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Opinião
Paleta de idéias
por Thomaz Ianelli
As injustiças são cometidas constantemente nesse país. Por falta de cuidado e de preparação.
Bienal 500 Anos
Todo grande evento que quer abranger algum tema grandioso num momento só impede que a informação seja tratada de maneira mais profunda para o público. O que os organizadores da Bienal 500 Anos puderam oferecer, e ofereceram, foi um apanhado. Um evento importante, luxuoso, e que atraiu um grande público.
O nosso país é muito carente de informações culturais. É possível encontrar, atualmente, pessoas de muito bom nível financeiro e muito bem estabelecidas, mas que, verdadeiramente, não têm conhecimento nenhum sobre o que são as artes plásticas. Por isso, um leque como o da Bienal 500 Anos jogado de uma só vez não pôde tornar nada visível e palpável. Nós poderíamos ter pensado em comemorar essa data em etapas. Assim, organizaríamos ali seis ou oito mostras durante o ano todo. Exposições mais bem cuidadas, que aproximassem grupos e tendências estéticas e filosóficas em torno desses apanhados. Se isso tivesse sido feito, nós teríamos um ano no qual realmente participaríamos de uma festividade, e não de algo jorrando pelo gargalo que expôs tudo de uma vez e não conseguiu eternizar nada. As pessoas ficaram admiradas apenas com a mostra em si, com a suntuosidade mostrada ali. Mas nós precisaríamos que isso tivesse se revertido num maior proveito para jovens e demais pessoas que não estão habituadas a ver arte e que, de repente, foram atraídas por uma sigla.
As injustiças são cometidas constantemente nesse país por falta de cuidado e de preparação naquilo que se faz. Eu não estou falando como um "não convidado" da mostra, mas os não convidados formaram uma lista de quarenta nomes importantíssimos das artes no cenário brasileiro. Além disso, os incluídos foram selecionados a toque de caixa. Procuraram-se aqui e ali coisas que estavam no mercado, expostas nas galerias... Quando a tarefa para um grande evento, me parece, exige que se procure as fontes. O artista, quando vivo; quando não, a sua família. Enfim, procurar ver e sentir verdadeiramente o que representa o trabalho de determinada pessoa. O vulto da grandiosidade da Bienal 500 Anos não escondeu essas falhas clamorosas, e o resultado foi esse que finalmente todos viram.
O despertar
Nós evoluímos muito nesses últimos anos. Porém, as coisas ainda continuam sendo feitas com muito atropelo. Não se considera o tempo necessário para que as coisas sejam feitas, a pesquisa, a organização, o patrocínio etc. Cada coisa tem de acontecer a seu tempo. Ainda que fizéssemos menos, poderíamos fazer melhor. No afã de recuperar o tempo perdido, etapas importantes são deixadas para trás. Nós estamos, hoje, querendo fazer em três anos o que não fizemos em quarenta. É por isso que as coisas acontecem de golfadas. As informações surgem de forma que, além de as pessoas não conseguirem absorvê-las, sempre se acaba tendo pouco tempo para preparar muitas coisas. Isso não deveria ser importante. Se acordamos agora, maravilha. Vamos começar a partir de agora. O fato é que o público merece uma atenção mais específica. Para mim essa é a grande lacuna a ser preenchida.
Carreira
No mundo das artes plásticas posso dizer que tenho permanecido recluso. Essa reclusão tem um grau de espontaneidade que combina com meu caráter, minha maneira de ser e de agir. A arte é algo que se faz em silêncio, concentrado em torno de si mesmo. Uma procura para conseguir dar o melhor de si. As conseqüências disso são nefastas. Há uma série de mostras que vêm sendo realizadas nesses últimos quatro anos das quais eu tenho sido excluído. Recentemente foi editado um livro sobre cem artistas brasileiros. E eu não apareço entre cem artistas brasileiros. Não se sabe quem organiza essas coisas, quem opina sobre elas. Ou seja, as coisas continuam pouco claras. O meio das artes plásticas, com boas e raras exceções, continua sendo muito escuso e estranho. Não se procura esclarecer dúvidas acerca de determinadas linguagens, de uma abordagem... Se antes falei da organização dos eventos, agora falo da seleção. Ela também é feita quase sempre de uma forma gratuita. Não reclamo minha presença. O meu trabalho tem tempo para surgir e eu nem vivo vou precisar estar. Estou investindo em meu trabalho e tenho certeza de que o estou construindo. Se eu pegar os meus trabalhos de meados dos anos 50 e colocá-los ao lado das obras recentes, é possível perceber que eu segui numa trilha. Não pulei de galho em galho. Fui fazendo um trabalho que está dentro de mim. Um trabalho que comunga comigo e com meu exterior. Qualidade? Creio que ele tem alguma. Afinal o valor dele não foi mencionado somente no meu país. Sinceramente, eu não conheço os meus inimigos, não acredito neles, nem sei se eles existem. Mas, ainda que sim, acho que a arte está acima de toda essa pequenez.
Arcangelo Ianelli
Esse é um assunto no qual eu não gosto de me aprofundar. Posso dizer que respeito o trabalho dele. Arcangelo é um artista consciente de ter chegado aonde chegou. Sobre ele, falo mais como irmão que como artista. Temos mundos diferentes e hoje estamos bastante distanciados.