Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

O Esporte de Todos Nós

REVISTA E - MARÇO 2008


por Claudia Maria da Silva Righetti



Neste texto não tenho a intenção de propor uma discussão profunda sobre o esporte e seu valor educativo, ou até mesmo fazer alguma abordagem sobre o fenômeno sócio cultural que ele representa em nossa sociedade. Não tenho este propósito, até porque diversos autores, especialistas e pesquisadores acadêmicos se dedicam a debater esses aspectos do esporte, uma vez que ele continua sendo alvo de ações extremistas, sem a devida discussão de seus propósitos e a real consideração de seus efeitos. Aqui, gostaria apenas de compartilhar como o esporte foi fundamental para a minha formação, em especial no âmbito do desenvolvimento humano.Todos nós passamos por situações marcantes em nossas vidas, sejam elas profissionais ou pessoais e comigo não poderia ter sido diferente.

É, portanto, sobre esta experiência que pretendo escrever e puxo pela memória o início da minha carreira. Recém formada como professora de educação física, profissão que escolhi com muito carinho, atuei de forma mais efetiva nas áreas da educação e das praticas corporais. Como a maioria dos professores, fazia jornadas duplas nas escolas durante o dia, academias à noite e, aos fins de semana, uma atuação na área de recreação em Clubes de Campo. As escolas, a academia e o Clube eram bem localizados e providos de excelentes equipamentos. Mas, não demorou muito e percebi algumas insatisfações pessoais. Passei então a procurar outra área de atuação, algo que preenchesse aquele vazio.

Naquela época, incentivada por uma grande amiga, participei de uma seleção para trabalhar em um programa ligado à Secretaria do Menor, conhecido como "Turma da Rua".Havia outros programas como: Casa aberta, Clube da Turma, Turma Faz Arte entre outros. Cada um tinha seu objetivo, porém todos eram voltados a um único interesse: atender prioritariamente crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, residentes em focos de exclusão social, oferecendo atividades complementares ao período escolar e ações socioeducativas para as famílias. Pois bem, aceitei o novo emprego junto com todos os desafios previstos e não previstos. Iniciei em uma das equipes multidisciplinares, formadas por professores de educação física, arte - educadores, psicólogos e assistentes sociais.

O programa, como o próprio nome já diz, acontecia nas ruas ou em espaços de convivência social, como praças, quadras, salão paroquial e campos de futebol. Lá, se davam as manifestações sócio-culturais, artísticas e físico-esportivas, tendo como princípio a participação democrática da comunidade. Com esta experiência, pude entender a realidade do espaço, construir a cada dia uma forma de ação, superar meus limites, medos e, principalmente, construir conhecimento a partir da troca e do diálogo. Lá, não era chamada de professora, alias, lá, eu não era a professora de educação física, lá, eu não ensinava o esporte e suas regras, mais do que tudo lá, eu era uma educadora de rua. Enfim, durante cinco anos aprendi o que nenhum livro ou universidade pode me ensinar e entendi, sobretudo, que o esporte é um direito de todos.

Meu maior desafio foi conhecer o potencial do esporte como ferramenta de formação humana, entender seu processo do ensino em espaços que não têm a obrigação solene de transmitir conhecimentos básicos comprometidos com qualquer idéia (oficial) de formação escolar do indivíduo.Esta situação me instigou a pensar em propostas de atividades que adotassem um esporte que sociabilizasse crianças e adolescentes através do acesso à cultura corporal do movimento. E, assim, fui me apropriando aos poucos de um conjunto de diretrizes, que hoje conheço muito bem e que continuo acreditando, como: trabalho coletivo, respeito à diversidade, autonomia, fomento e difusão da cultura local.


Claudia Maria da Silva Righetti é professora de Educação Física e Assistente da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo.