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Boris Schnaidermann
O tradutor, escritor e ensaísta Boris Schnaiderman está radicado desde a infância no Brasil. Nascido na cidade ucraniana de Uman, em 1917, mesmo ano da Revolução Russa, ele deixou Odessa – a capital da Ucrânia – aos oitos anos com a família de comerciantes. As lembranças desse período são poucas, mas uma delas é inesquecível: o menino teve a oportunidade de presenciar parte das filmagens do Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein (cineasta russo, 1898-1948). Anos mais tarde, já em São Paulo, o garoto foi ao cinema com o pai e viu as mesmas cenas que presenciara sem compreender do que se tratava.
Schnaiderman trabalhou como agrônomo em Barbacena (MG) por exigência da família. Paralelamente, nos anos de 1940, atuou como tradutor do russo, com o pseudônimo de Boris Solomonov. Sob essa assinatura traduziu A Fossa, de Aleksandr Kuprin, e Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, entre outros.
O primeiro uso do sobrenome verdadeiro foi para uma coletânea de contos de Tchekhov que fez para a editora Civilização Brasileira, em 1959. Já em 1964, escreveu o livro Guerra em Surdina, romance com perfil autobiográfico que se originou quando foi convocado em 1944 pela Força Expedicionária Brasileira, na Segunda Guerra Mundial. Após o retorno do conflito, continuou a traduzir autores como Tolstoi, Tchekhov, Púchkin, Górki, Maiakóvski, entre outros. “Hoje, no entanto, estamos vivendo um momento em que os autores russos têm muita aceitação. Mas esse interesse variou bastante no Brasil”, disse durante entrevista à Revista E.
Em 1960, foi contratado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), sendo o primeiro professor de língua e literatura russa da instituição. Aposentou-se em 1979, mas continuou a dar aulas na especialização, traduzir e dar palestras pelo Brasil. Nesta entrevista, Boris sai em defesa do escritor Fiódor Dostoiésvski, fala da popularidade dos poetas russos no Brasil e discorre sobre o que mais o fascina: a literatura russa. A seguir, trechos.
Você é um conhecido e respeitado tradutor de russo para o português. A que credita essa preferência dos brasileiros por escritores russos? E de onde vem essa empatia?
Atualmente ela é muito forte. Estamos vivendo um momento em que os autores russos têm muita aceitação. Mas esse interesse variou bastante no Brasil. Logo de início, no final do século 19 e início do século 20, houve uma grande procura por obras russas porque na França tinha havido um verdadeiro boom dessa literatura. Isso por razões bastante extraliterárias. A França estava se sentindo ameaçada pela Alemanha. Tinha havido a Guerra Franco-Prussiana. A França foi derrotada, e lá havia um forte sentimento revanchista. Havia uma tensão permanente entre França e Alemanha e, naquela ocasião, a Alemanha não se aliou politicamente à Inglaterra. E a França para não ficar sozinha teve de se apoiar na Rússia. Então, foi a grande inserção de tudo que era russo em Paris. No fim do século 19, na década de 1890, a vida cultural brasileira estava muito ligada à França. Aqui, repercutia tudo. Agora, as traduções francesas naquela época eram muito ruins, de modo geral. Eles queriam divulgar a literatura russa, mas, ao mesmo tempo, achavam que autores russos se preocupavam muito com questões metafísicas, de filosofia etc., e, que para o público francês, aquilo não servia. Então, eles aligeiravam os romances.
Tirava-se parte do romance?
Eles aligeiravam e tiravam toda a parte de reflexão, filosofia. Então, as traduções brasileiras antigas são muito ruins por isso, por serem a partir das francesas, que eram muito aligeiradas.
Era comum esse tipo de intervenção no texto do autor, fazer adaptação para o gosto do seu público?
