.
É, cada cidade é conforme o jeito que o sujeito olha. São Paulo nasceu e vive conosco a 447 anos sem parar de ouvir as línguas e os gestos de visitantes de todos os cantos.
Há, no ar, sempre um diálogo que se constrói nos timbres dos idiomas.
Dorme e acorda a cidade luz neon, luz do sol de mercúrio, luz do sol, da lua, luz do sol.
No centro há uma Catedral. No verão chove muito e a cidade inunda quase que diariamente, tornando dinâmica a vida dos habitantes que não se entediam usando apenas um modo de locomoção. São usados, além dos tradicionais andar a pé, de bicicleta, de ônibus (aliás, São Paulo não tem ônibus: tem chassis de caminhões no qual se coloca uma carroçaria parecida com o que seria um ônibus), de vespa, motocicleta (ponto para os motoboys), alguns de carro ... Não, no verão a cidade se transborda em afogamentos e as canoas viram meio de transporte, assim como os carros de resgate.
É muito mais emoção para o habitante. Nada de tédio. A cidade vibra. Principalmente para quem mora ao longo do Minhocão, também conhecido como Elevado. Mas como minhoca não voa e a voz do povo é a de Deus, é minhocão mesmo. Até pela velocidade do trânsito que o homenageia diariamente.
Mas monumental mesmo é sobrevoar a cidade chegando ou deixando-a minutos a fio. Um sem fim e edifícios.
E também monumental é estar ao lado das irmãs: México, Shangai, Nova Deli, Berlim, Nova Iorque, Rio de Janeiro, Chicago, Londres, Moscou. Irmãs siamesas, braços dados, produto da mundialização. Sim, São Paulo é techno, é jazz, é hi tech, é internet, é Mac Donald's, delivery e fast tudo.
Mas é bombacha, acarajé, ciranda, rock and roll, moto boy, camelô e pai de santo.
Monumental em São Paulo é o povo que a habita. Gente que veio e vem de todo o lado. Nativos, Benin, Portugal, Oriente Médio e extremado. Culinária étnica: feijoada, bacalhau, sashimi ...
Padronagem Mestiça, não há globalização que a aguente. Quanto mais igual, mais diferente.
Ivan Giannini é sociólogo
e gerente de Ação Cultural do Sesc São Paulo