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As Descobertas da Primeira Gravidez

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

Para as mães de primeira viagem compartilharem suas experiências sobre a gravidez - contando como reagiram às mudanças em seu corpo, seus anseios, medos, dúvidas e como lidam com essa nova responsabilidade - o Sesc Itaquera realiza o bate-papo Ser Mãe e Mulher - As Descobertas da Primeira Gravidez com a Drª Daphne Rattner no dia 12 de março, sábado, às 11h. 

Médica epidemiologista, professora da Universidade de Brasília e presidente da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento - ReHuNa, a Dra. Daphne conversou com a gente sobre alguns dos temas que serão abordados no encontro.
 

EOnline: O que é o ReHuNa e qual sua atuação no Brasil?

Daphne Rattner: A ReHuNa – Rede pela Humanização do Parto e Nascimento é uma ONG fundada em 1993 por pessoas de várias profissões que juntaram suas críticas e indignações sobre a forma como vinha sendo prestada a assistência à gestação, ao parto e ao nascimento e, a partir daí, começaram a trabalhar juntas para modificar a situação. Foi um encontro em que aconteceu uma comunhão entre essas pessoas, algo muito forte. Desde então, a ReHuNa vem trabalhando para mudar esse quadro, buscando influenciar as políticas públicas de saúde e o ensino das profissões de saúde, assim como conscientizar a população em geral, principalmente as mulheres, de como poderia e deveria ser essa assistência. Hoje em dia, mais de vinte anos depois, a ReHuNa é reconhecida parceira do Ministério da Saúde e de vários organismos internacionais, como a OPAS - Organização Pan-americana de Saúde, o Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância e UNFPA – Fundo das Nações Unidas para a População, além de ser referência no país e no exterior para a humanização do parto e nascimento.

 

EO: Quais as principais dúvidas e preocupações das mulheres durante a primeira gestação?

DR.: Em cada fase da gestação há outras preocupações. No início, como tudo é novo, há muita curiosidade sobre tudo, sobre as modificações do corpo e sobre essa aventura que é gerar e trazer outra pessoinha ao mundo. Nesse princípio, também, muitas mulheres sentem um grande desconforto, que em geral não vai além do primeiro trimestre. À medida em que ela se acostuma com o corpo e com as mudanças, vão surgindo outras curiosidades – e são muitas. O importante é que ela encontre profissionais, ou grupos de gestantes, que possam acompanhá-la esclarecendo suas dúvidas, lhe permitindo vivenciar essa maravilhosa experiência de uma maneira gratificante.

 

EO: Quais as possibilidades de parto no Brasil hoje? Como você avalia o acesso a essas informações pelas gestantes?

DR.: As possibilidades de parto são muito diferentes, dependendo da região do país e do fato de gestante ter, ou não, um plano de saúde.

Quem tem plano de saúde, quase com certeza, será submetida a uma cirurgia cesariana para ter sua criança: as taxas de cesárea na Saúde Suplementar oscilam entre 85 e 90%. As mulheres com planos de saúde que desejam ter um parto normal precisam pagar, por fora, um médico ou uma enfermeira obstétrica ou uma obstetriz para conseguir realizar esse desejo. Hoje em dia, muitas mulheres, desejando fugir de uma cirurgia desnecessária (e que não é isenta de riscos), tem procurado outras possibilidades, de forma a fazer com que a experiência de nascimento seja mais gratificante, com menos sofrimento e mais apoio. Também há mais cesarianas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Nos países desenvolvidos há um outro modelo de assistência ao parto, que não é centrado no médico, e sim, no bem-estar da mulher e no processo fisiológico, do corpo, para parir. Com esse modelo, há muito menos intervenções (cesáreas, fórceps, episiotomias, que é o corte em baixo, uso de medicamentos) e se estimula a competência da mulher para parir, auxiliada por uma enfermeira obstetra ou obstetriz. A mulher também pode contar com uma doula, que é uma mulher que fica a seu lado, fortalecendo-a na sua competência e mostrando algumas formas não medicamentosas para lidar com a dor.

