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Vida e morte do Bicho de Sete Cabeças

A trágica trajetória de Austregésilo Carrano, símbolo da luta contra os manicômios

HERBERT CARVALHO


Foto: Arquivo PB

A década de 1970 entrou para a história do Brasil como os anos de chumbo. Sufocados pela repressão política e pela censura, que limitava e empobrecia a produção cultural do país, jovens de classe média daquela geração viram-se espremidos entre duas estreitas saídas para suas crises de solidão e desespero: o engajamento na luta contra a ditadura pela via clandestina, com suas ramificações armadas e todos os riscos decorrentes, ou a alienação proporcionada pela tríplice mistura de sexo, drogas e rock’n’roll. Esta última escolha, porém, ao contrário do que se imagina, não estava isenta de riscos, inclusive o de prisão e tortura, embora em cárceres e com métodos distintos.

Uma história exemplar, ao mesmo tempo kafkiana e trágica, da segunda opção, foi a epopéia de Austregésilo Carrano Bueno, encerrada com sua morte em São Paulo no dia 27 de maio de 2008, aos 51 anos, vítima de câncer no fígado. Essa autêntica odisséia, retratada em parte no premiado filme de Laís Bodanzky – estrelado por Rodrigo Santoro – Bicho de Sete Cabeças, começou em outubro de 1974. No mesmo mês e ano em que, por coincidência, o último guerrilheiro do Araguaia era morto pela ditadura, Carrano – como se tornou conhecido em todo o Brasil – deu entrada em um hospital psiquiátrico de Curitiba, sua cidade natal. Menor de idade, é conduzido pelo pai, que o engana com a desculpa de precisar de companhia para visitar um amigo doente. A partir do momento em que dois enfermeiros se colocam um de cada lado e seguram seus braços, o jovem passa a viver os horrores de uma internação forçada, que mesmo escritores criativos como o russo Anton Tchekhov ou o colombiano Gabriel García Márquez tiveram dificuldades para imaginar e retratar em seus contos que abordam o tema ("Enfermaria nº 6" e "Só vim telefonar", respectivamente).

Assim, a leitura do livro em que Carrano relata sua história verídica – e no qual a cineasta baseou o filme – pode surpreender tanto os que não têm intimidade com o universo dos hospitais psiquiátricos como aqueles que acreditam que a ficção supera a realidade em matéria de crueldade. E a crueldade de que fala Canto dos Malditos – nome da obra que chegou a ser proibida judicialmente – difere daquela disseminada nos porões da ditadura apenas por ter sido praticada em nome da ciência. O sofrimento e as seqüelas dos que passaram por uma ou por outra situação, porém, guardam total semelhança.

Eletrochoques

Para os que não viram o filme de Laís Bodanzky nem leram o livro de Carrano, a história do Bicho de Sete Cabeças foi descrita assim pelo escritor Marcelo Rubens Paiva em uma crônica no jornal "O Estado de S. Paulo": "Garoto de 17 anos é internado, pois o pai encontra maconha na jaqueta, e durante os três anos em clínicas psiquiátricas leva sessões de eletrochoques aplicados a seco (voltagem de 180 a 460 volts). Foi dopado e institucionalizado, como diz o jargão".

A esse resumo pode-se acrescentar que Carrano foi um jovem como muitos de sua geração que hoje são políticos, juízes ou empresários. Reunia-se com colegas estudantes de Curitiba num estúdio fotográfico dos pais de um deles, para namorar, ouvir música e experimentar drogas como maconha e anfetaminas. Durante alguns meses viveu nas areias do Rio de Janeiro como hippie, curtindo o amor livre, como então se dizia, com duas garotas. Até o dia em que seu pai, preocupado porque o filho, além de cabeludo, havia se transformado em "maconheiro" – numa época em que o estigma social era muito maior que a difusão do conhecimento sobre a Cannabis sativa e seus efeitos –, acolheu os conselhos de um amigo policial e o internou no Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, de Curitiba. Posteriormente, Carrano esteve internado no Hospital de Neuropsiquiatria do Paraná, mais conhecido como San Julian, onde se dizia que o tratamento era "mais leve".

