Sesc SP

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Turismo

Revista Junho - 2006

 

 

Estação Cultural São Paulo

Grandes eventos na área de música, artes plásticas e teatro têm fomentado um tipo de turismo que pode incluir a cidade no roteiro das mais agitadas capitais culturais do mundo

O professor de matemática José Luiz Ribeiro Jr. descobriu no turismo, além de boa fonte complementar de renda, uma atividade que vem ocupando cada vez mais seu tempo, fazendo dele uma figura conhecida na cidade onde mora e trabalha, Santos, no litoral de São Paulo. No entanto, engana-se quem pensa que José Luiz organiza excursões para apresentar as muitas praias do litoral do estado a paulistanos ávidos por relaxar à beira-mar. Trata-se exatamente do contrário, o turismo que José Luiz ajuda a movimentar é o da cidade de São Paulo. O professor faz parte do time daqueles que descobriram a capital como um destino para quem está à procura de lazer, cultura e entretenimento. De 2001 - quando ele trouxe o primeiro grupo para assistir ao musical A Bela e a Fera - até este ano, organizou a vinda de aproximadamente 2 mil pessoas para a metrópole, em pacotes com a dobradinha atividade cultural e jantar - quase sempre numa cantina no Bixiga. "As pessoas gostam, sim, de passear em São Paulo", afirma o professor. "Assistir aos espetáculos, visitar as grandes exposições." Ou seja, sabe aquele musical em cartaz no teatro atrás de sua casa? Ou aquele museu em frente do qual você passa todos os dias a caminho do trabalho? Pois é, eles atraem moradores de outras cidades do estado, de outros estados do Brasil, e até mesmo de outros países. Esse movimento, chamado turismo cultural e de lazer, em São Paulo já é responsável por 27,9% das visitas à cidade, só perdendo para o forte turismo de negócios, que acumula 42,7% das vindas, de acordo com dados da edição do boletim divulgado em maio pela SP Turis, órgão oficial da Prefeitura de São Paulo que substituiu a antiga Anhembi Turismo. O fenômeno está começando, mas anima alguns especialistas. "O carro-chefe da cidade sem dúvida são os eventos e negócios", explica Caio Luiz de Carvalho, presidente da SP Turis. "Por isso, o grande segredo é fazer com que as pessoas que venham à cidade a negócios fiquem mais um dia por conta da extraordinária diversidade cultural de São Paulo." Grandes acontecimentos culturais realizados com cada vez mais freqüência têm contribuído tanto para conquistar esse visitante a negócios quanto para atrair pessoas de outros cantos do estado, como é o caso dos grupos organizados pelo professor José Luiz em Santos. Trata-se de um elemento agregador de diferentes tipos de turista, que têm em comum a descoberta da metrópole como parte de uma rota de grandes capitais culturais (veja boxe Sesc Avenida Paulista). Para o presidente da SP Turis, o início da exploração dessa nova faceta da cidade tem um ponto de referência: a exposição do escultor francês Auguste Rodin, realizada pela Pinacoteca do Estado em 1995, que atraiu 150 mil visitantes, segundo divulgou a imprensa na época. Poucos anos mais tarde, outras novidades reforçaram o potencial turístico da cidade, como a inauguração da Sala São Paulo, os eventos na Oca, situada no Parque do Ibirapuera, e até mesmo a Virada Cultural do ano passado.


