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Dossiê
Palco solidário

Ô abre-alas
A mezzo-soprano Anna Maria Kieffer, lançou, mês passado, no Sesc Vila Mariana, o CD 1900: a virada do século, o terceiro da série Memória Musical Brasileira, que pretende retratar a música produzida no país do descobrimento até os dias atuais. Com canções de Alberto Nepomuceno, Chiquinha Gonzaga e Francisco Braga, a soprano faz par com Acille Picchi, no piano. "Nós pretendemos retratar a belle époque no Rio de Janeiro, representada por três dos mais importantes compositores do período. Eram músicos engajados no ambiente político da época, como o abolicionismo", explica Anna Maria.
Olhares de Tóquio
Aconteceu em dezembro, no CineSesc, o lançamento do livro do escritor norte-americano Donald Ritchie, Retratos do Japão - Crônicas da Vida Pública e Privada. O livro é uma coletânea de perfis de pessoas que Ritchie encontrou ao longo de sua vida no Japão. O autor conheceu o país em 1947, acompanhando as Força Armadas americanas como datilógrafo. Mesmo com ordens explícitas de não se confraternizar com nativos, Ritchie se deixou levar pelas ruas de Tóquio e se viu picado pelo que chama de Japonese Bug, um "inseto" cujo ferrão equivale à flecha do Cupido. "Ao ler esses perfis, o leitor constata que o autor não apenas conheceu figuras cruciais do mundo intelectual japonês do século 20, como viveu com elas experiências extraordinárias", explica Lúcia Nagib, elogiada tradutora da obra para o português. Porém, não são somente os anônimos que interessaram a Ritchie. O célebre cineasta Akira Kurosawa e o Prêmio Nobel de Literatura Yasunari Kawabata figuram no mosaico incrível da "democracia de tratamento", como ressalta a tradutora em seu prefácio.
A escritora do amor
Estreou no dia 5 de dezembro no Sesc Pompéia a exposição Hilda Hilst - 70 Anos. Uma mostra que é uma homenagem ao septuagésimo aniversário da escritora, a celebração de uma amizade de mais de cinqüenta anos com a curadora Gisela Magalhães e uma viagem pelo universo denso de Hilda. A área de convivência do Pompéia transformou-se em palco de elementos que contam um pouco da história da escritora. Painéis gigantescos que mostram seus 93 cães - "eles devem ser uns 115 agora", esclarece Gisela. "Não queríamos que os textos ficassem expostos como quadros, à altura do olho. A vida não é à altura do olho", explica a curadura. "A criação se deu de uma maneira um tanto intuitiva. A gente pensa nos objetos e em sua disposição, depois compatibiliza tudo e as coisas vão saindo. Mas as dificuldades sempre existem".
Cantando no banheiro
A peça Futilidades Públicas, encenada pela primeira vez em 1993, conta a história de uma mulher que fica presa em um banheiro durante o assalto a uma agência bancária. A atriz Patricia Gaspar, que é também a autora do texto, em dezembro, protagonizou sozinha no palco do Sesc Pinheiros, as desventuras da vítima do roubo. "Toda a trama", diz ela, "é acompanhada de uma trilha sonora cantada, à capela, pela personagem. Durante a peça, ela faz uma reflexão sobre a própria solidão. Apesar de ser uma comédia, é uma situação absolutamente patética que mostra uma mulher tentando, através das canções, se escorar na realidade que lhe escapa."
Júbilo memória noviciado da paixão
Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia -
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais
[recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é
[verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das
[marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova -
E revestida de luz te volto a ver.
Hilda Hilst
Arte contra a Aids
Em dezembro, aconteceu no Sesc Carmo a Semana de Conscientização e Prevenção à AIDS e às DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), uma parceria do Sesc/SP com o GAPA (Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS) e a Secretaria Municipal da Saúde. Durante sete dias, uma exposição esteve em cartaz com trabalhos de Aldemir Martins, José Roberto Aguillar, Maria Bonomi, Silvio Dworecki e Nélson Leirner. Foram reproduções em banners (6 painéis de 2,30 m de largura x 1,10 m de altura) produzidos por esses artistas durante o projeto Contato - Campanha de Sensibilização sobre a AIDS/95. No dia 1º de dezembro (Dia Mundial de Combate à AIDS), houve bate-papos sobre o tema, com distribuição de folhetos educativos. Na área de convivência do Sesc Carmo, um aparelho de televisão exibiu vídeos educativos selecionados pela equipe do GAPA.
Hip hop outra vez
Esteve em cartaz no Sesc Belenzinho o espetáculo Bartolomeu, o que Será que Nele Deu?. Um musical produzido pela atriz Cláudia Schapira e dirigido por Georgette Fadel, que conta a história de um homem comum que, de repente, confina-se dentro de si mesmo, recusando-se a participar do mundo. O pano de fundo para este conflito é a cultura hip hop com seus quatro elementos: o dançarino de rua (break), o grafiteiro, o MC (mestre de cerimônias) e o DJ. A música é o rap. "Eu queria uma linguagem que fosse direta e que falasse às pessoas da rua, principalmente", explica Cláudia. "O espetáculo tem um caráter de depoimento mesmo. O rap, o grafite e os MCs vêm da periferia e invadiram a casa de todo mundo".