Três anos depois Israel Ferreira Bueno se daria conta do erro cometido e levaria o filho para casa. Durante o período em que esteve internado em instituições psiquiátricas, sem ao menos ter sido examinado previamente por qualquer médico, Carrano passou por 21 sessões de eletrochoque. Obrigado a tomar injeções diárias que lhe causaram feridas, inchaços e infecções – e a ingerir quantidade cavalar de medicamentos (entre 20 e 25 comprimidos diários) –, foi submetido a surras e a prisões em solitárias. Desesperado, ateou fogo em sua própria cela, atitude extrema que fez com que seus pais enfim se dessem conta do que realmente acontecia além dos jardins aprazíveis onde os familiares visitam os internos dessas casas.

Em depoimento incluso no livro do filho, o pai confessou: "Hoje eu sei que essas instituições psiquiátricas não passam de verdadeiras ratoeiras, que usam nossos filhos como cobaias. Mas infelizmente, naquela época, a nossa ignorância sobre os chamados tratamentos psiquiátricos era total". O próprio Carrano sintetizou assim a condição de quem é vítima de uma internação indesejada: "Somos currados em todos os direitos, pela omissão social e desleixos profissionais dos que nos usam como cobaias humanas em suas prisões intituladas instituições psiquiátricas. Tiram-nos a razão, transformam-nos em bestas humanas, não sabemos mais quem somos e o que somos, na forma de uma dupla prisão: física e química".

Entretanto, a vida do lado de fora dessas "prisões" também não seria fácil para Carrano, em especial a partir do momento em que decidiu tornar-se o primeiro ex-paciente psiquiátrico a descrever os horrores por que passou, em um livro recomendado para a edição pelo poeta e escritor paranaense Paulo Leminski, "não apenas pela contundência do depoimento, mas também por suas qualidades expressionais, literárias". Ao mostrar o manuscrito, nos anos 1980, para Marcelo Rubens Paiva – que o considerou uma história "de tirar o fôlego" –, Carrano disse ter se inspirado em Feliz Ano Velho, o best-seller de Paiva. Além de escritores, o texto passou ainda pela rigorosa avaliação de professores e técnicos do setor de saúde mental, que o aprovaram por unanimidade.

Batalha jurídica

Ocorre, porém, que a divulgação da obra logo encontraria opositores encarniçados, em especial a Associação Paranaense de Psiquiatria e os familiares do doutor Alô Ticolaut Guimarães, já falecido, mas que além de professor emérito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fora o diretor do Bom Retiro à época da internação de Carrano. Após quatro anos de recusas em editoras particulares, temerosas da repercussão que poderia ter um tema tão explosivo, o livro foi lançado, por ironia do destino, precisamente pela editora Scientia et Labor da UFPR, em março de 1990. De acordo com Carrano, logo após o lançamento, os exemplares foram retirados das livrarias de Curitiba, por pressão dos familiares de Guimarães. Nos anos seguintes a obra venderia 14 mil exemplares em seguidas reedições de diferentes editoras, mas sofreria intervalos que somaram mais de dois anos de interdições judiciais obtidas pela família do psiquiatra. A liberação definitiva ocorreu só em 2003. Considerado um precioso documento sobre os abusos cometidos em hospitais psiquiátricos brasileiros, o livro hoje é adotado em várias universidades e colabora para a formação de profissionais de medicina, psicologia, ciências sociais e direito.

