Estação
Cultural São Paulo
Grandes eventos
na área de música, artes plásticas e teatro têm
fomentado um tipo de turismo que pode incluir a cidade no roteiro das
mais agitadas capitais culturais do mundo
O professor de matemática
José Luiz Ribeiro Jr. descobriu no turismo, além de boa
fonte complementar de renda, uma atividade que vem ocupando cada vez mais
seu tempo, fazendo dele uma figura conhecida na cidade onde mora e trabalha,
Santos, no litoral de São Paulo. No entanto, engana-se quem pensa
que José Luiz organiza excursões para apresentar as muitas
praias do litoral do estado a paulistanos ávidos por relaxar à
beira-mar. Trata-se exatamente do contrário, o turismo que José
Luiz ajuda a movimentar é o da cidade de São Paulo. O professor
faz parte do time daqueles que descobriram a capital como um destino para
quem está à procura de lazer, cultura e entretenimento.
De 2001 - quando ele trouxe o primeiro grupo para assistir ao musical
A Bela e a Fera - até este ano, organizou a vinda de aproximadamente
2 mil pessoas para a metrópole, em pacotes com a dobradinha atividade
cultural e jantar - quase sempre numa cantina no Bixiga. "As pessoas
gostam, sim, de passear em São Paulo", afirma o professor.
"Assistir aos espetáculos, visitar as grandes exposições."
Ou seja, sabe aquele musical em cartaz no teatro atrás de sua casa?
Ou aquele museu em frente do qual você passa todos os dias a caminho
do trabalho? Pois é, eles atraem moradores de outras cidades do
estado, de outros estados do Brasil, e até mesmo de outros países.
Esse movimento, chamado turismo cultural e de lazer, em São Paulo
já é responsável por 27,9% das visitas à cidade,
só perdendo para o forte turismo de negócios, que acumula
42,7% das vindas, de acordo com dados da edição do boletim
divulgado em maio pela SP Turis, órgão oficial da Prefeitura
de São Paulo que substituiu a antiga Anhembi Turismo. O fenômeno
está começando, mas anima alguns especialistas. "O
carro-chefe da cidade sem dúvida são os eventos e negócios",
explica Caio Luiz de Carvalho, presidente da SP Turis. "Por isso,
o grande segredo é fazer com que as pessoas que venham à
cidade a negócios fiquem mais um dia por conta da
extraordinária diversidade cultural de São Paulo."
Grandes acontecimentos culturais realizados com cada vez mais freqüência
têm contribuído tanto para conquistar esse visitante a negócios
quanto para atrair pessoas de outros cantos do estado, como é o
caso dos grupos organizados pelo professor José Luiz em Santos.
Trata-se de um elemento agregador de diferentes tipos de turista, que
têm em comum a descoberta da metrópole como parte de uma
rota de grandes capitais culturais (veja boxe
Sesc Avenida Paulista). Para o presidente da SP Turis,
o início da exploração dessa nova faceta da cidade
tem um ponto de referência: a exposição do escultor
francês Auguste Rodin, realizada pela Pinacoteca do Estado em 1995,
que atraiu 150 mil visitantes, segundo divulgou a imprensa na época.
Poucos anos mais tarde, outras novidades reforçaram o potencial
turístico da cidade, como a inauguração da Sala São
Paulo, os eventos na Oca, situada no Parque do Ibirapuera, e até
mesmo a Virada Cultural do ano passado.
Grandes eventos
Três
áreas da cultura mostram especial força no momento de atrair
turistas: as artes plásticas, a música e o teatro. Mas o
segredo está no formato de superprodução e nos grandes
nomes. No campo das exposições, Rodin, Picasso, Michelangelo;
nos palcos da música, o pop rock irlandês do U2 ou os eternos
da MPB Ney Matogrosso e Maria Bethânia; no teatro, versões
brasileiras de musicais da Broadway, como O Fantasma da Ópera e
Chicago, ou espetáculos trazendo atores globais, como As Mulheres
da Minha Vida, com Antônio Fagundes. "São Paulo é,
em si, uma grande virada cultural, não seria necessário
nem fazer um evento pontual para marcar isso", afirma o artista plástico
Emanoel Araújo, que hoje está à frente do Museu Afro
Brasil, mas anos atrás foi o responsável pela vinda do fenômeno
Rodin à Pinacoteca, na época em que era diretor da instituição.
