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Ao Interior
Cidades de fora da Grande São Paulo são ¿cada vez mais valorizadas no cenário cultural do estado
Por muito tempo, a capital concentrou a maior parte do lazer e da vida cultural paulista. Era comum que moradores do interior se deslocassem à região metropolitana de São Paulo para ter acesso a shows, espetáculos e exposições. Hoje, esse cenário está em plena transformação: com a criação de novos centros culturais, museus e eventos nas últimas décadas, o interior passa a ser valorizado como peça importante para a cultura do estado.
Cidades como Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba, Piracicaba e Jundiaí concentram importantes polos econômicos, universidades e agrupamentos populacionais que contribuem para criar um público sedento por cultura. “A força econômica e a capacidade de crescimento do interior do estado de São Paulo é incontestável. Uma das ações que desenvolvemos com bastante êxito no interior do estado é o Circuito Sesc de Artes, que tem início neste mês de abril [este ano o Circuito acontece de 24/04 a 10/05] em 108 cidades do interior, do litoral e da Grande São Paulo, e que envolve prioritariamente municípios em que o Sesc não tem unidades”, comenta o diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda.
Uma das razões para a descentralização cultural da capital para o interior, segundo o economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Gonzaga Belluzzo, é o fato de que muitas cidades viram aflorar uma classe média ¿interessada em bens culturais. “Essa demanda nasce por uma interação entre esse fenômeno econômico e a urbanização. Quando cheguei a Campinas, há 40 anos, por exemplo, a cidade tinha menos de 500 mil habitantes. Hoje, tem mais de 1 milhão”, lembra. “O fato de haver uma concentração muito grande de pessoas em instituições de ensino superior é outro fator importante. Você diversifica as visões do mundo e desenvolve certo anseio por bens culturais mais, digamos, elaborados.”
Divulgada no ano passado, a pesquisa Cultura em SP – Hábitos Culturais dos Paulistas foi feita com base em quase 8 mil entrevistas em 21 cidades com mais de 100 mil habitantes e mostrou que há potencial de crescimento cultural nesses locais. Os números revelam, por exemplo, que Botucatu é a cidade do interior com maior frequência a shows de música (59%, contra média de 46%) e que São José do Rio Preto registra as maiores participações em circo e teatro no estado (32%).
O economista e diretor da empresa responsável pela pesquisa, João Leiva Filho, explica que o trabalho tratou não apenas da prática de atividades culturais, mas também do interesse por essas atividades. “A gente percebe um grande percentual de pessoas que dizem ter interesse, mas que não praticam por questões de renda, falta de tempo, entre outros motivos. Isso mostra um potencial de crescimento”, afirma. Para João, o cenário cultural dessas cidades desenvolveu-se motivado pela melhoria na distribuição de renda, no padrão educacional e no acesso à tecnologia. “A pesquisa mostrou também que existem muitas microrregiões com cidades grandes relativamente próximas, o que estimula certa mobilidade motivada pela cultura. Muitas pessoas saem de suas cidades para usufruir de atividades culturais nas proximidades”, completa.
Nova dinâmica
Entre os espaços criados nos últimos anos para suprir essa demanda estão a CPFL Cultura, em Campinas, o Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto, o Parque da Autonomia, em Votorantim, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) e o Sesc em Sorocaba. Outras instituições, como o Fórum das Artes em Botucatu, onde será sediada a primeira unidade da Pinacoteca no interior do estado, têm inauguração prevista para este ano. Além disso, eventos como a Bienal Naïfs do Brasil, em Piracicaba, e a Frestas – Trienal de Artes, em Sorocaba, também demonstram as mudanças na vida cultural interiorana.
O diretor artístico do MAC Sorocaba e ex-conservador-chefe do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Fábio Magalhães, observa há cerca de dez anos iniciativas públicas e privadas de desenvolvimento cultural fora da capital, mas aponta que ainda há setores a serem explorados: “Isso é uma dinâmica nova no interior de São Paulo. Essas cidades, até pouco tempo atrás, não tinham quase nenhum equipamento cultural e hoje isso está mudando, mas há ainda áreas que poderiam crescer, como as produções próprias em música erudita, dança, teatro”.
