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Solução e problema

 

Lâmpadas fluorescentes iluminam bem, são econômicas, mas...

REGINA HELENA DE PAIVA RAMOS

Na crise de energia que ameaça o país, uma das sugestões apresentadas pelos técnicos, e a mais aceita pela população, foi trocar as lâmpadas tradicionais, incandescentes, por iluminação fluorescente. Sem dúvida, uma solução, pois o consumo de eletricidade é menor. A mudança, porém, traz outra questão: e se a lâmpada quebrar ou queimar? Nesse caso a solução pode tornar-se um problema.

A razão é que essas lâmpadas, também chamadas de descarga, utilizam uma pequena quantidade de mercúrio. Quebrada, a lâmpada fluorescente libera o vapor desse metal, que, se aspirado, é nocivo ao ser humano.

É verdade que a quantidade de mercúrio que uma unidade utiliza é mínima, "menor que a contida num termômetro", segundo Cyro Eyer do Valle, diretor da Apliquim Tecnologia Ambiental, empresa especializada em recuperação de mercúrio. Contudo, o problema começa a se tornar grave quando essas lâmpadas, em grande quantidade, são jogadas em terrenos baldios ou lixões: o mercúrio se condensa e contamina o solo. Em seguida, o lençol freático é afetado e o produto atinge cursos de água, entrando na cadeia alimentar.

Legislação inexistente

"O Brasil ainda não possui uma política de resíduos sólidos adequada", informa Cyro do Valle. O que existe são resoluções sobre o descarte adequado de pilhas e de baterias de telefonia celular, mas é coisa recente. E só agora, diante da grande procura por lâmpadas fluorescentes, o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) formou o Grupo de Trabalho sobre Resíduos de Lâmpadas.

Enquanto o governo, como sempre, age com lentidão, a iniciativa privada sai na frente. A Apliquim, por exemplo, foi criada em 1985 e desde essa época lida com resíduos de mercúrio. Em 1993, começou a receber lâmpadas fluorescentes queimadas. O vidro e o alumínio são descontaminados e o mercúrio é extraído e recuperado, sendo depois comercializado para outras aplicações. O vidro é aproveitado por empresas que fabricam esmaltes para vitrificação de cerâmica e o alumínio por recicladoras do metal.

Prêmios

O trabalho pioneiro da Apliquim tem merecido reconhecimento, inclusive internacional. Em 1992 foi escolhida, entre mais de 90 projetos, para receber o I Prêmio Nacional de Conservação Ambiental e Desenvolvimento, organizado pelo jornal "Gazeta Mercantil". No ano seguinte foi selecionada pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), organismo regional das Nações Unidas, como uma das empresas líderes no desenvolvimento de tecnologias ambientais na América Latina. Em 1994 ganhou o prêmio Eco 94 de Preservação Ambiental, das Câmaras Americanas de Comércio no Brasil, e deverá receber, na Coréia do Sul, a medalha Thomas Kuhn, no congresso mundial da International Academy of Science.

Em suas instalações em Paulínia, a cerca de 130 quilômetros da cidade de São Paulo, a Apliquim já processou mais de 6 milhões de lâmpadas. Só no ano 2000 foram 2 milhões. Clientes não faltam: em todo o país cerca de mil empresas trabalham com a Apliquim, e pagam para ter suas lâmpadas descontaminadas. São montadoras de automóveis, indústrias químicas e petroquímicas, fábricas de alimentos, unidades da Petrobras (inclusive as plataformas da bacia de Campos), a Universidade de São Paulo, o Shopping Villa-Lobos, o Hospital Albert Einstein, o Centro das Testemunhas de Jeová, o Sesc, o Senac, a Cetesb, a Alcoa.

Nada a fazer

O consumidor comum, que está utilizando lâmpadas fluorescentes para poupar energia, fica numa situação difícil quando elas se queimam ou quebram, pois não deve jogá-las no lixo. Não pode igualmente mandá-las para a Apliquim, que só recebe lâmpadas em grandes quantidades. As prefeituras, por sua vez, não estão preocupadas com o destino final desse material, enquanto o governo federal ainda não fixou regras definidas sobre esse tipo de lixo. O que fazer, então?

A solução é guardá-las, se possível nas próprias embalagens, e aguardar definições do governo. Que podem demorar.


Dicas

• Se uma lâmpada quebrar perto de você, não entre em pânico. Lembre-se: uma lâmpada tem menos mercúrio que um termômetro e não vai envenenar ninguém. Abra portas e janelas, varra os detritos e, usando luvas, coloque-os numa caixa. Embale tudo depois em um saco de plástico reforçado.

• Dizem que ferimentos causados por vidros de lâmpadas fluorescentes são muito perigosos e não cicatrizam. Isso não é verídico.

• Lâmpadas intactas, por sua vez, não causam nenhum mal, pois não liberam mercúrio.