Era. Lembro-me, por exemplo, que o romance Os Irmãos Karamazov [Editora 34, 2008] foi adaptado por um francês. Naquela época, eles não traduziram, adaptaram. Transformaram em um romancezinho policial de 250 páginas. Um romance até curioso, bem feito, mas não tinha nada a ver com Dostoiévski [romancista russo, 1821-1881]. Mas, na edição francesa, constava a adaptação do russo de fulano de tal. Foi produzido no Brasil, nos países da América Latina, em Portugal, só que foram traduzindo sem colocar essa advertência do editor. Vendiam o livro como se fosse o romance de Dostoiévski, mas não era.
Ou seja, aqui no Brasil os editores não alertavam os leitores de que não se tratava de uma adaptação?
Eu tenho aqui uma edição desse tipo. Havia até bastante sucesso. A literatura russa teve bastante aceitação. Depois, com a revolução, o interesse cresceu. Houve uma procura por livros russos. Depois, o público se cansou. Porque foram traduzindo os romances socialistas, muito na linha oficial, do partido, aí o público se cansou. E romances também marcados pela religiosidade fizeram o público cansar. Isso por volta de 1940 e 1945.
A profundidade que a literatura russa oferece, principalmente os clássicos, é o que leva a essa identificação?
Sim. E depois há situações muito semelhantes entre Rússia e países periféricos, fora dos grandes centros. Então, houve essa identificação de cultura. É curioso isso.
Quando a gente fala em literatura russa, não falamos só em ficção, mas em poesia também. Saberia dizer, além do caminho via França, por que a gente tem essa empatia com os poetas russos, como Maiakóvski [1893-1930] e Serguei Iessiênin [1895-1925]?
Bom, realmente, para isso, contribuiu aquele trabalho dos irmãos Campos [poeta e tradutor Haroldo de Campos, 1929-2003; e o ensaísta Augusto de Campos] comigo, pelo qual traduzimos a literatura russa moderna. A literatura russa tem muito a dar, tanto a prosa, quanto a poesia. A obra de Maiakóvski, no entanto, é mais evidente e fácil de assimilar em relação a outros poetas. E ela passou a existir em português depois que os Campos se dedicaram a isso, em colaboração comigo. Antes, Maiakóvski era apenas visto com um poeta de comício.
O que levou você e os irmãos Campos a fazerem essa intervenção?
No início da década de 1960, eles entraram em contato comigo. Os três papas do concretismo [movimento vanguardista criado em 1950 pelos irmãos Augusto e Haroldo Campos, e Décio Pignatari] foram à minha casa acompanhados de suas respectivas esposas para me visitar. A partir daí eu, Haroldo e Augusto começamos a trabalhar em grupo. Eu tinha uma formação muito tradicional, inclusive não gostava de poesia concreta naquela época. Para mim, foi uma surpresa terem me procurado. Mas estava começando a me voltar para o que havia de moderno. Sem dúvida alguma, os poetas concretos tinham muito a me oferecer, pois me abriam caminhos. Ajudaram-me nisso. E eles estavam muito preocupados com o que chamavam de saltos participantes. Se não me engano, a expressão é do Décio Pignatari: “A mulher vai dar o pulo”. Eles achavam que precisavam se voltar para a participação política. Então, havia uma grande preocupação com Maiakóvski. Quando me procuraram, o Haroldo tinha passado três meses estudando russo num cursinho. Evidentemente, em três meses, ele podia assimilar um conhecimento bem primário, rudimentar. Mas apesar desse conhecimento rudimentar, apoiado em introduções, ele traduziu um dos poemas mais belos e mais fortes que é A Serguei Iessiênin, escrito por Maiakóvski logo após o suicídio de Iessiênin. O Haroldo traduziu com o pouco conhecimento da língua e apoiado em traduções para línguas ocidentais. Vi e mexi muito pouco, porque era muito boa. Mudei pouca coisa. Intuição poética. Um período muito fecundo.
Como era operacionalmente o trabalho de tradução com eles?
