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Novidade Esporte Clube
Visto pela TV, o hóquei sobre patins, no gelo ou não, parece vibrante e dinâmico. Mas será que precisava ser tão violento? Tudo bem, vejamos outro exemplo. Que tal o tênis? Deve ser bom para desenvolver a concentração... Ah, mas jogar sem uma equipe? O interessante seria desenvolver um trabalho de grupo. Muitos de nós já se viram em meio a “dilemas” como esses na hora de optar por um esporte. E, claro, exigências desse tipo são mais do que legítimas. Afinal, o primeiro critério para a escolha de uma prática é o prazer. E quem disse que esporte não pode se adaptar aos nossos gostos e estilos de vida? Na verdade, tanto pode, que isso já vem acontecendo.
Desportistas apaixonados e criativos mundo afora inventaram práticas – algumas com nomes bastante curiosos – e provaram que é possível pegar emprestada uma coisinha de cada modalidade até chegar ao jogo ideal. A programação das unidades do Sesc, por exemplo, está cheia desses novos esportes. “A inovação faz parte da essência da instituição”, destaca Luciane Pierin, assistente técnica da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo (GDFE) do Sesc. “Por meio de esportes inusitados e pouco conhecidos, procuramos incentivar a inclusão e a participação de todos, sempre respeitando a diversidade do comportamento humano.”
O professor da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Marco Paulo Stigger, doutor em ciências do desporto, afirma que, muitas vezes, o que suscita a criação de modalidades é justamente a intenção de unir as pessoas. “Em alguns casos, pode-se romper a lógica mais ‘séria’ do esporte, para que todos possam jogar independentemente da performance”, explica Stigger.
Para o especialista, o surgimento de modalidades e adaptações pode ocorrer de diferentes formas. No lazer, por exemplo, ele as classifica como “miniaturas do esporte oficial”, em que existem regras a serem seguidas e, muitas vezes, a busca por resultados. “Outras vezes, porém, as regras são adaptadas para controlar a competitividade dos participantes”, aponta o professor, que destaca o que ele chama de “utilidade lúdica” do esporte. “Ele não se vincula às expectativas futuras e ao reconhecimento social, mas apenas à fruição da prática.”
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No Sesc Piracicaba, interior de São Paulo, uma dessas novas modalidades esportivas foi implantada como curso regular. Trata-se do quimbol, criado, em 1947, na própria cidade, por Joaquim Bueno de Camargo, o Quim, daí o nome do jogo. A modalidade é uma espécie de pingue-pongue gigante, disputado entre duas equipes, com quatro jogadores de cada lado, numa quadra dividida por uma rede.
“Ao praticá-lo, crianças e idosos desenvolvem agilidade, coordenação e equilíbrio”, afirma o instrutor de atividades físicas da unidade, Tiago Iodice Rigolin. “As regras são simples e, além de serem estimulantes, fazem com que os praticantes aprendam a respeitar a diversidade, o próximo e o coletivismo.” Adepto do esporte na unidade piracicabana, o aposentado Antonio Navarro Rosa, 72 anos, admite ter ?desenvolvido habilidades motoras ao frequentar as aulas duas vezes por semana, já há cinco anos. “Consegui fazer novos amigos e melhorar a saúde”, declara. “Considero isso uma mudança radical em minha vida”, avalia o aluno, que também pratica vôlei adaptado.
Esforço pela paz
Outra modalidade criada com base na adaptação é praticada no Sesc Interlagos e no Sesc Campinas. É o tchoukball, inventado pelo suíço Hermann Brandt, em 1960. O jogo, disputado em equipe, combina fundamentos do voleibol, do handebol e da pelota basca. “Entre diversos benefícios, ajuda no relacionamento das pessoas, no raciocínio, na segurança de deslocamento e na flexibilidade”, garante o bancário aposentado Pedro Martinez, de 67 anos, praticante da modalidade ao lado da mulher, Maria Martinez. Ainda segundo Pedro, o tchoukball o tem ajudado no seu condicionamento físico. “Consegui resultados importantes na recuperação de ruptura de ligamento cruzado e de menisco externo, assim como na recuperação da osteopenia de fêmur”, atesta o praticante.