Entretanto, a verdadeira batalha jurídica de Carrano começou a ser travada em maio de 1998, quando entrou com uma ação indenizatória exigindo dos responsáveis por sua internação uma reparação de R$ 10 milhões por erros médicos e danos morais. Para a Justiça, no entanto, já era tarde demais: o Tribunal de Alçada do Estado do Paraná confirmou uma decisão da primeira instância que considerou prescrito o suposto crime, por ter ocorrido há mais de 20 anos. Como a última alta médica de Carrano foi dada em 20 de setembro de 1977, o tribunal concluiu que o prazo para entrar com a ação se encerrara em 1997. Foram inúteis os argumentos da advogada Vera Lúcia Vassouras de que a capacidade civil começa a partir de 21 anos, que Carrano completou em 15 de maio de 1979, e que, portanto, a data de 13 de maio de 1999, quando a ação teve início, ainda estaria dentro do prazo. Pior do que isso foi a sentença adversa – que o levou a se acorrentar em frente ao Tribunal de Justiça do Paraná em sinal de protesto –, que determinou que pagasse as custas do processo, num total de R$ 60 mil. "Estou condenado a indenizar meus torturadores", declarava com amargura. Quando morreu, ainda aguardava o resultado de recursos aos tribunais superiores, em Brasília.

Luta antimanicomial

A cruzada de Carrano não se restringiu aos tribunais e tampouco foi travada apenas em causa própria. Ele dedicou grande parte de sua vida a demonstrar que portadores de sofrimento mental são seres humanos que não podem ser jogados num canto – o dos malditos –, esquecidos por todos e transformados em peças da perversa, porém lucrativa, engrenagem dos manicômios particulares, abastecidos por verbas públicas do Sistema Único de Saúde (SUS). Tornou-se, assim, um militante do Movimento da Luta Antimanicomial (MLA), que combate a discriminação e a exclusão social dos doentes mentais, pregando a extinção dos manicômios e a adoção de modelos mais humanos de tratamento psiquiátrico.

A principal vitória do movimento foi a sanção, em abril de 2001, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, da reforma psiquiátrica, que apesar de não ter acabado de vez com os manicômios instituiu o tratamento de doenças mentais por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e dos Hospitais-Dia. A internação é feita apenas em último caso e só pelo tempo que durar a crise aguda (ver PB 356, março-abril de 2003).

Por sua contribuição nesse processo como representante nacional dos usuários, Carrano chegou a ser homenageado em maio de 2003 pelo Ministério da Saúde e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reconhecimento à sua luta e ao seu empenho na construção da rede nacional de serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos no Brasil.

Foi também membro da Comissão Intersetorial de Saúde Mental do Conselho Nacional de Saúde. Além disso, em sua vida profissional foi ator e autor de peças de teatro e de outras obras de ficção.

De acordo com a psicóloga Maria Ermínia Ciliberti, vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo e coordenadora das ações de saúde mental da entidade, as experiências que Carrano vivenciou enquanto esteve internado contribuíram para sua morte prematura: "Às seqüelas físicas somam-se os traumas psicológicos. Apesar de sua vontade de viver e de sua determinação de denunciar os abusos que sofreu, para evitar que outros passassem pela mesma situação, Carrano, como muitos ex-internos de manicômios, carregava uma marca indelével, que nunca se apagou nem de seu corpo nem de sua mente". Atuante na área de saúde pública, Maria Ermínia considera que Carrano exerceu um papel decisivo nos avanços obtidos com a reforma psiquiátrica: "A partir de seu exemplo, muitos usuários, assim como seus familiares, adquiriram consciência de que há outros e melhores meios de tratar problemas mentais além da internação. Essa mobilização foi fundamental para ampliar o movimento por meio de uma aliança entre os usuários e os profissionais da área, que agiam inspirados na experiência de Basaglia", diz a psicóloga. A referência é ao médico italiano Franco Basaglia, que na década de 1960 iniciou, em Trieste, a transferência do atendimento para a comunidade e o esvaziamento dos hospitais, com a abolição dos métodos tradicionais de isolamento dos portadores de transtornos.

