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É tempo de encontros

Adriano Antonio da Costa

Dias atrás reencontrei Caetaninho, cidadão comum, sujeito pacato, cumpridor de suas obrigações familiares, civis e profissionais, exemplo sempre citado pelos amigos, não tem vícios. É verdade que de vez em quando toma umas cervejinhas, mas é só.
Tamanho não foi o meu espanto, quando me confidenciou, angustiado, estar à deriva. Perdera o brilho e a esperança no gosto e prazer pela vida. Nem mesmo uma partida de futebol do time do coração lhe prendia atenção ou trazia alegria. Fizera escolhas, "diversas escolhas", e sentia-se sem forças para reorientá-las no propósito de reassumir o controle sobre suas decisões e aumentar o poder sobre seu destino.
Aliás este não é um dilema só do Caetaninho. É notória a crescente importância dada e a avidez dos indivíduos na busca de informações, novas descobertas cientificas, nas mais variadas áreas do conhecimento humano, que os auxiliem na mudança de paradigmas e comportamentos para aquisição de hábitos saudáveis e conseqüente melhora da qualidade de vida, tornando-os mais sensíveis à escuta de seu íntimo e atentos a decifrar sua consciência, ampliando o diálogo e bem estar na relação consigo mesmo, com o ambiente, e com os outros à sua volta. Quantos de nós não gostaríamos, ou melhor, teríamos a coragem de abandonar nossa cômoda condição de coadjuvantes, vencer a inércia medíocre em que estamos mergulhados e nos tornar "senhores" das ações de nossas próprias vidas?
Nesta perspectiva, a atividade física tem se mostrado eficiente instrumento para um equilíbrio vital entre o físico, o mental, o emocional e o espiritual do ser, o "eu" consciente conhecendo e superando seus limites. Porém, é no coletivo, na participação de grandes massas, que aflora a característica social do indivíduo e assume valor cultural significativo alcançando a "Catharsis Coletiva", enfatizada nas grandes manifestações populares dos antigos gregos.
Uma tradicional corrida de rua, a São Silvestre, que este ano completa sua 77ª edição, nos mostra a possibilidade de encontro e da celebração da vida. Permite o confronto entre os melhores, os mais "aptos", sem, no entanto, desprezar a pluralidade e a diversidade de sentidos e de significados renovados a cada edição da prova, traduzidos pelos seus milhares de participantes ilustres e anônimos. Pessoas que tomaram a decisão de ousar, experimentar, ser testemunha e conferir a legitimidade de um "drama" que se realiza sob seus olhos, cujo fim, não antecipado, pode ser vivido intensamente e, quem sabe, influencia-las de alguma forma.
Mas sabemos também que não basta apenas ter as informações e os conhecimentos. Precisamos "processa-los", coloca-los em prática, agir e ter atitudes contundentes para que possamos nos posicionar de frente com nós mesmos e com o mundo fora de nossa "bolha".
Isto me faz recordar um provérbio espanhol: "Em todo corpo, existe um rei."
Despertai! Caetaninhos.
Aos seus lugares.
Largada!

Adriano Antonio da Costa
é técnico da Gerência de Desenvolvimento Físico-Esportivo do Sesc SP