Geralmente, havia dois caminhos. Eles liam um poema. Liam bastante poesia russa traduzida do inglês, francês, italiano e, às vezes, fixavam-se num determinado poema. Queriam traduzir, eu pegava o texto russo e faziam o trabalho. Havia dois caminhos diferentes. Ou eu fazia a tradução primeiro e já dava algumas indicações sobre os recursos formais no poema, alguma informação também de estrutura do poema. E eles faziam uma tradução na base da minha, eles retrabalhavam o poema. No outro eles se entusiasmavam com o poema, traduziam-no como podiam; tinham o texto inglês, francês, espanhol, pegavam na medida do conhecimento que tinham; depois me davam e eu, então, acertava o texto. Alterava alguma coisa. Eles trabalhavam naturalmente.
Quanto à escolha dos irmãos Campos, você se identificava com a qualidade do texto escolhido por eles?
Sim. Sempre me identifiquei. Houve alguma divergência, mas muito pouca. Tenho um grande apego, por exemplo, à obra de Anna Akhmátova [poeta russa, 1889-1966]. O Augusto acha até hoje que ela é muito presa à tradição clássica, mas é uma grande poetisa. Então, houve essa divergência. Mas eu insistia, e acabaram incluindo mais poemas dela. Mas havia um pouquinho de divergência na questão das escolhas, dos gostos. Também aprecio muito Joseph Brodsky, que passou a escrever em inglês, mas ele não entrou na nossa antologia. Mas as divergências não afetavam nossa amizade.
Hoje, no quesito de ficção, Dostoiévski e Tolstoi são os dois autores trovadores mais populares entre nós. Assim como são populares os personagens Anna Karenina, do romance homônimo de Tolstoi, e Raskólnikov, de Crime e Castigo, de Dostoiévski. Quais as diferenças entre esses autores?
São muito grandes. Eles são muito diferentes entre si. Dostoiévski era um proprietário rural, um nobre conde, pertencente a uma família que dispunha de recursos, embora tenha chegado a enfrentar dificuldades financeiras. Mas vivia no meio com os recursos. Já Tolstoi [escritor russo, 1828-1910] era filho de um médico pobre, de uma pequena nobreza empobrecida. Ele não era conde nem visconde, mas tinha origem nobre apesar da família pobre. Só isso já muda completamente a perspectiva. Dostoiévski era dono de propriedade rural e lutava com dificuldade para se manter. As condições de vida entre eles eram muito diferentes. E eram muito diferentes com relação à verve e à exuberância narrativa. Tolstoi também tem, mas é diferente. Ele está mais ligado aos grandes problemas humanos. Ele realmente fazia ficção, correspondente ao que estava sendo feito na filosofia. A ficção dele é muito ligada à filosofia. Já Dostoiévski tinha uma determinada concepção religiosa, tinha mesmo a preocupação filosófica do outro.
Você acredita que as questões de Dostoiévski dentro da concepção?filosófica são os fatos que o levam a ter essa proximidade dos brasileiros?
Não. É a parte humana. No caso de Dostoiévski é a parte humana que toca o público. Dostoiévski tem concepção religiosa da vida. E tem uma visão aguda da problemática do homem, problemática do seu tempo. Agora, os brasileiros têm essa conquista de poucos anos para cá, esse grande gosto pela literatura russa. Antes, tinha havido um afastamento. Do século 19 até a Revolução Russa, havia entusiasmo pelos autores russos. Geralmente, as traduções eram bem diretas. Aliás, está errado dizer que eu teria iniciado a tradução direta do russo. Não iniciei, não. Já tinha ocorrido isso no começo da década de 1930, com uma coleção de uma editora com nome de Biblioteca de Autores Russos. Quem iniciou foi George Seltzoff.
Qual é a atualidade de uma obra como Crime e Castigo [Editora 34, 2009]?
Ela toca em questões vitais para as pessoas. Desenvolve-se como uma proposição filosófica. Crime e Castigo mostra o indivíduo de grandes qualidades morais, bem intencionado em tudo, que é levado ao crime por uma deformação de pensamento. Assim, se eu eliminar essa velhota que não faz bem a ninguém, é uma excrescência, se matá-la, o que a humanidade perde? Ele vai matar a velhota e, sem querer, mata a irmã dela, de quem ele gostava muito. Então, é praticamente uma proposição filosófica. Como uma ideia falsa pode levar o homem aos maiores absurdos, indo contra a sua própria índole. A obra toca em questões vitais.