Refém brilhante

Para a diretora Laís Bodanzky, o destino de Carrano estava traçado desde o momento em que "entrou no inferno". "Ele nunca superou, mas eu diria que digeriu, encarou de frente e decidiu se expor. Sua saída brilhante foi transformar o sofrimento em uma ação destinada a mostrar que a sociedade é cúmplice do que acontece atrás dos muros dos manicômios," diz Laís, que participou de inúmeros debates ao lado de Carrano a cada 18 de maio – Dia da Luta Antimanicomial – e o chamou ao palco do Festival de Cinema de Brasília, para partilhar dos aplausos do público. Ela usa o adjetivo "brilhante" também com uma conotação de homenagem: "Carrano certa vez me disse que seu primeiro nome, Austregésilo, de origem germânica, significa ‘refém brilhante’".

Laís assume que fez um filme engajado, com objetivo de denúncia. Para isso o roteirista Luiz Bolognesi atualizou a trama para os dias atuais, mas a cineasta reconhece que a realidade supera em horror o que aparece na tela: "A cena mais dramática é a do eletrochoque. Se mostrássemos o personagem lambendo o chão ou se lambuzando com fezes, como está no livro, seria excessivo, ninguém iria acreditar". E credibilidade foi o que não faltou ao filme, assistido por 450 mil pessoas nos cinemas e por milhões nas duas vezes em que foi exibido pela Rede Globo, além dos que o viram em DVD e na TV fechada.

A diretora se orgulha do papel que sua obra – mostrada também em sessão especial, antes da estréia, aos responsáveis por saúde mental do Ministério da Saúde – representou na reforma psiquiátrica. "Rodrigo Santoro não imitou um louco. Ele concebeu um personagem que traduz a poesia que há na loucura. O doente mental é um ser frágil, que se fecha diante de um mundo que o oprime. Por isso a terapia ocupacional é tão importante: a poesia é a melhor forma de nos relacionarmos com o universo da loucura". Laís explica que nesse seu primeiro e até hoje mais premiado longa o resultado final em muito se deve ao trabalho de preparação dos atores desenvolvido por Sergio Penna: "Ele tinha experiência em fazer teatro com portadores de sofrimento mental e os compreendia não como loucos, mas como artistas buscando um meio de expressão. Dessa forma não foi preciso fazer laboratório em manicômios, à exceção de Rodrigo Santoro, que por conta própria chegou a visitá-los para melhor compor o personagem".

O filme, ao contrário do livro, não sofreu qualquer tentativa de embargo, mas para isso os nomes dos personagens foram trocados e o próprio título acabou mudado para Bicho de Sete Cabeças, que a cineasta escolheu após ouvir a música homônima de Geraldo Azevedo (em parceria com Zé Ramalho e Renato Rocha), presente na trilha sonora na voz de Zeca Baleiro. "O máximo que aconteceu foi certa vez num debate um estudante de psiquiatria argumentar que eu estava prejudicando a imagem de sua futura profissão. Mas a maioria dos próprios psiquiatras manifestou-se favoravelmente", acrescenta Laís.

Refazer a vida

"A verdadeira mudança no tratamento de doenças mentais é cultural. A contribuição de Carrano nesse sentido, ao expor a chaga da situação dos manicômios no Brasil, foi a pedra angular dessa obra que trataremos de continuar construindo", afirma Nilo Marques de Medeiros Neto, militante do MLA e usuário dos serviços de saúde mental, que propôs a entrega póstuma da Ordem do Mérito do Ministério da Cultura "ao saudoso amigo e líder maior Austregésilo Carrano Bueno".

Nilo também atuou como representante do movimento antimanicomial na Comissão Intersetorial de Saúde Mental do Conselho Nacional de Saúde em Brasília, entre 2003 e 2005. "Tivemos a oportunidade de colocar nosso tijolo na construção do programa ‘De Volta pra Casa’, do qual resultou lei sancionada pelo presidente Lula que concede um salário incentivo aos egressos de longas internações para que possam refazer sua vida", conta Nilo, também responsável pela criação e realização, em Florianópolis, onde mora, da Caminhada do Orgulho Louco, em 2004. Disseminada pelo Brasil – foi promovida também em Manaus, Salvador e São Paulo –, a caminhada surgiu com dois propósitos, segundo Nilo: "A manifestação próxima a hospitais psiquiátricos como forma de denúncia e a criação da identidade do usuário de saúde mental enquanto ator do movimento social pelo fim dos manicômios".


