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Um jazz à brasileira
Jornalista e professora por formação, a vocação de Babi Mendes não está voltada apenas às notícias e literatura, mas sim à música. Cantora e compositora, a santista possui um repertório autoral e traz ao palco uma performance com influências de jazz, R&B e blues, aprimorada por aulas de canto lírico e de teatro musical.
Indicada ao Prêmio da Música Brasileira em 2012, Mendes sonha em levar seu trabalho para fora do país e construir uma carreira internacional. Em entrevista para a EOnline, a artista contou sobre o início da sua carreira e como vê o jazz no cenário atual da música brasileira.
EOnline: Qual foi o despertar da sua carreira musical? Por que optou pelo jazz e pela língua estrangeira enquanto artista?
Babi Mendes: Na verdade, foi algo bem natural. Meus pais ouviam muita música em casa, no carro e normalmente esse som eram os crooners e as grandes divas do jazz. Aquela música sempre me tocou muito e aos nove anos eu pedi para estudar inglês. Queria entender o que as pessoas estavam cantando já que, de alguma maneira, aquelas músicas eram muito curiosas para mim. Daí, quando comecei a cantar, aos 14, o jazz já era o estilo que mais me interessava. Quando comecei a escrever música, aos 17, 18 anos, foi bem natural assumir que era isso o que eu queria escrever e cantar.
EOnline: Além de cantora, você é jornalista, professora de inglês e português. Essas aptidões ajudaram na hora de compor canções? O que mais te inspira?
Babi Mendes: Com certeza. Para mim, está tudo integrado. O jazz me levou a entender o inglês e vice versa. O jornalismo entra na questão da narrativa, do storytelling, super presente nas canções de jazz e muito importante na hora de interpretar uma música. O dia-a-dia costuma me inspirar muito. Pessoas. Histórias. Memórias. E cada música surge de uma maneira. Às vezes, uma ideia melódica; às vezes, um pedaço da letra ou uma ideia central. Hoje em dia, tenho escrito muitas coisas com o Luiz, meu marido, que parece entender direitinho o que eu quero quando tenho a letra pronta e somente uma ideia da harmonia.
EOnline: O que a cidade de Santos acrescentou em sua bagagem musical?
Babi Mendes: Santos é cheia de música e, consequentemente, de músicos! Desde pequena vi grandes shows ao vivo, música em todos os cantos, bares, teatros, shows ao ar livre. Grandes amigos músicos são santistas e até hoje cantar na cidade é muito especial. Tive a honra de cantar com a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos para um concerto como cantora convidada e foi um dos momentos mais especiais da minha carreira. Em Santos, no Teatro Coliseu, com família e amigos presentes. Foi mágico!
EOnline: Qual a essência do álbum Short Stories? Como se deu a sua concepção?
Babi Mendes: Short Stories foi o começo de tudo e é ainda hoje o que conduz grande parte do meu trabalho. É um disco autoral de 10 faixas no Brasil e 11 na versão que foi lançada no Japão. Ele também é distribuído na Europa e nos Estados Unidos. Além de lojas digitais e canais de streaming. Todas as canções são minhas, em inglês, e flertam com o Jazz, Blues e também com a Bossa Nova. Foi gravado em Santos e produzido pelo Flávio Medeiros. O disco, na verdade, era pra ter sido um cartão de visitas. Meu primeiro trabalho como cantora e compositora. Mal sabia que ele, sozinho, voaria tão longe.
EOnline: Qual o enredo central das composições do álbum Short Stories?
Babi Mendes: O disco é autobiográfico. Todas as faixas contam histórias sobre partes da minha vida. São músicas que escrevi de 2003 a 2010 e fui guardando na gaveta. Vários músicos colaboraram nos arranjos e o time de primeira conta com Thiago Espírito Santo (baixo), Flávio Medeiros (produção e piano), Mauro Hector (guitarra), Maurício Fernandes (sax tenor, barítono, alto e soprano), Wagner Mingotti (bateria) e os músicos Tiquinho e Reginaldo, do Funk como Le Gusta, fizeram uma participação super especial em duas faixas.
