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10 filmes sobre jovens com mulheres à frente ou por trás das câmeras

Por Luísa Pécora*

“Filme de adolescente” é um rótulo frequentemente atribuído de forma pejorativa a uma obra cinematográfica. Mas quando bem contadas, as histórias sobre jovens também podem tocar em temas universais e provocar reflexões sobre questões sociais urgentes.

É o caso de Eleições, documentário de Alice Riff. A princípio, a proposta da cineasta paulista pode parecer inusitada: fazer um filme sobre a eleição do grêmio de uma escola pública de São Paulo. Mas o documentário revela a escola como microcosmo do Brasil, e a votação estudantil como espelho das eleições presidenciais de 2019.

Muitas das questões em jogo são as mesmas – direitos sociais, feminismo, racismo, machismo, homofobia, desigualdade social, intolerância religiosa – e são debatidas justamente por grupos historicamente pouco representados na política brasileira.   

Eleições (2018), documentário de Alice Riff. Foto: Divulgação

Aproveitando o recorte curatorial do projeto CineAtiva Mulheres à Frente, do Sesc Campo Limpo, eis uma lista com dez filmes recentes que abordam a juventude e têm mulheres à frente e/ou por trás das câmeras. 

"Cinco Graças" [Mustang | Turquia/França/Alemanha/Catar, 2015]

 

O primeiro longa da diretora Deniz Gamez Ergüven retrata o vínculo inabalável de cinco irmãs órfãs criadas por familiares conservadores em um pequeno vilarejo turco. O cotidiano das meninas muda radicalmente quando são vistas brincando com garotos após a escola. Em nome das tradições sociais e religiosas, as meninas são impedidas de sair de casa e começam a ser preparadas para casamentos arranjados. Indicado ao Oscar de filme estrangeiro.

 

“As Duas Irenes” [Brasil, 2017]

 

Novatas no cinema, as atrizes Isabela Torres e Priscila Bittencourt brilham neste que é o primeiro longa de Fabio Meira. O filme é centrado em Irene (Torres), jovem de 13 anos que vive no interior de Goiás e descobre que seu pai não apenas tem outra família, mas também uma filha com o mesmo nome e a mesma idade dela. Além de mostrar a bonita conexão que se forma entre as meninas, 'As Duas Irenes' também aborda as dificuldades de comunicação entre pais e filhos.

 

“Eleições" [Brasil, 2018]

 

Acompanhada de uma pequena equipe, a diretora Alice Riff passou três meses registrando o cotidiano dos alunos da Escola Estadual Doutor Alarico Silveira, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Ela documenta o processo eleitoral para escolher o novo grêmio estudantil sem entrevistas ou narração em off, colocando o foco no protagonismo dos jovens e no papel da escola pública como espaço de formação e de exercício da cidadania.

 

“Fora de Série” [Booksmart | EUA, 2019]

 

As melhores amigas Amy (Kaitlyn Dever) e Molly (Beanie Feldstein) se dedicaram unicamente aos estudos durante o Ensino Médio. Quando descobrem que os colegas “festeiros" foram aprovados nas mesmas universidades que elas, decidem compensar toda a diversão perdida em apenas uma noite. O filme marca a estreia da atriz Olivia Wilde na direção de longas e também foi totalmente escrito por mulheres: Katie Silberman, Susanna Fogel, Emily Halpern e Sarah Haskins.

 

“Garotas” [Bande de filles | França, 2014]

 

A diretora Céline Sciamma (de Retrato de uma Jovem em Chamas) aborda a amizade feminina e discute o que é ser uma jovem mulher neste belo filme estrelado por quatro talentosas atrizes novatas. Karidja Touré encabeça o elenco no papel de Marieme, francesa de 16 anos que leva uma vida difícil na periferia de Paris. Ao unir-se a uma gangue de garotas, ela se reinventa e descobre mais sobre si mesma. Exibido no Festival de Cannes.

 

"Jonas e o Circo Sem Lona” [Brasil, 2015]

 

O documentário da diretora Paula Gomes conta a história de Jonas Laborda, adolescente fascinado pelo circo que cria um espetáculo no quintal de sua casa em Salvador. Estreante no longa-metragem, a cineasta esbanja sensibilidade ao retratar os sonhos de Jonas e seu processo de amadurecimento, bem como os desafios da educação pública para atender e incentivar os variados interesses de cada estudante.

 

 

“Lady Bird: A Hora de Voar” [Lady Bird | EUA, 2017]

 

As complexidades da relação de mãe e filha estão no centro deste filme, que fez de Greta Gerwig a quinta mulher na história a disputar o Oscar de direção. Saoirse Ronan interpreta Christine “Lady Bird” MacPherson, que cursa o último ano do Ensino Médio e não vê a hora de deixar Sacramento, sua cidade natal. Os sonhos de Lady Bird batem de frente com o realismo da mãe, Marion (Lauren Metcalf), que gostaria que a filha desse mais valor à vida e à família que tem.

 

“O Mau Exemplo de Cameron Post” [The Miseducation of Cameron Post | EUA, 2018]

 

O filme da diretora Desiree Akhavan é uma adaptação do livro homônimo de Emily M. Danforth, que é ficcional mas inspirado em uma história real. Chloë Grace Moretz interpreta Cameron Post, adolescente órfã criada pela tia conservadora e religiosa. Após ser flagrada aos beijos com outra menina, ela é enviada a uma clínica de “cura gay”. Ao mesmo tempo leve e comovente, o filme fala sobre intolerância e a violência de fazer alguém odiar a si mesmo.

 

“Pariah" [EUA, 2011]

 

Este longa da diretora Dee Rees (de Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi) expandiu a história de um curta realizado quatro anos antes. O filme acompanha Alike, garota lésbica de 17 anos, no momento em que começa a abraçar sua identidade. Além da direção e do roteiro de Dee Rees, destacam-se a atuação da excelente Adepero Oduye e a direção de fotografia de Bradford Young, premiada no Festival de Sundance.

 

“Rafiki” [Quênia/África do Sul/França/Holanda/Alemanha/Noruega, 2018]

 

O filme da diretora Wanuri Kahiu fez história como o primeiro longa queniano a ser selecionado para o Festival de Cannes, mas foi banido em seu país de origem por abordar o amor entre duas mulheres. Inspirado no conto Jambula Tree, da ugandense Monica Arac de Nyeko, Rafiki narra a amizade e o romance de Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva). Filhas de políticos rivais, elas têm de enfrentar o conservadorismo da sociedade para ir em busca de seus sonhos.

 

>>LEIA MAIS : Mulheres à frente (No cinema do Brasil e no mundo, diretoras ainda enfrentam obstáculos para chegar às telas)

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*Luísa Pécora é jornalista e criadora do site Mulher no Cinema, dedicado ao trabalho das mulheres nas telas. Ela assina a curadoria compartilhada com o Sesc Campo Limpo do CineAtiva - Mulheres à Frente.