Postado em
O blues de lá e de cá
De um lado, uma banda brasileira liderada por dois irmãos paulistas. De outro, um cantor e gaitista norte-americano, nascido no Texas. Unidos pela música, eles têm em comum o amor pelo blues. Juntos, eles estão com alguns shows marcados no Brasil e um deles está na programação do Pandemia Rock 2018, projeto do Sesc Birigui.
Darrell volta ao país depois de cinco anos; em 2013, ele veio como membro da banda do bluesman James Cotton (1935 – 2017), com quem tocou, entre idas e vindas, por quase 15 anos. Ele atualmente vive em Boston e se apresenta por todo Estados Unidos e Europa. Durante sua passagem pelo Brasil, ele será acompanhado pelo grupo The Simi Brothers, formado pelos guitarristas Nicolas e Danilo Simi, além de Wellington Pagano no baixo e Pedro Léo na bateria.
Os irmãos Simi seguiam suas carreiras individuais antes de, no ano passado, resolverem trabalhar juntos, tocando, compondo e realizando produções de turnês com artistas do blues internacional, como Mud Morganfield, Willie Walker, Wallace Coleman, Sugaray Rayford, e Guy King.
Em entrevista concedida ao Sesc Birigui, Darrell, Nicolas e Danilo falaram sobre suas carreiras, seus projetos e o cenário atual do blues. Confira:
Darrell Nulisch
Qual visão você tem do blues e do rock atual do Brasil? Tem conhecimento das bandas daqui? Tem alguma que lhe agrada?
Me desculpe, eu não conheço, nem ouvi nenhuma banda de blues / rock do Brasil. Eu sei que as pessoas aqui têm muita alma e que a música e a dança do Brasil realmente "balançam"!
Você já havia tocado com músicos brasileiros anteriormente? Se sim, como foi a experiência? Se não, qual a sua expectativa?
Eu ainda não toquei com uma banda brasileira. Espero que tudo corra bem. A música é universal, especialmente o blues. Não é um trabalho fácil organizar uma viagem como essa e eu sei que essa banda (The Simi Brothers) faz isso pelo amor da música. Esse é um ponto muito bom para começar.
Você esteve no Brasil em 2013, na banda de apoio de James Cotton. Por quanto tempo você trabalhou com Cotton e o que leva desta experiência? O que ficou mais marcado pra você nesta convivência?
Eu toquei na banda de James por 14 anos, entre idas e vindas, viajando pelo mundo todo. Toquei no Hollywood Bowl, no Austin City Limits e no Lincoln Center. As coisas que aprendi com James renderiam um livro sobre música, como ser um líder de banda e um membro da banda, como viver a vida de um homem do blues. Sinto falta e penso nele todos os dias. Ser testemunha em primeira mão das histórias sobre Sonny Boy Williamson, Muddy Waters, Little Walter e outros gigantes do blues está entre as minhas memórias favoritas.
Cotton faleceu no ano passado, e sabemos que, cada vez mais, lendas do blues como ele vão partindo. Como você enxerga as gerações atuais do blues, como a sua? De alguma forma, está nas mãos de vocês levar adiante o legado dos precursores dos gêneros...
Eu acho que o blues está em boa forma. O que faz o blues ser o que ele é, é o fato de ser uma música "para todos", é isso que todos relatam. Eu me apaixonei pelo blues imediatamente depois que uma namorada terminou comigo. Parafraseando Little Milton, "(...) the blues are here to stay”.
O blues foi um grande influenciador para a criação do rock’n’roll. Como enxerga a relação entre os dois gêneros musicais atualmente? O rock, de forma geral, ainda carrega os elementos básicos do blues, ou outras interferências sonoras são mais gritantes?
Eu não posso falar por todos, mas para mim tem que haver um elemento de blues para que seja um bom rock. Outras interferências sonoras vão sempre existir no rock, mas, no final das contas, o blues sempre será seu pai; parafraseando Muddy Waters, "The blues had a baby and they named it Rock’ n'Roll"...
The Simi Brothers
Como vocês enxergam o cenário atual do blues brasileiro, em relação à questão instrumental e também aos trabalhos autorais?
Atualmente tem uma galera muito boa na cena, tocando o estilo com propriedade em quase todos os instrumentos. Aqui mesmo na nossa região do Vale do Paraíba temos vários “novos talentos” surgindo. Temos um amigo em São Paulo, o Robson Fernandes, o trabalho dele é muito bacana e quase 100% autoral, mas o Blues tem uma peculiaridade interessante, mesmo tocando uma música de outro artista, a sua interpretação conta muito e acaba tornando essa música um pouco sua também.
Vocês já tocaram com alguns nomes do blues internacional. Qual a importância desta experiência pra vocês?
Devido ao avanço tecnológico, especificamente da internet e suas mídias sociais, hoje em dia é possível ter um contato muito próximo desses grandes artistas que a gente tanto respeita e admira. Isso facilitou esse processo de intercâmbio profissional e cultural, fazendo com que nós, músicos brasileiros, nos tornássemos parceiros profissionais e amigos de grandes nomes do Blues internacional e isso sem dúvida alguma tem um efeito muito positivo em nossas carreiras e até mesmo em nossas vidas pessoais.
Vocês já tinham anos de carreira e resolveram tocar juntos há pouco tempo, certo? Quando e por que surgiu o projeto The Simi Brothers?
Sim, sempre trabalhamos em projetos diferentes; enquanto um estava no Norte o outro estava no Sul, tocando em festivais diferentes e ao mesmo tempo, sempre fomos substitutos um do outro em algumas “gigs” (gíria para shows). Em 2017 entramos de cabeça nesse lance de produção de artistas internacionais e, atrelada a isso, surgiu a vontade de fazermos um trabalho juntos, com nossas composições e nosso “jeito de família” de trabalhar, algo que muita gente perguntava quando iria acontecer.
Quais as características dos trabalhos de cada um dos irmãos? E qual o resultado desta parceria?
Fora dos palcos sempre trabalhei mais com os meios, trazer artistas, montar repertório etc. Enquanto o Danilo já há mais tempo fazendo isso, cuida dos fins, organização de eventos, venda de shows. Unir essas duas características tem sido algo superproveitoso. Em cima dos palcos, os resultados são duas guitarras bem entrosadas, além de uma produção musical com dose dupla de dedicação. O restante vocês irão descobrir em breve!
Quais os próximos projetos da dupla?
Nosso próximo projeto é o lançamento de um álbum que contará com um repertório dividido em temas instrumentais de composição própria, com outras canções que contarão com a participação de alguns desses grandes artistas internacionais, dos quais trabalhamos e nos tornamos amigos ao longo desses anos.