De acordo com a professora de educação física do Sesc Campinas Luciana Helena Martins Ribeiro, o esporte é indicado a pessoas de diversas faixas etárias. “Alunos de qualquer idade e situação podem participar, porque a interação e o convívio social é uma das propostas previstas na instituição”, explica. “Porém, de acordo com a Associação Brasileira de Tchoukball, a nossa turma da terceira idade é a primeira do Brasil.”
Um dos pontos positivos da prática é o fato de aquela história de “vencer a qualquer custo” não só não ter lugar nas partidas, como também contrariar as regras. “O principal é participar com honestidade e transparência, por isso a modalidade foi chamada de esporte da paz”, informa Luciana. “A atividade permite a inclusão social, já que respeita as diferenças, potencialidades e limitações das pessoas.”
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A modalidade do sonho
Por mais inusitado que pareça, o criador do ramerbol, Carlos Antonio dos Santos, fotógrafo e morador da cidade de São José dos Campos, afirma que a ideia da prática lhe veio num sonho. “Enquanto eu dormia, a modalidade apareceu em minha mente em detalhes”, garante. “Acordei no meio da madrugada e anotei tudo em um papel para não esquecer. Depois só tive que mudar um pouco as regras.”
O esporte foi patenteado em 1997 e, segundo seu criador, exige-se mais raciocínio do que esforço físico. “Em suma, o jogador munido de martelo precisa acertar as bolas em cinco boxes ou nos círculos fixados que formam um ‘J’ no campo”, explica. A interação nessa prática também é plena em todas as idades. “O avô, o filho e o neto juntos numa partida se tornam atletas da mesma geração”, exemplifica o fotógrafo. “Além de fortalecer o convívio social, a modalidade ajuda na coordenação motora e desenvolve o raciocínio”, garante o idealizador, que tem a intenção de instituir a prática na Federação Brasileira de Esportes.
Hóquei sem gelo
Inédito no Brasil até então, o floorball chamou a atenção na Virada Esportiva, evento realizado em setembro pela Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação da Prefeitura de São Paulo. Na ocasião, os espectadores puderam acompanhar esse hóquei sem gelo, criado nos Estados Unidos em meados dos anos 1950, na programação do Sesc Ipiranga. “Após o jogo, muitos interessados nos procuraram para saber mais sobre a prática”, diz o advogado Emílio Duque Bug, vice-presidente da Associação Brasileira de Floorball. Ele garante que entre os atrativos estão o fato de não precisar saber patinar e também a ausência da violência que caracteriza a “versão gelada” do esporte.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Floorbal, atualmente existem cerca de 3.200 clubes e mais de 300 mil jogadores da modalidade no mundo. Para torná-lo mais conhecido no Brasil, Emílio tem apostado nas qualidades do floorball. Segundo ele, o diferencial está no dinamismo da modalidade. “Ela exige o trabalho de quase todos os músculos do corpo. Isso a torna fantástica porque é disputada sem violência, além de ser extremamente divertida”, enfatiza o advogado.
Considerado capaz de contribuir com os processos de desenvolvimento social, o esporte terá esse seu potencial discutido durante a Semana Internacional Esporte pela Mudança Social, que reunirá especialistas, estudiosos e atletas no Sesc Santana de 3 a 6 de novembro. Para o assistente da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo (GDFE) do Sesc, Afonso Elísio Corrêa Alves, é importante não apenas estimular, mas esclarecer que o esporte é um meio de transformação da educação informal. “Necessita, porém, de questionamentos, estudos e atualização profissional sobre seu planejamento e gestão. ”Afonso explica ainda que as práticas esportivas podem se encaixar perfeitamente em contextos humanitários, uma vez que jogos e atividades físicas são, comprovadamente, positivos para a saúde e o bem-estar.
Entre os parceiros do Sesc São Paulo na realização do evento estão a Rede Esporte pela Mudança Social (Rems), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a Nike do Brasil, a Unilever e a agência de consultoria sobre políticas culturais e esportivas para empresas J. Leiva. Conheça a programação completa do evento no Em Cartaz desta edição.