Grandes eventos
Três áreas da cultura mostram especial força no momento de atrair turistas: as artes plásticas, a música e o teatro. Mas o segredo está no formato de superprodução e nos grandes nomes. No campo das exposições, Rodin, Picasso, Michelangelo; nos palcos da música, o pop rock irlandês do U2 ou os eternos da MPB Ney Matogrosso e Maria Bethânia; no teatro, versões brasileiras de musicais da Broadway, como O Fantasma da Ópera e Chicago, ou espetáculos trazendo atores globais, como As Mulheres da Minha Vida, com Antônio Fagundes. "São Paulo é, em si, uma grande virada cultural, não seria necessário nem fazer um evento pontual para marcar isso", afirma o artista plástico Emanoel Araújo, que hoje está à frente do Museu Afro Brasil, mas anos atrás foi o responsável pela vinda do fenômeno Rodin à Pinacoteca, na época em que era diretor da instituição. Outro ponto importante - como não poderia deixar de ser nos atuais quadros da sociedade do marketing - é a propaganda. O próprio Emanoel Araújo esclarece que a exposição de Rodin - a despeito de todo o interesse que o escultor pode despertar com sua obra e história - teve o impulso de uma chamada na TV Globo, que ele considera uma "quase indução". E assim é com outros sucessos arrebatadores - basta pensar no próximo fenômeno à vista: o canadense-internacional Cirque du Soleil, que, embora esteja agendado para agosto, teve os ingressos esgotados já em maio. É a junção desses fatores que coloca os eventos culturais da cidade no roteiro dos turistas. "Para Chicago, em 2003, bolei um panfleto no computador e mandei para alguns e-mails. Em 15 dias, eu já havia conseguido reunir 150 pessoas em três ônibus", explica o professor José Luiz, o agente turístico informal de Santos. "Para Mademoiselle Chanel, com a Marília Pêra, foram três viagens, com quase 200 pessoas também." O professor conta que seu grande recorde foi mesmo o musical O Fantasma da Ópera, sucesso que, segundo a assessoriada CIE Brasil, produtora do espetáculo, atraiu 500 mil pessoas em 350 apresentações. Desde que a peça estreou, em abril de 2005, José Luiz conseguiu trazer mais de mil pessoas, num total de dez viagens. "Toda vez que está para estrear algum espetáculo em São Paulo, as pessoas já começam a me ligar. O mais recente é o Cirque du Soleil. Eu até já comprei adiantados 50 ingressos porque tenho certeza de que haverá interessados em cada um deles." Na área da música, segundo o professor, os preferidos são Ney Matogrosso, "que atrai bastante as senhoras de terceira idade", Maria Bethânia, a preferida dos casais, e Fábio Jr., que "interessa muito a mulheres na faixa dos 40 anos".



Alguns pontos fortes, outros nem tanto...
Diante dessa efervescência, a SP Turis não se intimidou em classificar a cidade como "a capital dos eventos na América Latina". Segundo o órgão, o mercado e o público começam a compreender que São Paulo é muito mais do que apenas um local de negócios. Basta lembrar, por exemplo, dos recentes shows internacionais do U2, Pearl Jam e Oasis. Ou do fato de a capital paulista receber a única prova de Fórmula 1 da América Latina ou a maior Parada GLBT do Mundo, além de outros eventos que confirmam São Paulo como centro gerador de tendências nas mais diversas áreas, como o São Paulo Fashion Week.

Para o professor de turismo cultural da Faculdade de Turismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), Mário Jorge Pires, esse ramo específico do setor em São Paulo se encontra num momento que poderá levar a uma "real e positiva" mudança. "São Paulo possui pontos fortes", afirma. "Como a cultura material do Centro e do Centro expandido, além de preciosidades em seus múltiplos e variados acervos. Edificações estão sendo restauradas e apresentam-se como saudáveis as iniciativas de inaugurar centros culturais." Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, instituição que, por meio da diversificada programação de suas unidades, contribui para incrementar o cenário cultural da cidade, acredita que vários fatores influenciaram o aumento das iniciativas culturais e de entretenimento, como a inauguração de espaços para esse fim e o significativo crescimento do número de espetáculos oferecidos. "Essa mudança foi possível principalmente pela sociabilização da cultura, ou seja, as pessoas hoje possuem maior disponibilidade para o lazer cultural, que se tornou mais acessível", explica. Entre os pontos positivos que o diretor destaca na cidade - aqueles que justificariam sua inclusão definitiva no eixo cultural mundial - aparecem a própria formação da metrópole, privilegiada, segundo ele, por ter recebido imigrantes de diferentes países, "preparando o 'espírito' do paulistano para a diversidade cultural", e a "ótima" estrutura de casas de shows, "com espetáculos de qualidade e sofisticação comparáveis aos de qualquer capital mundial da cultura". Miranda faz questão de ressaltar também a excelência da cidade no setor de serviços. "Hoje, São Paulo oferece mais de 45 mil eventos anuais com ótima infra-estrutura de serviços relacionados, com destaque para os locais para sua promoção e o excelente parque hoteleiro." Por outro lado, ainda de acordo com o diretor, para que o turismo cultural em São Paulo possa se desenvolver ainda mais, a cidade precisaria ampliar os meios de transporte coletivo, investir em segurança e informações turísticas sobre a cidade, e preservar seusmonumentos. Ponto no qual o professor Pires, da USP, concorda. "Preservação continua sendo uma palavra abstrata para muitos diretores de museus, que jamais pensam na possibilidade de o turismo ser um instrumento de educação informal a ser praticado no tempo livre e prazerosamente. Então, para que preservar? Mas, principalmente, para quem preservar?", questiona.