Outro ponto importante - como não poderia deixar de ser nos atuais
quadros da sociedade do marketing - é a propaganda. O próprio
Emanoel Araújo esclarece que a exposição de Rodin
- a despeito de todo o interesse que o escultor pode despertar com sua
obra e história - teve o impulso de uma chamada na TV Globo, que
ele considera uma "quase indução". E assim é
com outros sucessos arrebatadores - basta pensar no próximo fenômeno
à vista: o canadense-internacional Cirque du Soleil, que, embora
esteja agendado para agosto, teve os ingressos esgotados já em
maio. É a junção desses fatores que coloca os eventos
culturais da cidade no roteiro dos turistas. "Para Chicago, em 2003,
bolei um panfleto no computador e mandei para alguns e-mails. Em 15 dias,
eu já havia conseguido reunir 150 pessoas em três ônibus",
explica o professor José Luiz, o agente turístico informal
de Santos. "Para Mademoiselle Chanel, com a Marília Pêra,
foram três
viagens, com quase 200 pessoas também." O professor conta
que seu grande recorde foi mesmo o musical O Fantasma da Ópera,
sucesso que, segundo a assessoriada CIE Brasil, produtora do espetáculo,
atraiu 500 mil pessoas em 350 apresentações. Desde que a
peça estreou, em abril de 2005, José Luiz conseguiu trazer
mais de mil pessoas, num total de dez viagens. "Toda vez que está
para estrear algum espetáculo em São Paulo, as pessoas já
começam a me ligar. O mais recente é o Cirque du Soleil.
Eu até já comprei adiantados 50 ingressos porque tenho certeza
de que haverá interessados em cada um deles." Na área
da música, segundo o professor, os preferidos são Ney Matogrosso,
"que atrai bastante as senhoras de terceira idade", Maria Bethânia,
a preferida dos casais, e Fábio Jr., que "interessa muito
a mulheres na faixa dos 40 anos".
Alguns
pontos fortes, outros nem tanto...
Diante dessa
efervescência, a SP Turis não se intimidou em classificar
a cidade como "a capital dos eventos na América Latina".
Segundo o órgão, o mercado e o público começam
a compreender que São Paulo é muito mais do que apenas um
local de negócios. Basta lembrar, por exemplo, dos recentes shows
internacionais do U2, Pearl Jam e Oasis. Ou do fato de a capital paulista
receber a única prova de Fórmula 1 da América Latina
ou a maior Parada GLBT do Mundo, além de outros eventos que confirmam
São Paulo como centro gerador de tendências nas mais diversas
áreas, como o São Paulo Fashion Week.
Para o professor de turismo cultural da Faculdade de Turismo da Escola
de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São
Paulo (USP), Mário Jorge Pires, esse ramo específico do
setor em São Paulo se encontra num momento que poderá levar
a uma "real e positiva" mudança. "São Paulo
possui pontos fortes", afirma. "Como a cultura material do Centro
e do Centro expandido, além de preciosidades em seus múltiplos
e variados acervos. Edificações estão sendo restauradas
e apresentam-se como saudáveis as iniciativas de inaugurar centros
culturais." Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São
Paulo, instituição que, por meio da diversificada programação
de suas unidades, contribui para incrementar o cenário cultural
da cidade, acredita que vários fatores influenciaram o aumento
das iniciativas culturais e de entretenimento, como a inauguração
de espaços para esse fim e o significativo crescimento do número
de espetáculos oferecidos. "Essa mudança foi possível
principalmente pela sociabilização da cultura, ou seja,
as pessoas hoje possuem maior disponibilidade para o lazer cultural, que
se tornou mais acessível", explica. Entre os pontos positivos
que o diretor destaca na cidade - aqueles que justificariam sua inclusão
definitiva no eixo cultural mundial - aparecem a própria formação
da metrópole, privilegiada, segundo ele, por ter recebido imigrantes
de diferentes países, "preparando o 'espírito' do paulistano
para a diversidade cultural", e a "ótima" estrutura
de casas de shows, "com espetáculos de qualidade e sofisticação
comparáveis aos de qualquer capital mundial da cultura". Miranda
faz questão de ressaltar também a excelência da cidade
no setor de serviços. "Hoje, São Paulo oferece mais
de 45 mil eventos anuais com ótima infra-estrutura de serviços
relacionados, com destaque para os locais para sua promoção
e o excelente parque hoteleiro." Por outro lado, ainda de acordo
com o diretor, para que o turismo cultural em São Paulo possa se
desenvolver ainda mais, a cidade precisaria ampliar os meios de transporte
coletivo, investir em segurança e informações turísticas
sobre a cidade, e preservar seusmonumentos. Ponto no qual o professor
Pires, da USP, concorda. "Preservação continua sendo
uma palavra abstrata para muitos diretores de museus, que jamais pensam
na possibilidade de o turismo ser um instrumento de educação
informal a ser praticado no tempo livre e prazerosamente. Então,
para que preservar? Mas, principalmente, para quem preservar?", questiona.