EOnline: Como foi a experiência de ser indicada ao Prêmio da Música Brasileira em 2012?
Babi Mendes: Foi sensacional. Não imaginei que um disco de jazz vocal autoral e independente pudesse chegar tão longe. Somente para ser indicado, era necessário passar por uma peneira de mais de 400 discos. A cerimônia foi no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Não me lembro ao certo quem concorreu, mas conheci o vencedor desta categoria ‘Melhor Álbum em Língua Estrangeira’, o violonista Carlos Badia, pela banda Delicatessen. Até trabalhamos juntos depois.
EOnline: Em 2013 você fez uma parceria com o trombonista norte-americano Stafford Hunter. Como foi a experiência?
Babi Mendes: Conheci o Stafford em Nova York em uma apresentação dele em um bar. Trocamos contatos e acabamos trazendo-o para o Brasil para duas apresentações em São Paulo e duas no Rio de Janeiro. Foi muito interessante ver a combinação de músicos brasileiros com um músico de fora. Foi bem intenso.
EOnline: Você já esteve fora do país para estudar música?
Babi Mendes: Sim, em 2009, 2012 e 2013. Tive aulas de canto com Tituss Burgess, cantor e ator da Broadway, com foco em Teatro Musical e depois, 2012 e 2013, com Marion Cowings, grande cantor e professor de Jazz em Nova Iorque. Os dois me ensinaram muito.
EOnline: Quais são suas maiores influências musicais?
Babi Mendes: Minhas influências são tantas que acho que não conseguiria listar aqui. Mas Louis Armstrong e Ella Fitzgerald sempre estarão no topo da lista. Sarah Vaughan, Nina Simone, Etta James, Billie Holiday, o trio Lambert, Hendricks and Ross. Dos instrumentistas eu posso citar John Coltrane, Sonny Rollins, Charlie Parker, Thelonious Monk e Miles Davis. Dos músicos hoje em dia, Wynton Marsalis e a Jazz at Lincoln Center, Gregory Porter, Cecile McLorin Salvant, Snarky Puppy, Jane Monheit, Christian McBride Trio, Peter Eldridge e The New York Voices. Também tem os brasileiros Romero Lubambo, Luciana Souza. A lista é enorme.
EOnline: Pretende seguir uma carreira internacional ou no Brasil é possível se dedicar apenas ao jazz?
Babi Mendes: É o que venho fazendo. Me dedico exclusivamente ao Jazz no Brasil. Claro que já aceitei trabalhos pontuais fora do gênero. Ano passado, por exemplo, o duo Choro de Bolso me convidou para um show tributo ao Clube da Esquina. É claro que aceitei! Foi uma grande oportunidade de sair um pouco do que estou acostumada a fazer. E como o jazz é um gênero apreciado no mundo todo, também facilita levar o meu trabalho original para fora.
EOnline: Podemos dizer que o jazz está mais difundido no Brasil?
Babi Mendes: Acredito que sim. Hoje em dia são muitos os festivais e eventos de Jazz. Recomendo alguns trabalhos como o Trio Corrente, Dani e Debora Gurgel 4teto (DDG4), Banda Mantiqueira e o grande Nailor Proveta. O Trio Corá também é uma grande promessa da música instrumental. Sou suspeita, pois dois dos integrantes fazem parte do trio que me acompanha, o Glécio Nascimento no baixo e o Saulo Martins, piano.
Pela primeira vez em Araçatuba (saiba mais aqui), Babi apresentará músicas do disco Short Stories e uma seleção de clássicos do Jazz “com uma ou outra surpresinha”. A cantora será acompanhada por Glécio Nascimento (baixo), Saulo Martins (piano) e Rafael Lourenço (bateria). O show acontecerá na primeira sexta-feira de março, dia 4, no Teatro Castro Alves, em Araçatuba.