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Grafite de Panmela Castro | Foto Alexandre Nunis
Grafite de Panmela Castro | Foto Alexandre Nunis

Expressão identificada com a urbanidade, o grafite feito por mulheres alimenta a cena das intervenções artísticas com a diversidade de cores e temas, ampliando o debate sobre questões de gênero


Em pulso firme, o spray, pincel, lambe-lambe, estêncil, fotografia, adesivo e outras manifestações se multiplicam no museu a céu aberto em que as cidades se transformaram. Até pouco tempo atrás essa arte urbana guardava nos homens seus principais realizadores, mas hoje as mulheres estão demonstrando que a diversidade de cores, formas e conteúdo é mais do que bem-vinda para a cena atual, tornando seus trabalhos um efetivo diálogo entre elas e a sociedade.

Negahamburguer (Evelyn Queiróz) faz parte da nova geração de artistas que dá voz a temas ligados ao feminismo e questões de gênero. Ela acredita na contribuição do feminismo para que mais mulheres ocupem as ruas com as suas intervenções. “Mulheres têm trabalhos incríveis no grafite, mas a invisibilidade que acontece em muitos meios desencorajou várias outras ao longo do caminho. Acho que falta quebrar esse estereótipo de ‘grafite feminino’. Todas nós fazemos grafite e somos tão boas quanto qualquer homem nesse meio”, opina. No trabalho de Negahamburguer o empoderamento está presente. “A minha ideia é retratar essas mulheres como elas merecem: cheias de cores e de forma que não coloquem seus corpos e ideais como errados, além de trazer representatividade”, explica.
 

No termo e nas ideias

No livro Atmosferas Urbanas: Grafite, Arte Pública, Nichos Estéticos (Edições Sesc, 2014), Armando Silva, pesquisador colombiano que se dedica aos estudos do pensamento visual, explica que o grafite se dirige contra a parede branca por impulso próprio e, desde suas origens históricas e semânticas, compreende uma inscrição que faz do muro um cenário. Ao considerar o significado da palavra que remete ao ato de preencher essa tela urbana, temos no grafite a origem italiana, derivada de graffiti, plural de graffito, do grego graphis, o carvão do qual se faz o lápis preto. A origem pode ser estendida à grafia, tanto ao ato de escrever ou, como vemos na língua espanhola, em que a palavra aponta aos sistemas de signos para expressar ideias e pensamentos. Em português, lemos grafite, e parece que a origem masculina da palavra, embora importante para fins semânticos, tornou-se universal.
 

Em grupo

A potência gregária é outra face do grafite. Em São Paulo, o projeto Efêmmera oficializou-se em 2012, motivado por uma pesquisa acadêmica sobre a cena feminina na arte de rua. O grupo tem como foco disseminar a cultura de rua feita por mulheres na cidade e conta com mais de 20 participantes ativas, que ajudam a promover e viabilizar todos os trabalhos desenvolvidos pelo coletivo. Bela Gregório e Amanda Pankill estão juntas no Efêmmera desde o começo das atividades. Embora o grafite ecoe a potência dessas artistas, Amanda destaca que “o feminismo ajudou as mulheres a ocuparem todos os lugares que hoje elas ocupam. Não só a rua. Tenho certeza de que muitas meninas se sentiram mais seguras de pintar na rua quando se sentiram acolhidas por um movimento feminino que está ganhando força. Há 15, 10 anos, o número de mulheres no grafite era muito pequeno”, avalia. Amanda minimiza a classificação que às vezes recai sobre as artistas. “Acredito que estereótipos são apenas estereótipos e não ligo para eles. A identificação com o feminino é positiva. Existe uma certa exclusão, sim, das mulheres no movimento, então nos classificarmos não fará diferença nenhuma para aqueles que não ajudam.”

Bela Gregório reforça que nos últimos tempos houve um interesse pelo grafite de forma geral e “talvez o feminino tenha chamado atenção, pois estamos ganhando representatividade”, observa, ao assumir que a cena do grafite no Brasil ainda é recente. “Estamos num eterno aprendizado. Isso não tem a ver com gênero, mas com o que cada indivíduo se propõe a fazer. Existem mil formas de dialogar com a rua, no sentido de intervenção urbana. Acho que a mulherada precisa, cada vez mais, se fazer presente. Como qualquer coisa que você faça na vida, qualidade vem com experiência e prática. Então, fica a mensagem: ‘Vão pra rua!’”

Convite feito e, pelo que se pode ver em cidades ao redor do mundo, mais do que aceito pelas artistas.

Revista E Sesc São Paulo

Berço da arte de rua

Grafiterritórios ZN discute vertentes do feminismo na atualidade


Tradicional na unidade Santana, o projeto Grafiterritórios ZN tem como objetivo valorizar e afirmar a identidade da Zona Norte de São Paulo como berço de grandes nomes da arte de rua brasileira. “Muitos desses artistas já passaram pelo projeto, e outros tantos já estão na nossa fila para as próximas edições”, comenta Suelen Pessoa, técnica de programação de Artes Visuais. “Trabalhamos com dois muros: o do condomínio que fica bem ao lado da unidade (Rua Viri) e outro na região mais movimentada de Santana, próximo à estação de metrô/ônibus (atualmente o muro da escola CEI Adelaide Lopes Rodrigues, na Av. Cruzeiro do Sul).”

Suelen conta que o conteúdo de Grafiterritórios ZN está integrado à programação De|Generadas, que discute as diversas pautas e vertentes do feminismo na atualidade. Neste semestre haverá o início do projeto Escola e Artes, no qual duas escolas de ensino médio terão acompanhamento de arte-educadores para visitação às obras de arte instaladas na unidade. “Farão parte do projeto, além das obras do Acervo Sesc de Arte Brasileira instaladas em Santana, e do Recortes do Acervo, que traz peças de outras unidades para mostrar para nosso público, outros projetos fixos, como o Foyer das Artes (intervenções no espaço do foyer do teatro), o Vitrine (fotografias que ocupam a fachada da unidade) e o Grafiterritórios ZN”, destaca.

Veja a programação completa no portal Sesc São Paulo.