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Ilustração: Leandro Szyszko

JORGE LEÃO TEIXEIRA

Dia do caçador – Fuga no Complexo do Carandiru, em São Paulo, não é novidade, pois elas se multiplicam ao longo dos anos. Novidade foi o desmancha-prazeres que abortou mais uma escapada, na primeira semana de setembro: um caminhão de lixo, ao passar sobre o asfalto da Avenida General Ataliba Leonel, onde um túnel vinha sendo escavado, abriu uma cratera de 2 metros de profundidade e denunciou uma fuga em massa que estava prestes a ocorrer. O caminhão ficou mais de quatro horas entalado na escavação e tirou a alegria dos detentos que abriam caminho para fora do xadrez.

Coisas de ontem – As torcidas brasileiras e estrangeiras estão cada vez mais violentas, transformando arquibancadas e gramados de futebol em campos de batalha. Mas nem sempre foi assim, como recordou o "Jornal do Brasil", transcrevendo o noticiário do jogo entre Fluminense e Rio Cricket, em setembro de 1910. Dizia o relato do solerte repórter: "As arquibancadas se manifestam em risos, alguns rapazes em cantorias que não se coadunam com a delicadeza que ambos os grupos em contenda mereciam dos espectadores, o que fez o referee muito justamente ordenar a parada do jogo até que cessassem por completo tais manifestações".
Tal como qualquer providência num jogo de tênis realizado em Wimbledon.

Prato adorável Os cardápios de restaurantes cariocas e paulistas continuam exibindo surpreendentes especialidades, fruto de um surrealismo ortográfico que há muito tempo assina o ponto nesses menus. Freqüentadores de um restaurante da Rua 1º de Março, no centro do Rio de Janeiro, foram atropelados recentemente por um "Filé de peixe ‘adorei’ com batatas".

Lombeira – Anúncio classificado publicado no Rio de Janeiro oferece os serviços de um certo Marcelo, que aluga seus olhos e sua voz para leituras destinadas a cegos, deficientes visuais e enfermos. Atende também, segundo o texto, a "pessoas que tenham ‘preguissa’ de ler". Só não serve para pessoas que tenham "preguissa" de escrever...

Chatoverdes – O secretário municipal de Meio Ambiente da prefeitura do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, criou uma patrulha de fiscais que irá apurar denúncias sobre agressões ao meio ambiente, usando viaturas e barcos pintados de verde, e mobilizará funcionários radicais, que poderão ser acionados 24 horas por dia. Embora denominada de Patrulha Ambiental, seus militantes, antes mesmo da oficialização no Diário Oficial da Municipalidade, já estavam conhecidos como "ecochatos", apelido dado pelo próprio Eduardo Paes.

Palavrão – O presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves, recebeu em setembro uma comissão de secretários estaduais de turismo, que apresentaram várias reivindicações, com destaque para a criação de legislação de incentivo ao turismo, inspirada na Lei Rouanet, que favorece as aplicações em produções culturais, e a regulamentação da carreira dos profissionais do ramo.
Até aí, tudo bem. O que soa estranho é o nome que os ilustres secretários arrumaram para batizar quem se dedicar a tal carreira: "turismólogos".

Comparação – Historinha ouvida de um apreciador da caça aos acepipes pouco conhecidos da fauna brasileira, inimigo público número um do Ibama: um coitado foi preso por estar cozinhando uma ararinha-azul, espécie em extinção. Levado a juízo, foi punido com voz de prisão. O réu chorou suas mágoas, dizendo que era pobre e sua família passava fome. O juiz, comovido, relaxou a voz de prisão. Antes de liberar o acusado, porém, indagou, curioso: "Diga uma coisa, que gosto tem ararinha-azul?" "Doutor, juro que é mais gostosa do que um mico-leão-dourado".

Léxico de Rosa – A professora Nilce Sant’Anna Martins trabalhou anos com a biblioteca e os arquivos de Guimarães Rosa, que se acham sob guarda da Universidade de São Paulo. O resultado dessa exaustiva pesquisa foi editado recentemente pela Edusp: um autêntico dicionário para manuseio e consulta dos devotos do saboroso linguajar do grande escritor, batizado com o título de O Léxico de Guimarães Rosa. Mas que já está sendo conhecido no mercado editorial como "Rosaurélio".

Retrato sem retoque – Indignado com os fiascos da seleção brasileira, após assistir à derrota frente à Argentina pela tevê de um bar paulistano, um torcedor perdeu a paciência: "Esse time do Felipão parece até uma seleção evangélica – não dá baile, não joga de maneira nenhuma, não gosta de ver a cobra fumar em campo e detesta uma boa idéia!"