Como gravidez não é doença e parto não é cirurgia, o Ministério da Saúde vem buscando implantar esse modelo, criando espaços não hospitalares para a assistência ao parto, como centros de parto normal ou casas de parto, com enfermeiras atendendo partos normais sem problemas na gestação. Os médicos ficam na retaguarda, caso surja algum problema. O Ministério da Saúde também está implantando o programa Doulas no SUS, para que as mulheres possam ter esse apoio que faz muita diferença na hora do parto. Com esse parto normal e humanizado, centrado no bem-estar da mulher, com o apoio da doula, as mulheres relatam que a experiência de parir foi muito mais satisfatória – e além disso, a mulher recebeu menos intervenções. Em São Paulo há alguns centros de parto normal que oferecem atendimento humanizado, em Sapopemba, na comunidade Monte Azul (Casa Ângela), no Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, no Hospital de São Mateus, e outros.

 

EO: Como é feita a escolha do tipo de parto pela gestante? Quais são os critérios geralmente utilizados pelas mulheres?

DR.: Nem sempre as mulheres conseguem escolher o parto que desejam. Há trabalhos científicos mostrando que, entre as mulheres que têm planos de saúde, no início da gestação, 70% delas desejam ter um parto normal e apenas 30% desejam cesáreas. No final da gestação, há uma inversão e 30% apenas desejam o parto normal. E quando chega a hora de parir, apenas 15% de todas as mulheres conseguem ter um parto normal. Então, não se pode dizer que a mulhere, mesmo tendo planos de saúde, seja quem escolhe como o parto vai acontecer. E essa escolha é muito influenciada pela opinião de outras pessoas. Por isso, é muito importante a mulher procurar se informar, desde o início da gravidez, para poder fazer escolhas muito bem informadas sobre o que é melhor para ela e seu bebê.

 

EO: Qual a importância do acolhimento da gestante pela família e profissionais da saúde durante o período de gestação e nascimento do bebê?

DR.: A gestação é um período que traz muitas mudanças para a vida da mulher e do casal, não só em termos do corpo, mas também nas emoções e pensamentos. A mulher se prepara para ser mãe, o homem para ser pai – e com a chegada da criança, está em gestação uma família que vai se ampliar.

É um processo muito delicado e que necessita de muito carinho e cuidado. Conheço pessoas que, assim que encontram uma gestante, começam a contar histórias escabrosas de algo que não deu certo na gravidez de uma tia, ou prima, ou outra parente – sem considerar que essa mulher gestante ficou muito impressionável e na verdade precisa de informações de que tudo vai bem e vai dar certo – e, na maioria das vezes, entre 80 a 90%, é isso mesmo o que acontece.

Então, é preciso acolher a gestante e sua gestação, fortalecer a mulher em sua competência – toda mulher é muito competente para gestar e parir! Deixar que a gravidez evolua em seu próprio ritmo, sem querer apressar nada. Se a mulher precisar dormir um pouco mais, se quiser comer um pouco mais... é preciso acolher esse processo, pois são muitas as transformações e é isso mesmo o que o corpo dela está pedindo. Nem tudo são flores...  mas certamente é preciso deixar a mulher-mãe desabrochar...

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Drª Daphne Rattner é Presidente da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento- ReHuNa, Doutora em Epidemiologia - University of North Carolina (2001). Trabalhou como Técnica Especializada na Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde de 2004 a 2009. Atualmente é Professora Adjunta na Disciplina de Epidemiologia, no Departamento de Saúde Coletiva, Faculdade de Ciências da Saúde, na Universidade de Brasília.

 

Primeira infância

Em março, o Sesc Itaquera também preparou uma programação especial para abordar o tema da Primeira Infância. Clique nas imagens para saber mais.
 

Pequenos Gestos

Encontros, vivências, oficinas e intervenções artísticas voltadas para a primeira infância.

 

Trocando Figurinhas

Série de ações que ampliam o repertório dos profissionais de educação em suas variadas linguagens.

 

o que: Ser Mãe e Mulher - As Descobertas da Primeira Gravidez
quando:

12 de março, às 11h

onde:

Sesc Itaquera | Avenida Fernando Espírito Santo Alves de Mattos, 1000
Tel: 11 2523 9200

ingressos:

Grátis.