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A sanfona de Sivuca
Com mais de cinqüenta discos lançados no Brasil e no exterior, Sivuca é sem dúvida um dos maiores valores já produzidos pela música brasileira. Sozinho, com sua banda ou atuando ao lado de grandes nomes da música mundial, como Charles Aznavour ou Toots Thielemans, Sivuca demonstra uma habilidade e uma sensibilidade musical sem precedentes. Nascido no interior da Paraíba, a capacidade do músico autodidata se mostrava presente desde cedo. "Aos três anos eu já ouvia o maracatu de Jopeca, um cidadão que tinha um pequeno grupo do outro lado do rio. Quando passava o maracatu tocando, eu corria e ficava sentado em cima do baú, batendo os agudos na parte de cima e os graves na parte de baixo." Em julho, Sivuca se apresentou no Sesc Bauru, num espetáculo em que poucos puderam ficar parados diante da cativante sanfona do paraibano.

"Eu ia para a escola e, na volta, estudava e
tocava debaixo de um pé de manga. O meu grande
conservatório foi uma mangueira"

Do músico paraibano Sivuca, que se apresentou
em julho no Sesc Bauru

A ópera de Nelson Rodrigues
No início de sua carreira, Nelson Rodrigues chegou a trabalhar como crítico da temporada lírica em um jornal carioca. Porém talvez seja sua atuação na editoria policial que tenha moldado a obra daquele que é considerado o pioneiro da moderna dramaturgia brasileira. Percebendo a assídua presença da trilogia "amor, sexo e morte" tanto na obra rodriguiana como na ópera, o diretor Ricardo Guilherme idealizou o espetáculo BIS, em cartaz durante o mês de julho no Sesc Ipiranga. "A rejeição e os amores impossíveis de clássicos como Madame Butterfly têm uma tipologia cabível ao estilo de Nelson, que recorria obsessivamente a esses temas", explica Guilherme.

De bem com o Brasil
O programa Bem Brasil, transmitido aos domingos pela TV Cultura, completou em julho seu décimo ano de existência. Para comemorar o aniversário, o programa estréia novo cenário, nova vinheta e novo horário, aos domingos, às 14 horas. Sempre apresentado pelo músico e ator Wandi Doratiotto, o programa já levou mais de 500 artistas e cerca de 800 mil pessoas pelos lugares por onde passou. Ao longo dos 400 programas, apresentaram-se músicos de todas as tendências musicais, de Chitãozinho e Xororó a João Bosco, de Daniela Mercury a Mestre Ambrósio. Desde maio de 1994, o programa é transmitido diretamente do Sesc Interlagos.

História de Pescador
De 6 de julho a 5 de agosto, a piscina do Sesc Consolação se transforma em um palco líquido para apresentar o espetáculo História de Pescador, com a premiada Cia. Circo Mínimo. O espetáculo é uma adaptação do livro O Velho e o Mar, clássico do escritor americano Ernest Hemingway. Dirigida e concebida por Rodrigo Matheus, a peça se vale de técnicas de circo e de alpinismo para apresentar ao público um espetáculo belo e vigoroso. O diretor acredita que essa mescla tem o potencial de revalorizar o potencial artístico do ator teatral. "A aliança entre teatro e circo torna o ator novamente o herói, o realizador de grandes feitos no palco", conclui.

"Nas últimas décadas, tem se visto uma valorização muito grande da estética no teatro. E o ator, diante disso, tem começado a perder parte de sua importância"
Rodrigo Matheus, diretor do espetáculo História de Pescador,
encenado na piscina do Sesc Consolação

Em Família
Três apresentações do espetáculo Em Família reuniram em julho, no Sesc Vila Mariana, alguns dos componentes da linhagem mais nobre da música brasileira. Após seis anos, Paulinho da Viola voltou a se apresentar ao lado do tradicional conjunto de choro de seu pai, César Faria. Formado por Jacob do Bandolim, o Época de Ouro é um símbolo da resistência do choro na música popular brasileira. Assim como César, que assumiu a liderança do grupo após a morte de Jacob, figuras emblemáticas, como Dino Sete Cordas e Jorginho do Pandeiro, ainda fazem parte do conjunto. No espetáculo, Paulinho da Viola e o Época de Ouro homenagearam os grandes compositores do samba e do choro, através de arranjos inéditos.