Essa questão do valor da vida, do material sobre o espiritual que está cada vez mais premente nos dias contemporâneos?
Toca o leitor diretamente nos problemas mais vitais, mais imediatos. Dostoiévski consegue fazer isso. Dostoiévski era um homem profundamente religioso, mas propõe dúvidas para os religiosos que deixam as pessoas completamente desarmadas. O Ivan Karamazov [de Os Irmãos Karamazov, Editora 34, 2008] afirma que ainda poderia aceitar Deus, mas não aceitar esse mundo por ele criado. “Não posso aceitar tantas injustiças no mundo, como Deus, que é onipotente, onisciente e bondoso, como ele deixa tanta maldade, tanta gente sofrendo, crianças sem culpa nenhuma sofrendo, como é possível isso?” Ele propõe a um crente questões cruciais e dolorosas.
Dostoiévski aborda o desencanto filosófico dele com a humanidade?
Não há um desencanto filosófico. É com as circunstâncias daquela época e daquela sociedade. Acho que é com a humanidade. Realmente, ele expõe grandes paradoxos, mesmo nesse terreno. Ele coloca em Crime e Castigo a prostituta que é uma santa criatura. Em O Idiota, temos Nastássia Filíppovna, que é uma pessoa de alta dignidade moral, porém foi seduzida por um sujeito que não valia nada e levava uma vida que a sociedade considerava devassa. Dostoiévski coloca os paradoxos do humano. Ele teve a força de abordar isso, porque realmente chegou a uma altura de perceber o humano, as complexidades do humano.
No livro Paris é uma Festa (Bertrand Brasil, 2006), Hemingway diz que Dostoiévski escreve mal.
Isso é uma noção muito difundida, principalmente na Rússia. Lá, existe uma insistência de que ele escrevia mal, mas há outros autores que rebatem. Eu sou contra. Não acho que escrevia mal. Ele não escrevia de acordo com as normas gramaticais severas. Nos textos dele há muitas repetições. Aliás, Tolstoi se repete mais ainda. Eles tinham um desprezo muito grande pela estilística consagrada. Agora, sobre Dostoiévski, eu não aceito de modo algum. Quem lê uma novela como Noites Brancas [Editora 34, 2005] vê um escritor de uma força poética muito grande, rigorosa. Forte. Ele repetia palavras, desviava um pouco do nível gramatical, não há dúvida. É a mesma mania que muitos franceses tinham, mas hoje já caiu. Eles tinham mania de dizer que Balzac [romancista francês, 1799-1850] escrevia mal. Escrevia mal porque escrevia freneticamente, mas é uma beleza. É uma mania deles de enquadrar numa norma muito restrita do estilo.
Na questão do suicídio da personagem Anna Karenina, o que mais se fala é sobre aquele fugaz arrependimento na hora da morte. A seu ver esse episódio apresenta um viés moralista de Tolstoi?
Tolstoi era muito moralista e nele havia preconceitos moralistas mesmo. Para ele, Anna Karenina não podia deixar de se arrepender, porque adultério é pecado. Anna Karenina foi escrito para condenar o adultério. Imagina o adultério descrito de maneira bem rica, que fez da condenação até uma sedução. Acho que ele se contradiz. Tolstoi quer mostrar que vício tem de ser condenado, atacado. Mas ele tem domínio do humano, tem a capacidade de transmitir paixões humanas com uma intensidade que outros autores não conseguem. Ele descreve Anna como uma pessoa formidável. Então, se pecou, tem de se arrepender.
Daria para fazer uma escolha entre Dostoiévski e Tolstoi?
Não faço escolha. O Dostoiévski é mais próximo, mas não faço escolha.
Por que seria mais próximo de você?
O que me afasta é a religiosidade de Tolstoi, que é mais imediata do que em Dostoiévski. Então, me afasto um pouco de certas premissas. Não gosto dos textos de pregação do Tolstoi. Reconheço que é muito bem feito e bem escrito, mas...
Quais são as condições históricas que produzem essa grande literatura?