Arte nos muros
A atividade de grafitagem Tons da Cidade, promovida pelo Sesc Itaquera, coloriu a região com toda a imaginação e talento de jovens que tiveram a oportunidade de se expressar por meio da arte do grafite. O coordenador da atividade, o grafiteiro Celso Gitahy, explica que iniciativas como essa são importantes por seu caráter de iniciação às artes. "Se você propõe um curso de História da Arte, infelizmente poucos compareceriam. Agora, com uma oficina de grafite, você vai ao encontro do interesse da moçada". A Sociedade Ambientalista Leste (SAL) apoiou a intervenção cedendo os muros de sua sede à arte e à criatividade dos adolescentes da região.
Stanislav Grof no Brasil
Esteve presente no Sesc Consolação, o psicólogo e escritor norte-americano Stanislav Grof. Ele é o criador de uma técnica terapêutica que chamou de respiração holotrópica, um método de autodescoberta que, através da vivência de um estado ampliado de consciência, permite despertar o potencial de cura interno, a criatividade e o contato profundo com conteúdos emocionais. Depois de estar no Rio de Janeiro, Grof participou de um workshop sobre sua técnica e de uma palestra na qual falou sobre seu recente lançamento, Psicologia do Futuro, um apanhado que mostra o resultado de pesquisas dos estados incomuns de consciência, estados que, segundo o autor, não podem ser explicados por uma "sobreposição de conceitos já existentes".
Além disso, Dr. Grof propõe um modelo mais abrangente de análise da psique humana, dividindo-a em três domínios: o biográfico (memória da infância, adolescência e vida adulta), o perinatal (relacionada ao trauma do parto biológico) e o transpessoal (experiências além das nossas fronteiras usuais - corpo e ego - e das limitações de espaço-tempo).
Monsieur Jobin
Tibô Delor é francês de nascimento. Músico de formação erudita, tocou quatro anos na Ópera de Paris e, também na França, compôs a Orquestra de Contra-baixo. Há três anos e meio aterrissou no Brasil acompanhando sua mulher (brasileira) e filho. A ligação de Tibô com esse canto do mundo, no entanto, vem de muito antes, da infância, e deve-se a Tom Jobim. "Quando eu era criança e viajava para a praia, sempre escutava uma fita do Tom no carro. Ele foi o responsável pela formação do meu ouvido musical. A sua música me fez viajar pelo Brasil antes de estar aqui realmente." Mês passado, Tibô fez a ponte entre seus dez anos e o presente com a apresentação de seu quarteto no show Na Calçada com Tom Jobim, realizado no Sesc Pinheiros, e que contou com a participação especial de Paulo Jobim, filho de Tom.
Sesc Interlagos : 25 anos de lazer
O Sesc Interlagos foi inaugurado em 30 de outubro de 1975. Nestes 25 anos de história, vem oferecendo aos trabalhadores do comércio e serviços e à comunidade em geral atividades de lazer, esporte e cultura. Atualmente, algumas atividades compõem a programação da unidade: Bem Brasil - apresentações musicais, aos domingos; Programa Viva o Verde - atividades ligadas ao meio ambiente; Esporte&Saúde - Clube da Caminhada, torneios, competições, aulas abertas; Curumim - atendimento ao público infantil, espetáculos, oficinas; Atos&Jovens - atividades culturais voltadas aos jovens; além de eventos especiais ao longo dos anos. Com essa programação permanente, o Sesc Interlagos funciona como um centro de lazer e cultura na Zona Sul de São Paulo.
E por falar em dança...
Foi realizada no Sesc Vila Mariana a série de palestras Dança no Limite/Criação. Um evento que discutiu até onde as expressões artísticas, como a literatura, a música, o cinema, o teatro e o vídeo influenciam a dança, oferecendo-lhe novas possibilidades de criação e questionando os patamares técnicos e culturais sobre os quais se assenta a formação do bailarino. Angela Nolf, da Unicamp, ressaltou que "a importância desses eventos está no seu caráter educativo." Ela prossegue. "É uma oportunidade de falar sobre a educação em dança nas universidades". Bailarina há dez anos, Angela explica que tratar a dança como uma ciência passível de ser ensinada em ambientes acadêmicos amplia o vocabulário dos bailarinos. "E isso me incentiva a pesquisar". Angela comentou também que o talento do brasileiro para a dança é "imenso" e que o país de todos os ritmos possui um potencial "extremamente criativo" voltado a dança. O evento foi dirigido para interessados em dança em geral, incluindo bailarinos, professores, pesquisadores e as pessoas que apreciam a arte de dançar. "É uma chance de intercâmbio entre colegas e outros acadêmicos. Além disso, o encontro propiciou a troca de informações, além de permitir a evolução do módulo de pensamento dos agentes da dança, oferecendo-lhes técnicas e outras propostas de movimento", conclui a professora.