Parceria cidadã
A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e o diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, em cerimônia realizada no mês passado no teatro do Sesc Vila Mariana, deram início a mais uma parceria: o Programa Recreio nas Férias. O projeto, realizado em 75 pólos da prefeitura, teve como objetivo proporcionar um conjunto de atividades esportivas, recreativas e culturais para 30 mil crianças de 7 a 14 anos, alunos da rede municipal de ensino e crianças da comunidade em geral.



Multicultural Estadão
Uma homenagem ao geógrafo Milton Santos e discursos singelos marcaram a entrega do Prêmio Multicultural Estadão 2001, dia 11 de julho, no Sesc Pompéia. Os premiados na categoria criadores foram o escritor e crítico teatral Sábato Magaldi, capa da edição de julho da Revista E, o músico Tom Zé e o médico e escritor Drauzio Varella. Na categoria de fomentadores, venceu a ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, mãe Stella de Oxóssi. A noite foi marcada ainda pela abertura da exposição Território Expandido 3. O tema deste ano é a arte eletrônica e, como nas edições anteriores, homenageou os catorze indicados do Prêmio.

Medéia
Estreou no último dia 26, no Sesc Belenzinho, a adaptação do diretor Antunes Filho para Medéia, texto de Eurípedes considerado uma obra-prima do teatro trágico. O autor foi, provavelmente, o primeiro dramaturgo grego a se interessar pelos problemas femininos, construindo personagens complexas e ricas. Medéia é o arquétipo da mulher forte, de paixões enérgicas que, traída por seu marido, planeja a vingança.

Cambaio
Em julho encerrou a temporada de Cambaio em São Paulo. O espetáculo, dirigido por João Falcão, com músicas de Chico Buarque e de Edu Lobo e direção musical de Lenine, ficou quase três meses em cartaz no Sesc Vila Mariana. As próximas paradas do espetáculo são Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro.

Volta ao Mundo em 80 Jogos
Uma viagem pela história do mundo através dos jogos é a proposta da exposição A Volta ao Mundo em 80 Jogos, apresentada no Sesc Consolação durante o mês de julho. Uma grande instalação lúdica apresentou aos visitantes jogos de todas as partes do mundo e de muitas épocas. Além de conhecer os jogos, os visitantes tiveram também a oportunidade de jogar. "Só pelo fato de jogar, a pessoa incorpora conhecimento sobre aquela civilização, sobre aquele lugar", diz Maurício de Araújo Lima, diretor da Origem, que prestou assessoria ao Sesc na montagem da exposição. Para ele, os jogos refletem a personalidade de seus jogadores. "O Xo Dou Ki, por exemplo, é um jogo chinês do século V baseado na filosofia chinesa. Nele, cada animal, com sua particularidade, defende sua sobrevivência. É um jogo de estratégia muito sutil", completa Maurício.
"Através de cada jogo, se pode aprender sobre sua origem e seu tempo, independentemente do olhar e da leitura. Através do jogo, se incorpora um pouco da forma de ser e de pensar de quem o joga"
Maurício de Araújo Lima, diretor da Origem, que prestou assessoria ao Sesc para a realização da exposição A Volta ao Mundo em 80 Jogos

Hip Hop DJ
O mais importante campeonato de DJs da América Latina, Hip Hop DJ, acontece até o final do ano no Sesc Pompéia. Em julho, ocorreram as quatro primeiras eliminatórias. Para a produtora Lady Chris, organizadora do evento, dizer que o hip hop é música estrangeira é um argumento velho. "O movimento já possui vinte anos no Brasil. São pessoas que cresceram escutando Cartola, Candeia, Zeca Pagodinho. Essas são as referências musicais para eles. Direta ou indiretamente, isso se reflete em sua música".

 

Luz musical
Luz de Emergência é o nome do mais novo projeto musical do Sesc Pompéia. Com um formato especialmente criado para combater a atual crise energética do país, os shows acústicos acontecem em um palco montado no centro da choperia, iluminados por candelabros, velas, lanternas e lamparinas. Além disso, um cardápio preparado especialmente para o projeto oferece pratos e bebidas que não utilizam energia elétrica em seu preparo. A primeira atração do Luz de Emergência foi a banda Karnak, que, em versão acústica, contou com a participação da trupe circense Cia. Pavanelli apresentando performances de pirofagia, malabarismo e perna de pau.