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veja
boxe Sesc Avenida Paulista
Sesc
Avenida Paulista
Nova unidade amplia opções culturais na cidade
Em fase de implantação,
a unidade provisória Sesc Avenida Paulista funciona ocupando
diversas instalações do prédio que já
serviu de sede da instituição com uma proposta de
programação ainda mais abrangente. Somam-se agora,
aos shows do Instrumental Sesc Brasil, as exposições
realizadas na galeria e, mais recentemente, o turismo social (veja
boxe Um Dia na Metrópole) variados
espetáculos teatrais - isso só para mencionar as atividades
na área da cultura. "Estar na Avenida Paulista é
fixar-se no pólo cultural da metrópole", explica
Sidnei Martins, técnico da unidade. "Quando a administração
central do Sesc São Paulo deixou o prédio e transferiu-se
para a nova sede, no bairro do Belenzinho, foi instantâneo
pensar que o local poderia, ainda que em caráter provisório,
abrigar mais alternativas para reflexões estéticas
e culturais da cidade - além de lazer de qualidade e atividade
física." Ainda segundo o técnico, para um futuro
próximo está prevista a criação de novos
espaços, com a adaptação dos andares para abrigar
atividades nas áreas da dança, música, literatura,
artes plásticas, cinema e expressão corporal. "Existem
muitas
idéias em formação para atender ao público",
explica Sidnei. "A idéia é usar melhor as instalações
do edifício e abrir mais possibilidades para outras linguagens
e experimentações artísticas e esportivas."
Atualmente, o Teatro Auditório abriga, aos fins de semana,
sessões regulares de música erudita e teatro infantil.
Aulas abertas de técnicas corporais chinesas acontecem aos
sábados, domingos e feriados sob a marquise do prédio.
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Um
dia na metrópole
Programa de turismo social do Sesc São Paulo revela a
cidade a seus habitantes
A idéia
é simples: "vender" São Paulo para os próprios
habitantes. E o verbo aparece entre aspas porque nesse contexto
quer dizer "revelar a metrópole e suas muitas opções"
- várias gratuitas - àqueles que, seja por falta de
tempo, seja de dinheiro ou por inúmeros outros entraves de
acesso, não conhecem os detalhes e a história por
trás daquela rua, daquele monumento ou daquele museu que
está todo dia no caminho para casa ou para o trabalho. Por
esse objetivo ultrapassar a noção convencional de
turismo é que o programa do Sesc São Paulo recebeu
uma qualificação complementar: social.
"O projeto foi criado para que o paulistano conhecesse sua
cidade por meio de passeios de curta duração, um dia,
como se fossem turistas descobrindo o lugar", explica Denise
Kieling, especialista em turismo do Sesc Avenida Paulista, unidade
que centraliza as operações do programa. Ele oferece
também passeios para outras cidades do estado e para outros
estados. "A idéia nasceu quando perguntamos a várias
pessoas se elas conheciam os ícones da cidade - Masp, Edifício
Copan, Monumento às Bandeiras etc. - e muitos não
conheciam ou nem tinham ouvido falar de alguns locais, mesmo tendo
nascido na cidade."
O lema do trabalho é: "Só valorizamos aquilo
que conhecemos". Com esse norte, a equipe de técnicos
arregaçou as mangas e criou diversos "pacotes"
que colocam em prática essa filosofia. Entre eles está
o Por Dentro de São Paulo - antes chamado de Diversãopaulo.
"São passeios de um dia, em grupo, por espaços
urbanos que reflitam a história, o meio ambiente e a diversidade
étnica da cidade de São Paulo, permitindo de forma
prazerosa a relação entre o paulistano e sua metrópole",
afirma Denise. Dentro dessa iniciativa já foram bolados mais
de 70 roteiros que exploram vários aspectos da capital -
a geografia, as manifestações populares e diversos
outros temas, como estádios paulistanos, o bairro do Ipiranga,
o Centro velho, a Avenida Paulista etc. "É um olhar
especial sobre o cotidiano - às vezes a gente sente que não
conhece o lugar onde vive, onde cresce e cria os filhos", diz
a técnica. Para o diretor regional do Sesc São Paulo,
Danilo Santos de Miranda, essa iniciativa da instituição
abriu um caminho seguido por outras empresas. "As pessoas passaram
a perceber que há demanda para diferentes tipos de turismo
- cultural, histórico e ambiental, entre outros", afirma.
"Isso amplia a oferta de roteiros em São Paulo para
atender tanto o público da cidade quanto os turistas que
aqui chegam."
Para saber mais sobre os roteiros do Por Dentro de São Paulo,
e também sobre outros pacotes oferecidos pelo turismo social
do Sesc, basta consultar o Em Cartaz.

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