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História, cultura e empreendedorismo negro no Sesc Avenida Paulista  

Procesión cívica de los negros - 1821, Pancho Ferro
Procesión cívica de los negros - 1821, Pancho Ferro

Entre os meses de maio e novembro, o projeto Do 13 ao 20: (Re)Existência do Povo Negro reúne diversas atividades que discutem e ampliam questões sobre a negritude no intermédio de duas datas em que estão marcadas as lutas e resistências à escravidão: a Abolição da Escravatura no Brasil e a morte de Zumbi dos Palmares.

No Sesc Avenida Paulista, a programação foi inaugurada com o Clube Negrita, um clube do livro voltado para a literatura feita por escritores e escritoras negras que acontece em um sábado de cada mês, até o final do ano.

Entre junho e julho, o curso História e Cultura Afro-latina apresenta um panorama das presenças de populações negras na América Latina, evidenciando as influências das matrizes africanas nas manifestações culturais e artísticas de países como Peru, México, Colômbia, Cuba, Uruguai, ressaltando as semelhanças e os traços comuns entre eles, a partir das criações negras.

Conceber uma ideia até que se concretize em um negócio faz parte do bate-papo com Thiago Vinícius, sábado, dia 8 de junho, sobre gestar e gerir projetos voltados ao empreendedorismo social, liderança comunitária, geração de renda, desenvolvimento local, negócios sociais e startups focadas em desenvolver serviços e produtos que dialogam com a qualidade de vida do morador da favela.

Encontros mensais, mediados por Danielle Almeida trazem as perspectivas sobre os Diálogos do feminismo negro. Dia 13 de junho, quinta, o primeiro bate-papo acontece com as convidadas Renata dos Santos e Josiane Lima sobre As Áfricas de Chimamanda Adichie e Paulina Chiziane e suas obras "Hibisco Roxo" e "Niketche - Uma história de poligamia".

Afrolab: Qual a Importância do meu negócio estar em rede? É o tema do bate-papo com  Adriana Barbosa, que contará ao público sobre sua trajetória no desenvolvimento da plataforma Afrolab, do Instituto Feira Preta, que promove capacitações a atividades de apoio ao empreendedorismo negro, destacando como o trabalho coletivo com outras empresas pode potencializar os negócios.

O conjunto de ações objetivam o fortalecimento e o reconhecimento da cultura negra, bem como suscitar a convivência e o respeito pelas diferenças, refletindo sobre a construção das identidades e valorização da pluralidade de manifestações e expressões culturais.

Resistência Popular e Movimento Abolicionista – Panorama Histórico 

O dia 13 de maio de 1888, data da Abolição da Escravatura no Brasil, o último território nas Américas a oficializar o fim da escravidão pela Lei Áurea, após mais de 300 anos do tráfico e aprisionamento de milhões de pessoas do continente africano, é o ponto inicial. A lei, sancionada em 1988, fez parte de um processo moroso e gradual de outras leis com o mesmo propósito, como a Lei Eusébio de Queiróz (1850), Lei do Ventre Livre (1871) e Lei dos Sexagenários (1885).

Já o 20 de novembro de 1695 é a data que marca a morte de Zumbi, um ano após a invasão do Quilombo dos Palmares (6 de fevereiro de 1694), cujo corpo dilacerado foi exposto publicamente pelo império como demonstração de poder e controle, em um período marcado por inúmeras revoltas e insurreições populares como a Revolta dos Malês (1835), na Bahia, tencionando a coroa enquanto as convulsões sociais se tornavam mais frequentes. 

Ainda que a Lei Áurea viesse pôr fim à escravidão, a alforria não previa os direitos fundamentais aos recém libertos. Ao passo que a mão de obra de baixo custo dos imigrantes europeus crescia, prevendo inclusive o branqueamento da sociedade brasileira, também aumentava a população negra marginalizada por sua condição social, racial, cultural e linguística.

O nascimento do novo projeto de nação, no século em que se previa a consolidação de uma nova política de Estado nacional, pressupondo uma sociedade homogeneizada e universalista diante a abolição e a formação de uma dita nova burguesia progressista, transformou-se em uma fragmentação sociocultural, não como ponto de partida para as diversas diferenças históricas dos inúmeros povos deste território, mas como um mecanismo de deslegitimação das culturas excluídas desde o início do projeto colonizador do território, marcada pela subtração das memórias em função da construção de uma identidade nacional claramente definida – europeizada, elitista, ainda que fosse a minoria, racial, religiosa e patriarcal. 

Manifestações e Expressões – Debates e Reflexões

Em todos os âmbitos da vida social, do econômico ao cultural, os pilares da constituição identitária do território se reforçaram sobre uma herança cultural de exclusões. Porém, em contrapartida à perpetuação dos sistemas de violências em que se desdobra a sociedade brasileira, movimentos sociais afro-brasileiros, manifestações e expressões culturais de valorização da cultura e linguagem negra são perenes e acontecem no papel em tirar do limítrofe das vozes silenciadas para o lugar de fala.