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Na contramão do estresse

Na contramão do estresse

Mudanças de hábitos mostram que é, sim, possível conquistar bem-estar e equilíbrio em grandes cidades


Com mais de 11 milhões de habitantes, 5 milhões de carros e no topo da lista de participação municipal no Produto Interno Bruto (PIB) do país, São Paulo é conhecida por ser um centro urbano em atividade constante, vertiginosa. Buscar uma vida mais equilibrada diante de tudo isso é desafiador, mas na contramão do estresse e do ritmo frenético surge um gradual movimento de pessoas buscando alternativas de vida saudável. Mudanças de hábitos alimentares, iniciativas de hortas comunitárias, procura por práticas esportivas e aumento do uso de transportes não motorizados são algumas das atitudes de quem tem procurado encontrar harmonia em meio ao caos.

A socióloga e bióloga especialista em educação ambiental Rita Mendonça acredita que essas mudanças decorrem de uma conscientização natural do processo de desenvolvimento da sociedade. “A gente costuma falar muito em desenvolvimento econômico, mas essa percepção sobre como o nosso corpo, a nossa mente e o planeta respondem às nossas escolhas também faz parte de um processo de desenvolvimento”, avalia. “Por exemplo, quando você come uma comida que não é saudável, pode até sentir prazer no paladar, mas depois tem um desprazer no metabolismo. Quando você come uma comida orgânica, existe um prazer no paladar, mas também existe um bem-estar maior quando a comida está sendo processada pelo corpo.” Essas são percepções sutis, e que tradicionalmente as pessoas não estão acostumadas a ter. “Percebo que há, hoje, um crescimento na quantidade de pessoas que pensam um pouco mais nesses aspectos”, completa.

Ter esse tipo de preocupação em um grande centro urbano exige força de vontade, já que a própria configuração urbana contribui para uma vida menos saudável. Segundo o professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Nelson Gouveia, além do estresse, que traz prejuízos do ponto de vista psíquico e emocional, há uma série de questões ambientais, como a poluição do ar, que podem causar problemas respiratórios e cardiovasculares, entre outros. “Há ainda questões como a alimentação menos saudável, devido à correria do dia a dia. À medida que você procura mudar hábitos, como procurar alimentos in natura, praticar esportes e diminuir o uso de carro, tudo vai colaborando para a saúde.”


Qualidade de vida

Mas é possível alcançar de fato uma vida equilibrada mesmo em um ambiente caótico como o de uma grande cidade? Na opinião do professor do Centro de Práticas Esportivas da USP e coordenador do Instituto de Ensino e Pesquisa em Yoga (IEPY) Marcos Rojo, sim: “A qualidade de vida depende muito mais de como vivemos do que de onde vivemos. Dar qualidade às nossas vidas significa incluir um pouco mais de sentido ao que fazemos e diminuir a distância entre o dia a dia e os momentos especiais em que nos envolvemos com as questões do nosso corpo e mente”, aponta. “Por exemplo, não temos que pensar que só vamos relaxar quando sairmos do trabalho estafante e chegarmos na academia de yoga, temos que tentar relaxar no trabalho. Não é fácil, mas é possível.”

O yoga tem se tornado um dos exemplos da busca por equilíbrio, ressalta Marcos, mas pondera que a prática é apenas uma das opções. “Como o Hatha Yoga não exige nenhuma transformação radical no estilo de vida, é adequado para quem vive em centros urbanos. Contudo, é apenas uma estratégia para aqueles que querem se tornar um pouco mais humanos. É preciso pensar não apenas na hora que passamos no tapetinho de yoga, mas também em como vivemos as outras 23 horas do dia”, acrescenta.
 

Alimentação saudável

Outro dos pontos-chave da busca pelo bem-estar é a alimentação. A nutricionista e doutoranda em Nutrição e Saúde Pública pela USP Camila Borges observa que em grandes centros urbanos como São Paulo alguns movimentos vêm surgindo na tentativa de dar espaço para os alimentos in natura, como frutas, hortaliças, cereais e grãos. Como exemplo, ela cita a compra de até 30% de alimentos que sejam orgânicos e provenientes da agricultura familiar para abastecer as escolas municipais da cidade, as feiras livres de produtores orgânicos e as hortas cultivadas em espaços públicos. “Todas essas iniciativas contribuem para uma alimentação mais saudável e também sustentável do ponto de vista econômico e ambiental”, afirma. “Com o maior acesso à informação, as pessoas estão se preocupando com sua alimentação e os profissionais de saúde também estão se dando conta de que uma alimentação mais saudável não precisa ser complicada nem de alto preço.”