 

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veja boxe Sesc Avenida Paulista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sesc Avenida Paulista

Nova unidade amplia opções culturais na cidade

Em fase de implantação, a unidade provisória Sesc Avenida Paulista funciona ocupando diversas instalações do prédio que já serviu de sede da instituição com uma proposta de programação ainda mais abrangente. Somam-se agora, aos shows do Instrumental Sesc Brasil, as exposições realizadas na galeria e, mais recentemente, o turismo social (veja boxe Um Dia na Metrópole) variados espetáculos teatrais - isso só para mencionar as atividades na área da cultura. "Estar na Avenida Paulista é fixar-se no pólo cultural da metrópole", explica Sidnei Martins, técnico da unidade. "Quando a administração central do Sesc São Paulo deixou o prédio e transferiu-se para a nova sede, no bairro do Belenzinho, foi instantâneo pensar que o local poderia, ainda que em caráter provisório, abrigar mais alternativas para reflexões estéticas e culturais da cidade - além de lazer de qualidade e atividade física." Ainda segundo o técnico, para um futuro próximo está prevista a criação de novos espaços, com a adaptação dos andares para abrigar atividades nas áreas da dança, música, literatura, artes plásticas, cinema e expressão corporal. "Existem muitas idéias em formação para atender ao público", explica Sidnei. "A idéia é usar melhor as instalações do edifício e abrir mais possibilidades para outras linguagens e experimentações artísticas e esportivas." Atualmente, o Teatro Auditório abriga, aos fins de semana, sessões regulares de música erudita e teatro infantil. Aulas abertas de técnicas corporais chinesas acontecem aos sábados, domingos e feriados sob a marquise do prédio.


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Um dia na metrópole

Programa de turismo social do Sesc São Paulo revela a cidade a seus habitantes

A idéia é simples: "vender" São Paulo para os próprios habitantes. E o verbo aparece entre aspas porque nesse contexto quer dizer "revelar a metrópole e suas muitas opções" - várias gratuitas - àqueles que, seja por falta de tempo, seja de dinheiro ou por inúmeros outros entraves de acesso, não conhecem os detalhes e a história por trás daquela rua, daquele monumento ou daquele museu que está todo dia no caminho para casa ou para o trabalho. Por esse objetivo ultrapassar a noção convencional de turismo é que o programa do Sesc São Paulo recebeu uma qualificação complementar: social.

"O projeto foi criado para que o paulistano conhecesse sua cidade por meio de passeios de curta duração, um dia, como se fossem turistas descobrindo o lugar", explica Denise Kieling, especialista em turismo do Sesc Avenida Paulista, unidade que centraliza as operações do programa. Ele oferece também passeios para outras cidades do estado e para outros estados. "A idéia nasceu quando perguntamos a várias pessoas se elas conheciam os ícones da cidade - Masp, Edifício Copan, Monumento às Bandeiras etc. - e muitos não conheciam ou nem tinham ouvido falar de alguns locais, mesmo tendo nascido na cidade."

O lema do trabalho é: "Só valorizamos aquilo que conhecemos". Com esse norte, a equipe de técnicos arregaçou as mangas e criou diversos "pacotes" que colocam em prática essa filosofia. Entre eles está o Por Dentro de São Paulo - antes chamado de Diversãopaulo. "São passeios de um dia, em grupo, por espaços urbanos que reflitam a história, o meio ambiente e a diversidade étnica da cidade de São Paulo, permitindo de forma prazerosa a relação entre o paulistano e sua metrópole", afirma Denise. Dentro dessa iniciativa já foram bolados mais de 70 roteiros que exploram vários aspectos da capital - a geografia, as manifestações populares e diversos outros temas, como estádios paulistanos, o bairro do Ipiranga, o Centro velho, a Avenida Paulista etc. "É um olhar especial sobre o cotidiano - às vezes a gente sente que não conhece o lugar onde vive, onde cresce e cria os filhos", diz a técnica. Para o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, essa iniciativa da instituição abriu um caminho seguido por outras empresas. "As pessoas passaram a perceber que há demanda para diferentes tipos de turismo - cultural, histórico e ambiental, entre outros", afirma. "Isso amplia a oferta de roteiros em São Paulo para atender tanto o público da cidade quanto os turistas que aqui chegam."

Para saber mais sobre os roteiros do Por Dentro de São Paulo, e também sobre outros pacotes oferecidos pelo turismo social do Sesc, basta consultar o Em Cartaz.



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