Explicar a literatura pela história é muito difícil. É incrível como um país tão atrasado como a Rússia dá origem a essa profusão de grandes escritores sofisticados. Como é possível? É o que a gente se pergunta. Como era possível, por exemplo, o fundador da literatura moderna, Alexander Pushkin [romancista e poeta, 1799-1837], existir na Rússia naquele tempo. E ainda ele era mulato, mais essa.
A literatura pós-revolução russa sofre muito com a questão ideológica?
Nem há dúvida, foi muito prejudicada, muito perseguida, foi realmente uma calamidade o que aconteceu. Mas houve escritores muito fortes. A revolução foi um cataclismo. Moscou deixou de ser o centro único, que concentrava tudo. A Rússia ficou fragmentada, foram surgindo autores importantes nas províncias, foi uma mexida geral. E muitos imigraram.
Costuma-se dizer que a literatura engajada não produziu nada de substantivo do ponto de vista artístico. Você concorda?
Não. Temos o caso do Maiakóvski, que é literatura engajada e de grande vigor. Há também o Cholokhov [1905-1984], um romancista que tem de ser considerado. Ele tem um humor triste, marcado pelo período pós-revolução. Foi muito popular, mas sofreu muita repressão. Em 1948, houve campanha contra os que se desviavam da linha do partido, e ele sofreu por causa disso. Nos últimos anos, foi praticamente impedido de publicar.
O que é a tradução na sua concepção? Por que Haroldo falava muito da transcriação?
É criar um texto criativo. Não posso fazer uma tradução mecânica de dar apenas significado às palavras. Fidelidade semântica é importante. O texto tem de ser fiel semanticamente, mas não pode transmitir a semântica original. Ritmo, vivência da língua, a obra de criação de linguagem. Sou completamente de acordo com Haroldo.
É correto o tradutor dentro da sua visão de transcriador colocar suas ideias, puxar o autor para o seu universo estilístico?
Não. Tem de se conformar ao universo estilístico do autor. Posso até ter raiva de um texto, mas tenho que traduzir bem. Posso ter raiva, como em certos textos do Dostoiévski que me provocam repulsa. Ele era muito nacionalista. E, às vezes, chauvinista, conforme ele fala dos judeus e poloneses. Não posso estar de acordo, mas traduzo. Tenho de fazer, não vou fazer censura moralista. Posso ter raiva, mas tenho de traduzir direito.
Como você veio parar no Brasil?
Antes não se escolhia o país para onde ir, migrava-se para onde era possível. Tanto que muita gente intencionada a migrar para os Estados Unidos acabou ficando no Brasil ou na Argentina. Vim para o Brasil por circunstância. Eu tinha um primo que fazia curso de engenharia na Escola Politécnica, mas foi expulso por ser descendente de burgueses. As universidades eram para operários e filhos de operários. Ele, então, ficou muito revoltado e migrou para a fronteira da Romênia, onde ficou tentando entrar em algum país. E acabou conseguindo visto para o Brasil. Ele não escolheu porque não foi possível. Ele veio para o Brasil e ficou trabalhando na construção civil, como pedreiro. E, depois de uns meses, meu pai resolveu imigrar e trouxe a família. Uma irmã desse meu primo era para imigrar também, mas não veio porque ficou com um namorado com quem se casou. Eles acabaram morrendo na Guerra. Cheguei ao Brasil em dezembro de 1925, quando tinha oito anos de idade.
“Crime e Castigo mostra o indivíduo de grandes qualidades morais, bem intencionado em tudo, que é levado ao crime por uma deformação de pensamento”
“Dostoiévski era um homem religioso, profundamente religioso, mas propõe dúvidas para os religiosos que deixam as pessoas completamente desarmadas”
“Tolstoi quer mostrar que vício tem de ser condenado, atacado. Mas ele (...) tem a capacidade de transmitir paixões humanas com uma intensidade que outros autores não conseguem”
“Explicar a literatura pela história é muito difícil. É incrível como um país tão atrasado como a Rússia dá origem a essa profusão de grandes escritores sofisticados”