Festival Internacional de Teatro
Um novo conceito de festival de teatro é o que pretende alcançar o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto. Com a promoção do Sesc São Paulo e da Prefeitura Municipal da cidade, espetáculos, oficinas, performances e debates tomaram os palcos, praças e ruas da cidade. Grandes nomes do teatro nacional e internacional, como o japonês Yoshi Oida, Gerald Thomas, Michel Groisman e Paulo José, participaram do evento com suas peças. "O festival não é simplesmente uma vitrine de espetáculos, é também um espaço para discutir idéias relacionadas ao universo do teatro", conta a produtora executiva do evento, Flávia Carvalho.



Humanismo sem fronteiras

Um dos principais geógrafos brasileiros, o professor Milton Santos, falecido em junho passado, foi um importante colaborador do Sesc São Paulo no desenvolvimento de diferentes atividades. Destacam-se, entre elas, a pesquisa Empregabilidade no Lazer, a consultoria científica ao V Congresso Mundial de Lazer, além de palestras e conferências em várias unidades. Expoente do pensamento humanista brasileiro, teve toda sua extensa obra, mais de quarenta livros, publicada no Brasil e no exterior, voltada para o estudo das relações entre o homem e o espaço físico.

"É necessário abrirmo-nos a outras soluções, fundadas no tripé: Território, Cotidiano, Cultura. Gente junta, que cria trabalho. Gente reunida é produtora de economia, criando, conjuntamente, economia e cultura. E sendo produtora de cultura, também é produtora de política."
Milton Santos - 1926 - 2001

A dança de Cora Coralina
Nos dias 25 e 26 passados, o Diretor Regional do Sesc de São Paulo, Danilo Santos de Miranda, atendendo a convite da Fundação Ford, integrou o grupo de trabalho destinado a estudar a criação de um Fórum Mundial de Cultura. Realizado na sede do órgão, em Nova Iorque, o encontro discutiu, entre outros temas, estratégias para congregar as infra-estruturas sociais e ecnômicas e enfrentar os desafios do desenvolvimento da ação cultural no cenário atual de rápidas mudanças. Ele tem como objetivo oferecer uma plataforma global onde os pontos críticos das artes e cultura possam ser discutidos pelos grupos interessados.



Sesc no centro
O presidente do Conselho Regional do Sesc de São Paulo, Abram Szajman, acompanhado do diretor regional da instituição, Danilo Santos de Miranda, oficializaram com a prefeita municipal, Marta Suplicy, a aquisição do prédio da antiga Mesbla, na região central da cidade. No local será instalado um centro cultural e desportivo, totalizando quase 19 mil metros quadrados de área construída. "É a maior concentração de comerciários e empregados de empresas de serviços do país", afirma o diretor regional do Sesc São Paulo, referindo-se à região

Frases
"Quando tinha 15 anos, fiquei para segunda época na escola. Deveria estudar os livros, mas o lado comunista de minha família sempre me dizia para ler Os Sertões, de Euclides da Cunha. Comecei a ler, achei a primeira parte muito difícil, mas quando cheguei ao Homem, mudei minha maneira de ver o mundo e me tornei um analfabeto convicto. Perdi o ano, mas foi a partir daí que comecei a ganhar o Multicultural".
Tom Zé, na noite de entrega do Multicultural Estadão, em julho no Sesc Pompéia

"A poética do silêncio marcou profundamente todas as artes do século 20, mas principalmente a arte moderna"
Sônia Salzstein, professora de história da arte da USP e crítica de arte, no ciclo de encontros Ensaios sobre o Silêncio, no Sesc Belenzinho.

"Me senti tão bem como se estivesse em Santa Bárbara. Parecia que eu era jovem de novo. Até esqueci que tinha 83 anos"
Roldão de Oliveira, escultor, sobre a abertura de sua primeira exposição na capital, no Sesc Carmo

"O disco é uma enxurrada de idéias, soluções musicais e maturidade artística. É só ouvi-lo para entender por que seu disco The Best of Tom Zé foi considerado pela revista Rolling Stone um dos dez melhores da década"
Do maestro Júlio Medaglia sobre o mais recente disco de Tom Zé, que se apresentou em julho no Sesc Pompéia.