O gestor cultural e diretor da CPFL Cultura, Mário Mazzilli, concorda em que a descentralização cultural tem sido positiva, mas tem muito a avançar. “Existe um espaço imenso para grandes empresas se organizarem e ampliarem a oferta de bens e serviços culturais no interior”, avalia. “É preciso uma combinação entre empresas e o poder local, já que a cultura é uma forma muito qualificada de atender ao público, qualificar e dar consistência a diversos programas que podem ser desenvolvidos em áreas como a educação, por exemplo.”
BOXE - Circuito em
crescimento
Centros culturais, museus, instituições e eventos que agitam o estado de São Paulo
¿Frestas - Trienal de Artes (Sorocaba)
O projeto transdisciplinar teve sua primeira edição em 2014 no Sesc Sorocaba e tem como foco as artes visuais. Além de duas exposições finalizadas em fevereiro, uma programação com exposição, simpósio e ateliê aberto continua até maio.
¿Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba
Com foco na arte contemporânea brasileira, entrará em pleno funcionamento neste ano. Até lá, realiza exposições, cursos e oficinas.
¿Salão Internacional de Humor (Piracicaba)
O festival de humor gráfico ocorre desde 1974 e é considerado o maior do mundo no gênero, reunindo exposições de cartuns, charges, caricaturas e tiras.
¿Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto)
Exibe a coleção Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz, além de ter exposições temporárias, cursos e palestras.
¿CPFL Cultura (Campinas)
Criada em 2003, realiza o Café Filosófico e atividades gratuitas de cinema, teatro infantil, apresentações musicais, debates e exposições.
¿Parque da Autonomia (Votorantim)
Inaugurado neste ano, o espaço no Parque Ecológico do Matão oferece cursos gratuitos de dança, canto, violão e idiomas.
BOXE - Jundiaí ganha unidade do Sesc
O Sesc São Paulo inaugura este mês mais uma unidade no interior do estado. Com mais de 30 mil metros quadrados de área construída, o espaço encontra-se no centro cívico de Jundiaí, junto ao vale do rio Jundiaí, do Jardim Botânico e aos pés da colina onde está o edifício do Paço Municipal.
A 57 km da capital paulista, Jundiaí possui 397 mil habitantes e é uma das 30 cidades brasileiras que mais contribuem para o Produto Interno Bruno (PIB) do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A inauguração do Sesc Jundiaí, a 36ª unidade no estado de São Paulo, consolida o compromisso da instituição em promover o bem estar social e a qualidade de vida para os trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo, prioritariamente, e da comunidade como um todo. Trata-se de um espaço de vivência da pluralidade de linguagens e da diversidade de atividades, sempre numa perspectiva de ação educativa”, afirma o diretor regional do Sesc SP, Danilo Miranda.
Para o secretário de cultura de Jundiaí, Tércio Marinho, a inauguração representa um ganho para a cidade: “Temos grandes expectativas com a chegada dessa unidade do Sesc, pois o consideramos um parceiro comprometido com a propagação das ideias e sonhos, valores esses que contribuirão decisivamente com o desenvolvimento econômico e social de Jundiaí e região”.
O gerente do Sesc Jundiaí, José Roberto Ramos, destaca que o Sesc será inaugurado com uma programação já bastante abrangente. “Os programas institucionais da área físico-esportiva, artística, socioeducativa, terceira idade e demais estarão presentes desde o início do funcionamento da unidade”, explica.
Leveza e sustentabilidade
O projeto arquitetônico da unidade Jundiaí é assinado pelas arquitetas Christina de Castro Mello e Rita Vaz, da Teuba Arquitetura e Urbanismo. Com cinco pavimentos, a estrutura conta com auditório, ginásio de esportes, biblioteca, odontologia, comedoria, oficina, sala multiuso, quadra poliesportiva, campo de futebol, salas de ginástica, paraciclo, ¿estacionamento e um conjunto aquático de 2 mil metros quadrados.
O projeto traz características que marcaram a arquitetura moderna brasileira, como a transparência e fluidez dos espaços. Sustentável e com acessibilidade universal, conta com sistemas de aproveitamento de água da chuva, placas de captação solar para aquecimento de água, fachadas envidraçadas que valorizam a iluminação natural e soluções de ventilação natural.
Além disso, buscou-se integrar a construção à paisagem ao redor. “Levamos em conta como a edificação seria vista e como ela olharia para a cidade, conversando com o entorno”, explica Christina. Isso norteou a criação de espaços como o terraço-jardim na cobertura, que se debruça sobre o Jardim Botânico, com vista para a cidade e a Serra do Japi.