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Habitar Palavras: Kelvin Gomes
A esperança na corda bamba de sombrinha
Por um instante o mundo parou
O mundo se olhou no espelho e se amedrontou
Não era belo o que via
Sua própria imagem em melancolia
Sem ir nem vir
Só o reflexo a sorrir
Um sorriso amarelo
Sem cor
Sem brilho
Nem um martelo para o espelho quebrar
E de uma vez por todas não mais se olhar
Não tinha jeito o que estava posto já tinha sido feito
Por um instante o mundo parou
Mas não parou a esperança
Essa que como criança
Cai, machuca e retorna a levantar
Não se deixa enganar
Se esconde
Se mostra
A esperança é nossa
E de quem quiser pegar.
O que te faz sorrir?
Chegou a hora
Hora de olhar para dentro de si
Mostrar o que aprendeu
O que te fez sorrir
A hora é agora
Sem tempo e sem demora
- Com pandemia?
- Mas, minha senhora, o que te faz sorrir?
A TV ligada
Barulho de carro na estrada
O trem passando
Um apito a menos talvez
O tic tac do relógio
São tantas coisas que
Depende o freguês
Mas o que te faz sorrir?
A música dançante
Um amor impactante
Quem sabe seja o seu próprio amor
O que te faz sorrir?
Ouso dizer que as coisas simples
As coisas que a gente costuma não ver.
O meu choro é de alegria
Chora a pobre senhora
Já não sabia o que faria
- Por que choras, minha senhora?
O que a vida lhe traria?
- Não choro de tristeza, o meu choro é de alegria
O que a vida lhe guardou
Nem mesmo eu sei explicar
Mandaram buscar de longe
O que de longe vem chegar
A senhora em choradeira
Quase não conseguia escutar
Mas seu nome era chamado
Seu momento há de chegar
Na fila o choro aumenta
O silêncio a falar
Não sabia o que viria
Mas sabia o que esperar
O braço furado não impediu
Dos joelhos abaixar
E com uma prece
A Deus pai agradecer
Era a segunda dose de uma vida
Que vivia sem saber
E agora sabia que a vida
É bem maior que envelhecer.
Sobre o autor
Kaique Kelvin Gomes, 23 anos, professor de história e escritor. Ainda muito jovem, começou a escrever na escola. Participou de concursos literários como o "Mapa Cultural Paulista", a antologia "Semeando Gentiliza" da Diretoria de Ensino da Região de Araçatuba, em 2012, Antologia "Palavra é Arte", em 2014, e participou de duas edições da antologia "Além do Céu, Além da Terra", em 2017 e 2018. Publicou dois livros e um terceiro está a caminho, o primeiro "Chão Ventoso" e o segundo "Céu de Estrelas e um pouco Apaixonado", ambos de Crônicas e Poesia. Hoje atua como professor em escola pública, comanda um programa cultural e escreve matérias para uma rádio, além de ser colunista de literatura na Revista Arte Brasileira.
Habitar Palavras - Biblioteca Sesc Birigui
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