Uma história de muitos horrores

A assistência psiquiátrica no Brasil teve início em 1852, quando o imperador Pedro II inaugurou um hospital para doentes mentais com capacidade para 350 pacientes. Na virada do século 19 as instituições tinham aumentado em número – eram cerca de duas dezenas –, mas sua principal função era menos a de tratar os doentes que a de retirar de circulação os rejeitados pela crescente urbanização do país, como mendigos e prostitutas, além dos loucos propriamente ditos.

Esse uso discricionário, que podia ter conotações políticas, ficou evidenciado em 1910, quando o marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, foi internado em um hospital de alienados como louco e indigente. Na década de 1980, o ex-presidente Jânio Quadros mandou para uma clínica psiquiátrica, após uma divergência pública, sua filha Dirce "Tutu" Quadros, que exercia o mandato de deputada federal constituinte.

Atualmente, de acordo com a legislação em vigor, uma internação dessa natureza exigiria, além de autorização da família, um laudo psiquiátrico.

No interior das instituições, a situação começou a mudar apenas na década de 1940, quando a psiquiatra Nise da Silveira criou, no Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de Janeiro, a Seção de Terapia Ocupacional. Ela passaria a usar a livre expressão artística de seus pacientes como ferramenta de recuperação da saúde mental, chegando a fundar, em 1952, o Museu de Imagens do Inconsciente.

O símbolo maior do descaso com os doentes mentais foi o tristemente famoso Hospital Psiquiátrico do Juqueri, considerado uma "sucursal do inferno" pela Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos, que o visitou em 1984. Fundado na cidade de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, em 1898, chegou a ter 16 mil internos na década de 1960 e sobreviveu até 2005, quando foi desativado.

Em Minas Gerais, o horror foi representado pelo Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, fundado em 1903 e hoje transformado em Museu da Loucura (ver PB 328, julho-agosto de 1998). Visitado por Franco Basaglia em 1979, foi por ele comparado aos campos de concentração nazistas durante a 2ª Guerra Mundial.

Apesar dos avanços obtidos em relação à saúde mental, em agosto de 2006 a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil por violação dos direitos humanos em razão da morte violenta do paciente Damião Ximenes Lopes, ocorrida em outubro de 1999, na Casa de Repouso Guararapes, localizada no município de Sobral, no interior do Ceará.


Reforma bem-vinda

Instituída pela lei 10.216, de 2001, fruto de 12 anos de intensa mobilização social liderada pelo Movimento de Luta Antimanicomial, a reforma psiquiátrica no Brasil promoveu uma ampla alteração do atendimento público em saúde mental, pautada por dois princípios: garantia de acesso da população aos serviços e respeito a seus direitos e liberdade. Significou, sobretudo, a mudança do modelo de tratamento, que passou a priorizar, no lugar do isolamento, o convívio com a família e a comunidade. O atendimento é feito nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Hospitais-Dia, residências terapêuticas, ambulatórios e centros de convivência. As internações, quando necessárias, acontecem em hospitais gerais ou nos Caps/24 horas.

Segundo dados do Ministério da Saúde, os hospitais psiquiátricos de grande porte estão sendo progressivamente substituídos. Em 2001, havia no país 55.675 leitos para pacientes com transtornos mentais, número que caiu para 37.988 ao final de 2007. Estima-se que 30% desses leitos ainda sejam de longa permanência – com o paciente internado por mais de seis meses. No mesmo período ampliou-se a chamada rede substitutiva, com a abertura de 1.181 Caps, 488 residências terapêuticas e 2.392 leitos em hospitais gerais.

O Ministério da Saúde estima que 3% dos brasileiros sofrem de transtornos mentais severos e persistentes; 6% apresentam transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas e 12% necessitam de algum atendimento em saúde mental, contínuo ou eventual. Do orçamento anual do SUS, apenas 2,3% vão para a saúde mental, percentual que os profissionais da área defendem que seja elevado para 5%. 

 

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