Apesar disso, Camila chama a atenção para o fato de que a alimentação urbana do brasileiro ainda tem muito a melhorar. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2013 revelou que 57,3% dos homens e 59,8% das mulheres estão com excesso de peso. “A maior preocupação com a alimentação é um fator positivo porque, além de contribuir para a mudança desse quadro, agrega outros questionamentos que antes a população, em geral, não tinha, como saber de onde vem o alimento, se é de produção sustentável, se polui o meio ambiente, se gera muitos resíduos, se utiliza matéria-prima animal ou vegetal, se é de produção local e se fomenta a economia da própria cidade, entre outros”, exemplifica. “Quando o consumidor passa a analisar seu hábito alimentar criticamente, passa a exigir mudanças no processo de produção para que se possam produzir mais alimentos saudáveis e mais disponíveis para todas as classes sociais.”

Esse ciclo de mudanças reforça a relação entre o bem-estar individual e coletivo que há nas cidades, garante Rita Mendonça. Para a especialista, as motivações de quem busca hábitos mais equilibrados, em geral, partem do desejo de ter qualidade de vida individual, mas acabam se refletindo de forma ampliada no restante da população. “O individual e o coletivo estão unidos. Se a gente come muitos aditivos químicos, eles vão se acumulando em nosso corpo da mesma forma que as embalagens que utilizamos se acumulam no meio ambiente”, compara. “Quando começamos a nos preocupar com uma coisa, logo acabamos também nos preocupando com a outra. É um processo de refinar escolhas.”


Revista E Sesc São Paulo

 

Mudanças no prato

Procura por alimentos mais saudáveis é um dos reflexos da busca por qualidade de vida


Números

Segundo pesquisa da Proteste Associação de Consumidores feita no ano passado com 760 participantes para avaliar hábitos de consumo de alimentos, 48% dos brasileiros comeram menos proteína animal durante o ano anterior, 24% afirmou que pelo menos uma vez por semana não come carne e 51% reduziu a compra de doces e sobremesas.

Dados do Vigitel 2013 (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico), no qual foram realizadas 2 mil entrevistas em cada capital brasileira, indicaram que houve aumento nos índices de atividade física e consumo recomendado de frutas e hortaliças. Atualmente, 19,3% dos homens e 27,3% das mulheres comem cinco porções por dia de frutas e hortaliças, quantidade indicada pela Organização Mundial de Saúde. A frequência de atividade física em tempo livre aumentou de 30,3% para 33,8% nos últimos cinco anos.


Feiras de orgânicos

A capital paulista possui, hoje, mais de 20 feiras livres com produtos orgânicos. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor mantém um mapa com as informações sobre as feiras: feirasorganicas.idec.org.br


Hortas urbanas

Segundo o grupo Hortelões Urbanos, que mapeia e reúne no Facebook (facebook.com/groups/horteloes) mais de 29 mil pessoas interessadas em formar hortas comunitárias, há mais de 30 iniciativas de hortas urbanas na capital paulista. Entre os exemplos, está a horta coletiva na Praça dos Ciclistas, na Avenida Paulista, onde ocorrem mutirões para cuidar do espaço todo primeiro domingo do mês. Outro exemplo é a Horta da Coruja, localizada na Praça das Corujas, no bairro Vila Beatriz.

 

Corpo e mente

Atividades de yoga e alimentação saudável nas unidades valorizam escolhas conscientes
 

Yoga | Diversas Unidades

Diversas unidades do Sesc no estado, como Araraquara, Belenzinho, Carmo, Catanduva Consolação, Osasco, Piracicaba, Pompeia, Rio Preto, São José dos Campos, Santo André, Santos e Vila Mariana oferecem aulas regulares e abertas da prática do yoga, que tem como base exercícios de respiração e posturas, mesclando tonicidade e relaxamento aliado à meditação.

Confira no portal Sesc São Paulo.
 

Viver Saudável | Sesc Carmo - 10 de março, às 18h30

Bate-papo sobre as escolhas alimentares que fazemos no dia a dia, apresentando a visão sobre os alimentos trazida pela nova edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, publicação lançada pelo Ministério da Saúde em 2014.
 

Agricultura Familiar | Sesc São Caetano - 16 de março, às 19h30

Bate-papo sobre a agricultura familiar, responsável por cerca de 70% dos alimentos consumidos, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Após bate-papo, haverá uma demonstração de preparo de uma salada feita com produtos alimentícios não convencionais.

Confira no portal Sesc São Paulo.


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